Substituição de Prates por Chambriard “parece trocar seis por meia dúzia”, afirma dirigente da Aepet
Presidente da Associação dos Engenheiros da Petrobrás, Felipe Coutinho, comentou que ex-presidente da estatal “deixa [a empresa] fiel e coerente com seu passado, infelizmente para o Brasil”; fontes petistas avaliaram que decisão de Lula deve ter causado imensa “dor pessoal” a Prates e que o “pecado” da saída de Prates “foi não antever” e se precaver em meio à guerra de interesses econômicos e políticos que cercam o maior empreendimento brasileiro.
Por Humberto Azevedo
O presidente da da Associação dos Engenheiros da Petrobrás (Aepet), Felipe Coutinho, afirmou na noite desta última quarta-feira, 15 de maio, por meio de uma nota à sociedade, que a substituição de Jean Paul Prates por Magda Chambriard “parece trocar seis por meia dúzia”.
O dirigente da Aepet comentou, ainda, que a saída do ex-presidente da estatal “deixa [a empresa] fiel e coerente com seu passado, infelizmente para o Brasil”. Segundo Coutinho, tanto o agora ex-presidente da companhia, quanto a futura presidenta da estatal, tem um histórico permissividade às pautas de interesse do mercado se esquecendo das diretrizes da empresa como pilar para o desenvolvimento econômico do país.
Fontes petistas ouvidas pela reportagem avaliaram que a decisão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva deve ter causado imensa “dor pessoal” a Prates e que o “pecado” dele que provocou sua saída da empresa petrolífera “foi não antever” e se precaver em meio à guerra de interesses econômicos e políticos que cercam a quarta maior empresa do mundo.
“Essa disputa com o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, com certeza foi crucial. Foram mais de três meses de embate até o momento que não deu mais”, comentou um parlamentar filiado ao PT.
O principal motivo do embate entre Prates e Silveira, antes da questão de reter a distribuição dos dividendos – tomada pelo conselho-diretor da empresa, para promover investimentos, foi a estratégia da estatal em planejar investimentos em possíveis campos petrolíferos na foz do rio Amazonas, no oceano Atlântico em águas próximas ao estado do Amapá.
Silveira, favorável a incursão, teria tido vários atritos então com Prates, que seria contrário a essa ideia, que causa pesadelos em ambientalistas.
FATOR HADDAD
A decisão de demitir Prates teria vindo algumas semanas antes se não tivesse sido a intervenção do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que teria segurado o ex-senador pelo estado do Rio Grande do Norte por razões de fortalecer a defesa de pagamento dos dividendos dos acionistas da empresa, uma pauta cara aos interesses dos lobistas que flutuam em torno dos negócios de compra e venda de ações da estatal junto o mercado financeiro.
“Qual é o interesse do Haddad em manter a distribuição dos dividendos favoráveis apenas aos acionistas, se esquecendo que a Petrobrás é uma empresa decisiva para garantir o desenvolvimento do país”, questionou um outro petista que preferiu fazer esta declaração em caráter anônimo. “Haddad, com esta estratégia, está levando Lula demais para o canto. É preciso que haja ampla publicidade de que interesses estão em jogo. Favorecer meia dúzia de acionistas, ou garantir o crescimento econômico do país?”, reforçou um terceiro petista.
FUTURO EM JOGO
A saída de Prates e sua substituição por Magda Chambriard demonstra também que há uma incerteza com relação a que futuro o país quer escolher. Se de maneira mais pró-ativa como um agente da transição energética do mundo capitaneando os caminhos da migração da troca dos combustíveis fósseis por fontes renováveis, ou entender que abrir mão do potencial petrolífero a ser desenvolvido pela Petrobras pode devolver os caminhos do desenvolvimento, mas sem saber ao certo o preço que esta escolha poderá custar ambientalmente falando.
“Há espaço para imensas extrações de petróleo em bacias localizadas no litoral nordestino. Mas fazer esses investimentos num momento em que os atuais campos petrolíferos apontam para um aumento da produção, pode fazer com que percamos a oportunidade de fazer todas as explorações de petróleo em nosso território que poderia nos garantir a almejada emancipação econômica”, comentou mais um petista sobre as disputas na Petrobrás.
“Muita gente na direita não gosta do sucesso da Petrobrás. Por isso, optam sempre pelo caminho da desestabilização para que ela não nos ofereça aquilo que ela está vocacionada a nos dar: a sustentabilidade do nosso crescimento econômico. O desafio não é grande, é enorme”, acrescentou, por fim, um outro petista.
DIRIGENTES PELA AEPET
Em novembro e em dezembro de 2022, logo após a eleição presidencial que deu ao presidente Lula um terceiro mandato à frente do governo federal e que estavam sendo debatidos os nomes daqueles que estavam sendo cotados para assumir o comando da Petrobrás, Coutinho informou aos associados da Aepet que tanto Prates, quanto Chambriard não representam os interesses de desenvolvimento nacional defendidos pelos engenheiros da Petrobrás.
“A Aepet defende as seguintes iniciativas relativas ao setor energético e à Petrobrás: restauração do monopólio estatal do petróleo, exercido pela Petrobrás; reversão da privatização dos ativos da Petrobrás, destacando a BR Distribuidora, refinarias, malhas de gasodutos (NTS e TAG), distribuidoras de GLP e gás natural (Liquigás e Comgás), produção de fertilizantes nitrogenados (FAFENs), direitos de exploração e produção de petróleo e gás natural e as participações na produção de petroquímicos e biocombustíveis; reestruturação da Petrobrás como Empresa Estatal de petróleo e energia, dando conta de sua gestão, com absoluta transparência, ao controle do povo brasileiro; alteração da política de preços da Petrobrás, com o fim do Preço Paritário de Importação (PPI), que foi estabelecido em outubro de 2016, e restauração do objetivo histórico de abastecer o mercado nacional de combustíveis aos menores preços possíveis; limitação da exportação de petróleo cru, com adoção de tributos que incentivem a agregação de valor e o uso do petróleo no país; recompra das ações da Petrobrás negociadas na bolsa de Nova Iorque (ADRs); desenvolvimento da política de conteúdo nacional e de substituição de importações para o setor de petróleo, gás natural e energias potencialmente renováveis; estabelecimento de um plano nacional de pesquisa e investimentos em energias potencialmente renováveis, sob a liderança da Petrobrás”, pontuou Felipe Coutinho.
NOTA DA AEPET
Abaixo, segue a íntegra da nota emitida pelo presidente da Aepet sobre a troca no comando da estatal petrolífera.
“Nota sobre a demissão do Jean Paul Prates e indicação da Magda Chambriard para a presidência da Petrobrás: A Petrobrás e a imprensa informam a demissão de Prates e a indicação da Magda Chambriard para a presidência da petrolífera estatal. A Associação dos Engenheiros da Petrobrás (AEPET) avaliou o histórico dos dois, em dezembro de 2022, enquanto eram considerados candidatos para assumir a presidência da Petrobrás no início do terceiro governo Lula. Encontramos muito em comum, Prates foi entusiasta da quebra do monopólio estatal do petróleo exercido pela Petrobrás, no governo FHC, em 1997. Defendeu a privatização da Petrobrás, participou da elaboração da Lei do Petróleo (Lei No 9478/97) e foi redator do Contrato de Concessão. Desde 1991, atuou como empresário e consultor das petrolíferas que pretendiam explorar o petróleo e o mercado brasileiros, através da Expetro Consultoria. Enquanto Chambriard promoveu quatro leilões de petróleo, entre os quais o 1º leilão do pré-sal, da área de Libra. Defendeu a maior participação de petrolíferas estrangeiras na exploração do petróleo brasileiro. Elogiou a facilitação do governo Temer para a privatização do campo de Carcará pela Petrobrás, em favor da estatal norueguesa Statoil (atual Equinor). Foi contrária a interferência do governo para alteração da política de preços da Petrobrás, em especial com relação ao Preço Paritário de Importação (PPI) do diesel. Prates não nos surpreendeu enquanto a direção da Petrobrás manteve investimentos baixos e dividendos insustentavelmente altos em 2023. Também não ao manter a política dos Preços Paritários de Importação (PPI), mudando apenas seu nome e a frequência dos reajustes. Prates deixa a Petrobrás fiel e coerente com seu passado, infelizmente para o Brasil e a estatal. Pelo histórico de Prates e Chambriard, a substituição do primeiro pela segunda nos parece trocar seis por meia dúzia. O tempo é o senhor da verdade e, mais uma vez, nos mostrará, Felipe Coutinho, presidente da Associação dos Engenheiros da Petrobrás (AEPET)”.