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Lobo solitário ou alcateia terrorista: Brasília vê guerra de narrativas após atentado de bolsonarista

De um lado, direita quer evitar que projeto de anistia naufrague. Do outro, PF e STF querem associação com 8 de janeiro

Por Igor Carvalho, do Brasil de Fato
Mal se dissipou a fumaça das explosões do atentado terrorista cometido por Francisco Wanderley Luiz, em frente ao Superior Tribunal Federal (STF), na Praça dos Três Poderes, em Brasília (DF), na última quarta-feira (13), e uma disputa de narrativa se instaurou na capital federal. Seria o autor do ataque ao Estado, bolsonarista confesso, um “lobo solitário” ou parte de um plano maior, que tem seu cordão umbilical amarrado na tentativa de golpe de 8 de janeiro de 2023?

Celina Leão (PP), vice-governadora do Distrito Federal, que é responsável pela segurança na Esplanada dos Ministérios, correu à imprensa, na mesma noite, antes do início de qualquer investigação policial, para dizer que se tratava de um suicida que agiu sozinho, um “lobo solitário”, nas palavras da mandatária.

De Roma, capital da Itália, onde está a passeio com a família, o governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB), desejou “total solidariedade às autoridades e servidores dos Três Poderes”. “Muito grave o que acaba de ocorrer na praça dos Três Poderes e no Anexo 4 da Câmara dos Deputados”, afirmou.

Rocha foi afastado do cargo de governador do Distrito Federal pelo STF, em janeiro de 2023, por suspeita de omissão durante os atos golpistas de 8 de janeiro. Ele ficou dois meses fora do cargo.

O governador e sua vice têm ligações fortes e antigas com o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), principal nome da extrema direita brasileira e inspiração dos golpistas de 8 de janeiro.

Francisco Wanderley Luiz, o Tiu França, era filiado ao PL, mesmo partido de Bolsonaro, e foi candidato a vereador em Rio do Sul (SC), nas eleições de 2020. Sua inabilidade não deixou vítimas, além de si mesmo, durante o atentado. A solidão do ato e da morte fez bolsonaristas defenderem a dissociação entre o terrorista e a extrema-direita.

O pastor Silas Malafaia, ao seu estilo histriônico, bradou pela tese do lobo solitário. “Não vou deixar passar o ditador da toga, Alexandre de Moraes, com uma narrativa para tentar tirar proveito, para jogar uma cortina de fumaça nos seus atos ilegais, injustos, sobre a questão do homem com problemas mentais e emocionais que explodiu bombas em Brasília.”

Carlos Jordy (PL-RJ), deputado federal bolsonarista, recorreu ao X para tentar afastar Tiu França de seus pares. “O sujeito não passa de um louco agindo sozinho e sem conexão alguma com Bolsonaro ou o PL”, afirmou. “Pelo que foi apurado até o momento, o homem sofria por conta de problemas pessoais. Foi um ato suicida”, declarou, também na rede social, a deputada federal Caroline de Toni (PL-SC).

Em nota, o PL se manifestou. “O Partido Liberal, por meio de seu Secretário de Relações Institucionais, deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), repudia as narrativas falsas e oportunistas que buscam, de maneira precipitada e irresponsável, vincular o trágico suicídio ocorrido hoje na Praça dos Três Poderes ao ex-presidente Jair Bolsonaro e à direita brasileira.”

Bolsonaro chamou o ocorrido de “fato isolado”. “Lamento e repudio todo e qualquer ato de violência, a exemplo do triste episódio de ontem na Praça dos Três Poderes. Apesar de configurar um fato isolado, e ao que tudo indica causado por perturbações na saúde mental da pessoa que, infelizmente, acabou falecendo, é um acontecimento que nos deve levar à reflexão.”

Alcateia

O motivo do desespero da extrema-direita com o episódio é que um dos principais objetivos dos bolsonaristas para 2025 é a tentativa de aprovar um projeto de lei que anistie os golpistas do 8 de janeiro de 2023.

Com o ataque terrorista frustrado do Tiu França, o projeto pode ter naufragado. Isso porque, o governo federal, vítima da tentativa de golpe do 8 de janeiro, e o STF já trabalham com a associação entre os dois eventos, o que pode enterrar as pretensões de anistia dos golpistas e de Jair Bolsonaro, que pretende ser candidato à presidência da República em 2026, mas está inelegível.

Em entrevista coletiva na última quinta-feira (14), Andrei Rodrigues, diretor-geral da Polícia Federal, falou sobre as investigações e, em especial, uma mensagem que Tiu França deixou no espelho da casa onde estava hospedado no Distrito Federal, um recado para uma das presas pelos crimes do 8 de janeiro.

“Mostra a vinculação desses grupos radicais que culminam nessa barbaridade que acontece ontem, na tentativa de matar ministros da Suprema Corte, e também que culminou nesse lamentável episódio do suicídio dessa pessoa”, afirmou Rodrigues.

Ainda de acordo com o diretor-geral da Polícia Federal, “há indícios de planejamento em longo prazo (do atentado). Ele esteve em Brasília no início de 2023. Uma investigação apura se ele estava no 8/1”.

Alvo do ataque, Alexandre de Moraes, ministro do STF, também se manifestou e criticou as teses do “lobo solitário”. “Quero lamentar essa mediocridade das pessoas que, por questões ideológicas, querem banalizar dizendo o absurdo que foi, por exemplo, um mero suicídio”, disse.

“Queira Deus que seja um ato isolado, este ato. Mas o contexto é um contexto que se iniciou lá atrás, quando o famoso gabinete do ódio começou a destilar discurso de ódio contra as instituições, contra o Supremo Tribunal Federal, principalmente. Contra a autonomia do Judiciário, contra os ministros do Supremo e as famílias de cada ministro”, concluiu o ministro.

Na mesma linha, Simone Tebet, ministra do Planejamento e Orçamento do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), algoz de Bolsonaro nas urnas, também foi contundente na crítica aos bolsonaristas. “No ataque à democracia, os ‘lobos’ nunca são solitários. Há, sempre, um ‘apito’ a encorajá-los. O que aconteceu ontem na Praça dos Três Poderes foi mais um sinal de alerta de que, enquanto permanecerem esses ‘apitos’, a luta democrática não permite qualquer tipo de trégua.”

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