Ministério da Defesa publicou link para canal do Telegram que pedia golpe, em 2022
No dia 7 de novembro de 2022, o perfil oficial do Ministério da Defesa publicou um tuíte com link para um canal no Telegram com uma mensagem onde se lê “Dê o golpe Jair”. A publicação permaneceu por 28 meses no ar e até a noite deste domingo (9) podia ser acessada. Na manhã desta segunda-feira (10) está fora do ar. A informação foi publicada na edição de ontem do jornal O Estado de São Paulo, em reportagem do jornalista Guilherme Caetano. A postagem foi feita oito dias depois da eleição em que o então presidente Jair Bolsonaro perdeu para Lula a disputa pela Presidência. O ministro da pasta era o general Paulo Sérgio Nogueira, que havia sido antes comandante do Exército. A postagem do Ministério da Defesa orienta o usuário a conferir uma nota sobre o relatório do trabalho de fiscalização do sistema eletrônico de votação. No entanto, o link indicado leva para outra rede social, o Telegram. Ali, há uma única mensagem publicada: “Dê o golpe Jair”, diz o texto ao lado de um emoji de bandeira do Brasil. O pedido de golpe foi postado por um canal no Telegram intitulado “Ministério da defesa”, com erro no uso de letra minúscula no nome da pasta. Esse canal conta com apenas 289 inscritos e não é o oficial da pasta. Consultados informalmente pelo Estadão, membros da pasta não souberam dizer se o episódio se trata de um hackeamento ou teve o envolvimento de algum servidor. Print da mensagem do Telegram cujo link era indicado pelo Ministério da Defesa Usuários no Twitter relataram naquela semana que a mensagem pedindo golpe foi feita entre a noite do dia 9 e a tarde do dia 10. A publicação ocorreu em meio ao envolvimento direto do ministério e de setores das Forças Armadas para investigar as urnas eletrônicas. Antes de postar o link com pedido de golpe, a conta da Defesa divulgou um aviso sobre a auditoria que fizera nas urnas. O relatório, entregue no dia 9 não apontou qualquer fraude eleitoral e ainda reconheceu que os boletins de urnas e os resultados divulgados pelo TSE eram idênticos. Mesmo assim, Nogueira insistia que fosse feita uma investigação técnica urgente sobre eventuais riscos à segurança das urnas. O ministro se referiu a uma suposta possibilidade de que um “código malicioso” pudesse interferir no funcionamento dos aparelhos de votação. Ele é um dos denunciados pela Procuradoria-Geral da República por envolvimento na tentativa de golpe de Estado. A conclusão do Ministério da Defesa de Bolsonaro apresentou mais de 5 mil palavras reunidas em 22 páginas de texto. O termo “fraude” não constou no documento. Mas a construção do relatório deixava aberta uma suposta chance de interferência eleitoral, mesmo não apresentando qualquer evidência. A atuação de Nogueira no esquema golpista é descrita na denúncia do procurador-geral Paulo Gonet como “indiscutível”. Gonet citou que o general apresentou uma minuta de teor golpista aos três comandantes das Forças Armadas. O episódio foi confirmado à Polícia Federal pelo comandante do Exército, general Freire Gomes, e pelo chefe da Aeronáutica, o tenente-brigadeiro Carlos Baptista Junior. Depois, seguiu o PGR, o então ministro da Defesa voltou a tratar do tema com os comandantes em seu gabinete.Ministro da Defesa insistiu em investigar as urnas