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Presidente Lula durante o discurso por videoconferência na 16ª Cúpula do BRICS (Foto: Reprodução / Redes Digitais)

“O BRICS é ator incontornável no enfrentamento da mudança do clima”, afirma Lula no encontro de cúpula do bloco

O presidente brasileiro, que participou da 16ª reunião do bloco econômico por meio virtual devido a uma queda no banheiro do Palácio da Alvorada do último sábado, afirmou ainda que o BRICS “rompe a lógica” do fluxo financeiro movimentado pelas nações mais pobres mas que alimentam os caixas das nações mais ricas.

 

Por Humberto Azevedo

 

Mesmo sem poder estar pessoalmente na cidade russa de Kazan, que sedia esta semana o 16ª encontro de cúpula do BRICS, o presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva destacou em seu pronunciamento feito, por meio de uma videoconferência, “o BRICS é ator incontornável no enfrentamento da mudança do clima”.

 

Na oportunidade, Lula – que suspendeu a viagem à Rússia por ordem médica, após ter caído no último sábado, 19 de outubro, no banheiro do Palácio da Alvorada – afirmou ainda que o BRICS “rompe a lógica” do fluxo financeiro movimentado pelas nações mais pobres mas que alimentam os caixas das nações mais ricas.

 

“Nossos países implementaram nas últimas décadas políticas sociais exitosas que podem servir de exemplo para o resto do mundo. A Aliança Global contra a Fome e a Pobreza já está em fase avançada de adesões. Convido todos a se somarem à iniciativa, que nasceu no G20, mas está aberta a outros participantes. O BRICS é ator incontornável no enfrentamento da mudança do clima”, iniciou.

 

“Não há dúvida de que a maior responsabilidade recai sobre os países ricos, cujo histórico de emissões culminou na crise climática que nos aflige hoje. É preciso ir além dos 100 bilhões anuais prometidos e não cumpridos, e fortalecer medidas de monitoramento dos compromissos assumidos. Os dados da ciência exprimem um sentido de urgência sem precedentes. O planeta é um só e seu futuro depende da ação coletiva”, complementou.

 

COP 30

 

Na ocasião, Lula aproveitou para salientar que em outubro de 2025 o Brasil sediará a 30ª edição da Conferência das Mudanças Climáticas (COP) das Nações Unidas (ONU), em Belém (PA), e que “também cabe aos países emergentes fazer sua parte para limitar o aumento da temperatura global a um grau e meio”.

 

“Na COP 30, em Belém, vamos juntos mostrar que é possível conciliar maior ambição em nossas Contribuições Nacionalmente Determinadas com o princípio das responsabilidades comuns, mas diferenciadas. Na presidência brasileira do BRICS, queremos reafirmar a vocação do bloco na luta por um mundo multipolar e por relações menos assimétricas entre os países”, acrescentou.

 

“Não podemos aceitar a imposição de ‘apartheids’ no acesso a vacinas e medicamentos, como ocorreu na pandemia, nem no desenvolvimento da Inteligência Artificial, que caminha para tornar-se privilégio de poucos. Precisamos fortalecer nossas capacidades tecnológicas e favorecer a adoção de marcos multilaterais não excludentes, em que a voz dos governos prepondere sobre interesses privados”, afirmou.

 

ECONOMIA

O presidente brasileiro lembrou que os países que integram oficialmente o BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul, Egito, Emirados Árabes Unidos, Etiópia e Irã) representam “parcela significativa do crescimento econômico mundial nas últimas décadas”. Segundo ele, “juntos, somos mais de 3,6 bilhões de pessoas, que integram mercados dinâmicos com elevada mobilidade social”.

 

“Representamos 36% do PIB global por paridade de poder de compra. Contamos com 72% das terras raras do planeta, 75% do manganês e 50% do grafite. Entretanto, os fluxos financeiros continuam seguindo para nações ricas. É um Plano Marshall às avessas, em que as economias emergentes e em desenvolvimento financiam o mundo desenvolvido. As iniciativas e instituições do BRICS rompem com essa lógica”, avaliou.

 

“A atuação do Conselho Empresarial contribuiu para ampliar o comércio entre nós. As exportações brasileiras para os países do BRICS cresceram doze vezes entre 2003 e 2023. O BRICS é hoje a origem de quase um terço das importações do Brasil. A Aliança Empresarial de Mulheres está criando redes para fomentar o empoderamento econômico feminino e combater as desigualdades de gênero que persistem”, completou.

 

“Por meio do Mecanismo de Cooperação Interbancária, nossos bancos nacionais de desenvolvimento vão estabelecer linhas de crédito em moedas locais, que reduzirão os custos de transação de pequenas e médias empresas. O Novo Banco de Desenvolvimento (o NDB), que neste ano completa dez anos, tem investido na infraestrutura necessária para fortalecer nossas economias e promover uma transição justa e soberana. Sob a liderança da companheira Dilma Rousseff, o NDB conta atualmente com uma carteira de quase 100 projetos e com financiamentos da ordem de 33 bilhões de dólares”, elogiou.

 

“Ele [NDB] foi pensado para ser bem-sucedido onde as instituições de Bretton Woods continuam falhando. Em vez de oferecer programas que impõem condicionalidades, o NDB financia projetos alinhados a prioridades nacionais. Em vez de aprofundar disparidades, sua governança se assenta na igualdade de voto. Agora é chegada a hora de avançar na criação de meios de pagamento alternativos para transações entre nossos países. Não se trata de substituir nossas moedas. Mas é preciso trabalhar para que a ordem multipolar que almejamos se reflita no sistema financeiro internacional”, mostrou.

 

CONFLITOS & ‘BRICS PAY’

 

Por fim, o presidente do Brasil destacou que o avanço do BRICS em interromper a hegemonia da moeda dos Estados Unidos da América (EUA) com a adoção de mecanismos como o “BRICS Pay” – modalidade de pagamento de operações e transações internacionais e entre países – “precisa ser enfrentada com seriedade, cautela e solidez técnica, mas não pode ser mais adiada”.

 

“Muitos insistem em dividir o mundo entre amigos e inimigos. Mas os mais vulneráveis não estão interessados em dicotomias simplistas. O que eles querem é comida farta, trabalho digno e escolas e hospitais públicos de acesso universal e de qualidade. E um meio ambiente sadio, sem eventos climáticos que ponham em risco sua sobrevivência. Além de uma vida de paz, sem armas que vitimam inocentes. Como disse o presidente Erdogan na Assembleia Geral da ONU, Gaza se tornou ‘o maior cemitério de crianças e mulheres do mundo’. Essa insensatez agora se alastra para a Cisjordânia e para o Líbano”, emendou.

 

“Evitar uma escalada e iniciar negociações de paz também é crucial no conflito entre Ucrânia e Rússia. No momento em que enfrentamos duas guerras com potencial de se tornarem globais, é fundamental resgatar nossa capacidade de trabalhar juntos em prol de objetivos comuns”, finalizou convidando todos os chefes de Estados presentes na reunião de cúpula do BRICS na próxima edição do encontro que acontecerá em solo brasileiro devido o país assumir a presidência do bloco, em 2025, em que o lema será “Fortalecendo a Cooperação do Sul Global para uma Governança mais Inclusiva e Sustentável”.

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