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No final do encontro realizado na capital fluminense, Lula passou oficialmente a presidência do G20 ao presidente da África do Sul, Ramaphosa Cyril. (Foto: Ricardo Stuckert / Secom-PR)

“Vamos seguir construindo um mundo justo e um planeta sustentável”, afirma Lula no encerramento do G20

O presidente brasileiro propôs ainda no término do encontro de cúpula dos 20 países mais ricos do planeta, a criação do Conselho de Mudança do Clima nas Nações Unidas: “Não há mais tempo a perder”.

 

Por Humberto Azevedo

 

No final do encontro de cúpula das maiores economias do planeta (G20), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou para todos possam “seguir construindo um mundo justo e um planeta sustentável”. O Brasil foi sede do encontro que reuniu quase todos os chefe de Estados e de governos do G20, e também de outras economias do planeta que vieram ao Brasil para realizar reuniões bilaterais.

 

Na ocasião, o presidente brasileiro propôs ainda a criação do Conselho de Mudança do Clima nas Nações Unidas (ONU): “Não há mais tempo a perder”. A cúpula dos líderes do G20 foi realizada entre ontem, segunda-feira, 18 de novembro, e hoje, terça-feira, 19 de novembro, na cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro (RJ), quando Lula passou simbolicamente a presidência do bloco econômico para o presidente da África do Sul, Ramaphosa Cyril.

 

Integram o G20 África do Sul, Alemanha, Arábia Saudita, Argentina, Austrália, Brasil, Canadá, China, Coreia do Sul, Estados Unidos, França, Índia, Indonésia, Itália, Japão, México, Reino Unido, Rússia e Turquia. O bloco agrega dois terços da população mundial, cerca de 85% do PIB global e 75% do comércio internacional. Este ano, a cúpula realizada no Brasil contou com a participação de delegações da União Europeia e da União Africana de Nações. 

 

Em seu discurso, Lula fez um balanço dos avanços alcançados nos últimos meses, com mais de 140 reuniões em 15 cidades brasileiras, nas reuniões preparatórias do encontro de cúpula. O presidente brasileiro enfatizou o legado deixado pela liderança brasileira no G20 e apontou para os múltiplos desafios à frente como o tema que versa sobre o desenvolvimento sustentável e transição energética.

 

De acordo com Lula, a criação do Conselho de Mudança do Clima nas Nações Unidas terá como principal objetivo promover a ampliação da capacidade de articulação da ONU em nível global e, com isso, acelerar a implantação das medidas acordadas nos fóruns internacionais relativos ao combate às mudanças climáticas.

 

A transição energética e o combate à mudança do clima são um dos três pilares principais da presidência brasileira no G20, ao lado da Aliança Global Contra a Fome e a Pobreza e as discussões em torno de uma nova governança global, capaz de promover mais representatividade nas instituições internacionais como um caminho para a estabilidade mundial. Os três temas foram incorporados à declaração final da cúpula do G20 publicada na noite desta última segunda-feira, 18.

 

“Lançamos uma Aliança Global contra a Fome e a Pobreza e iniciamos um debate inédito sobre a taxação de super-ricos. Colocamos a mudança do clima na agenda dos Ministérios de Finanças e Bancos Centrais e aprovamos o primeiro documento multilateral sobre bioeconomia. Fizemos um Chamado à Ação por reformas que tornem a governança global mais efetiva e representativa e dialogamos com a sociedade por meio do G20 Social”, elencou Lula, ao apresentar algumas das prioridades da presidência brasileira do G20. Muitas delas foram consolidadas na Declaração Final do G20, publicada em consenso dos líderes na noite de segunda-feira. ”Trabalhamos com afinco, mesmo cientes de que apenas arranhamos a superfície dos profundos desafios que o mundo tem a enfrentar”, afirmou o presidente brasileiro.

 

“Precisamos de uma governança climática mais forte. Não faz sentido negociar novos compromissos se não temos um mecanismo eficaz para acelerar a implementação do Acordo de Paris. O Brasil convida a comunidade internacional a considerar a criação de um Conselho de Mudança do Clima na ONU, que articule diferentes atores, processos e mecanismos que hoje se encontram fragmentados”, completou o presidente brasileiro.

 

ACORDO DE PARIS

 

Em seu discurso, Lula lembrou aos líderes das principais economias do planeta, além dos representantes das nações convidadas, o caráter de urgência relativo às questões climáticas. Ele recordou que muito do que foi acordado em importantes fóruns internacionais não resultou em ações concretas.

 

“Foi no Rio de Janeiro que nasceram as três Convenções-Quadro da ONU sobre Mudança do Clima, Biodiversidade e Desertificação. Poucos de nós imaginavam que, três décadas depois, estaríamos vivendo o ano mais quente da história, com enchentes, incêndios, secas e furacões cada vez mais intensos e frequentes. Não há mais tempo a perder. Os esforços empreendidos desde então contribuíram para evitar um cenário pior. Mas temos que fazer mais e melhor”, alertou Lula.

 

“O Protocolo de Quioto se tornou referência de frustração na ação coletiva. A COP15, em Copenhague, foi um trauma que quase descarrilhou o regime climático. O Acordo de Paris está chegando a Belém com dez anos e seus resultados ainda estão muito aquém do necessário”, recordou o anfitrião do G20.

 

1,5º

 

Diante de uma realidade em que o planeta bate recordes de aquecimento a cada ano, Lula frisou que é preciso que todos os países elevem suas pretensões nas Contribuições Nacionalmente Determinadas, as chamadas NDCs, de modo a ter sucesso na missão de limitar o aumento da temperatura global em 1,5 grau em relação aos níveis pré-industriais, que é considerado como situação limite e de não retorno, que de acordo com vários cientistas levaria a extinção da vida humana e de outras espécimes.

 

“O G20 é responsável por 80% das emissões de gases do efeito estufa. Por reconhecer o papel crucial do G20, a presidência brasileira lançou a Força-Tarefa para a Mobilização Global contra a Mudança do Clima. Reunimos, pela primeira vez, ministros de Finanças, Meio Ambiente e Clima, Relações Exteriores e presidentes de Bancos Centrais para discutir como enfrentar o desafio climático. Agora, ao lado do secretário-geral António Guterres, peço o engajamento do G20 na Mobilização Global Conjunta Brasil-ONU para elevar o nível de ambição da próxima rodada de Contribuições Nacionalmente Determinadas. É fundamental que as novas NDCs estejam alinhadas à meta de limitar o aumento da temperatura global a um grau e meio”, alertou o líder brasileiro.

 

NEUTRALIDADE CLIMÁTICA

 

O presidente do Brasil também conclamou as lideranças internacionais a antecipar as metas de suas NDCs de modo a neutralizar ao máximo a emissão de gases do efeito estufa.

 

“Aos membros desenvolvidos do G20, proponho que antecipem suas metas de neutralidade climática de 2050 para 2040 ou até 2045. Sem assumir suas responsabilidades históricas, as nações ricas não terão credibilidade para exigir ambição dos demais. Aos países em desenvolvimento, faço um chamado para que suas NDCs cubram toda a economia e todos os gases de efeito estufa. É essencial que considerem adotar metas absolutas de redução de emissões”, declarou Lula.

 

META DO BRASIL

 

Aos líderes do G20, Lula também lembrou que o Brasil se comprometeu, na Conferência das Nações Unidas Sobre Mudanças Climáticas deste ano, a COP29 de Baku – que se encerra dia 22 no Azerbaijão –, a reduzir suas emissões entre 59% e 67% até 2035.

 

“O Brasil apresentou em Baku sua nova NDC, que abrange todos os gases de efeito estufa e setores econômicos. Assumimos a meta absoluta ambiciosa para 2035 de reduzir emissões de 59% a 67%, comparado a 2005. Já temos uma das matrizes energéticas mais limpas do mundo, com 90% de eletricidade proveniente de fontes renováveis. Somos campeões em biocombustíveis, avançamos na geração eólica e solar e em hidrogênio verde. A maior parte da redução das nossas emissões virá da queda no desmatamento, que diminuiu 45% nos últimos dois anos. Não transigiremos com os ilícitos ambientais. O desmatamento será erradicado até 2030”, reafirmou.

 

FLORESTA AMAZÔNICA

 

O chefe de Estado do Brasil também destacou que, apesar dos esforços brasileiros, as ameaças à Floresta Amazônica continuarão a existir se as demais nações não atuarem no mesmo sentido no combate à mudança do clima.

 

“Mesmo que não derrubemos mais nenhuma árvore, a Amazônia continuará ameaçada se o resto do mundo não cumprir a missão de conter o aquecimento global. Esse esforço será inócuo se a comunidade internacional não se unir para fazer a sua parte”, complementou.

 

OCEANOS

 

Outro ponto de atenção ressaltado pelo presidente do Brasil diz respeito aos oceanos, que estão aquecendo em ritmo preocupante.

 

“Os oceanos são outro importante regulador climático e fonte potencial de soluções. Eles também devem ser objeto prioritário das nossas preocupações. Na luta pela sobrevivência, não há espaço para o negacionismo e a desinformação”, frisou Lula.

 

COP-30

 

Em 2025, o Brasil sediará, em Belém (PA), a 30ª edição da Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP-30). Para o presidente brasileiro, as decisões tomadas durante a COP-29 de Baku, no Cazaquistão, não podem ser adiadas para o ano que vem, devido à premência na adoção de medidas eficazes.

 

“Não podemos adiar para Belém a tarefa de Baku. A COP-30 será nossa última chance de evitar uma ruptura irreversível no sistema climático. Conto com todos para fazer de Belém a COP da virada”, finalizou.

 

Com informações de assessoria.

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