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Narrativa ganhou mais um capítulo importante na história do país com a criação do Prêmio Eunice Paiva de Defesa da Democracia. A foto mostra a correspondência enviada pelo governo brasileiro tanto à atriz Fernanda Torres, que interpreta Eunice Paiva no filme agora indicado ao Oscar de melhor filme estrangeiro, assim como à própria Eunice - viúva do ex-deputado Rubens Paiva assassinado pela ditadura militar em 1971 e que teve o corpo desaparecido e até hoje não localizado. (Foto: Montagem-Reprodução / Divulgação-Secom-MDHC)

Indicações de “Ainda Estou Aqui” ao Oscar 2025 traz democracia para o centro do debate internacional, afirma ministra dos Direitos Humanos

O longa-metragem produzido pelo cineasta Walter Moreira Salles recebeu três indicações a uma das maiores premiações do cinema internacional. O filme conta a história da família do ex-deputado Rubens Paiva assassinado pela ditadura militar em 1971.

 

Por Humberto Azevedo

 

Pautada pela defesa da democracia e no direito à memória, e graças aos holofotes do mundo voltados para o Brasil por conta do filme “Ainda Estou Aqui”, indicado nesta quinta-feira, 23 de janeiro, ao Oscar em três categorias traz a democracia para o centro do debate internacional. É o que afirma a ministra dos Direitos Humanos e da Cidadania, Macaé Evaristo.

 

Para a ministra, o país carecia de uma obra de grande repercussão como esta para abordar as feridas da ditadura militar brasileira, que governou o país entre 9 de abril de 1964 a 31 de março de 1985, sob outros ângulos. Segundo ela, com o destaque internacional proporcionado pelo sucesso da obra cinematográfica, a defesa da democracia ganha visibilidade, assim como o repúdio à ditadura e o direito à memória das vítimas e de seus familiares.

 

Tais pautas são trabalhadas pelo Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania (MDHC), por meio da assessoria especial de defesa da democracia, memória e verdade, e, principalmente, pela comissão especial sobre mortos e desaparecidos políticos, retomada em 2024, após ser interrompida na gestão do ex-presidente Jair Messias Bolsonaro (PL), entre 2019 a 2022.

 

“Famílias que, hoje, choram por entes queridos necessitam e reivindicam o luto. E ter uma reparação, seja ela por meio de uma certidão de óbito que traga em seu registro a verdade, é muito importante”, declara. “Por isso, acho que o que esse filme está fazendo é um alento, porque nos permite entrar nesse debate de uma maneira mais desarmada. O Brasil e o mundo precisam disso para restabelecer os ideários do humanismo, dos direitos humanos e do respeito à vida”, afirma a ministra.

 

ANOS DE CHUMBO

 

A conquista histórica de “Ainda estou aqui”, de acordo com Hamilton Pereira, ex-preso político e assessor especial do MDHC, coloca nas telas do mundo, por meio do cinema brasileiro, a “história oficial” do país nos anos de chumbo ocorrido durante o período ditatorial.

 

Segundo ele, o “Globo de Ouro” conferido ao talento excepcional da atriza Fernanda Torres e a indicação ao Oscar agora marcam esse período que registra a “maturidade do cinema brasileiro” diante do Brasil e do mundo.

 

“Raras vezes na história uma criação artística dialogou de forma tão sintonizada com os fatos que ocorrem no país – e com as aspirações democráticas do nosso povo – como o filme ‘Ainda estou aqui’, de Walter Salles”, relata Hamilton Pereira.

 

EUNICE PAIVA

 

Como relembra Paula Franco, coordenadora-geral de políticas de memória e verdade do MDHC, o filme “Ainda Estou Aqui” é baseado no livro de mesmo nome escrito por Marcelo Rubens Paiva, filho do desaparecido político Rubens Paiva e de Eunice Paiva, que é a protagonista do filme.

 

Segundo Paula, o autor do livro já deu diversas declarações nas quais atribui a possibilidade e viabilidade de escrita aos trabalhos da Comissão Nacional da Verdade (CNV), encerrados em dezembro de 2014.

 

PRÊMIO

 

Essa narrativa ganhou mais um capítulo importante na história do país com a criação do Prêmio Eunice Paiva de Defesa da Democracia. Assinado no início do mês de janeiro pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a honraria tem o objetivo de dar visibilidade a pessoas que tenham colaborado para a preservação, restauração ou consolidação do regime democrático no Brasil.

 

Ainda de acordo com Paula, os trabalhos da CNV avançaram nas investigações sobre os crimes da ditadura, com destaque para o caso Rubens Paiva, cuja relevância se dá por se tratar de um ex-deputado que desapareceu estando em sua própria casa.

 

“Assim como o filme, nesse momento em 2025, e já em 2024, quando foi lançado, a Comissão Nacional da Verdade tem projetado o Brasil para o cenário internacional. Teve esse movimento lá em 2014, ou seja, dez anos antes do filme, com a entrega do relatório, porque foi um trabalho muito bem recebido pelo sistema interamericano, considerado um material de extrema relevância e com uma avaliação muito positiva”, assinala Paula.

 

ALCANCE INTERNACIONAL

 

Paula percebe um vínculo muito próximo entre a circulação internacional do relatório final da Comissão Nacional da Verdade com o circuito do filme em si e acredita que o destaque da história tem o poder de gerar reconhecimento e empatia nas pessoas.

 

A coordenadora ainda conta que o relatório chegou a ser traduzido para o espanhol na Universidade de Salamanca e vem sendo utilizado para um avanço no aperfeiçoamento da democracia, da reparação da memória, verdade e justiça.

 

“Agora, a gente tem um pouco essa chama da expectativa e da esperança acesa com o filme, porque ele está fazendo circular novamente uma história genuinamente brasileira associada ao impacto que a Comissão Nacional da Verdade teve no país”, afirma.

 

DEFESA DA DEMOCRACIA

 

A ministra Macaé considerou ainda relevante não apenas as indicações ao Oscar, mas também a mensagem que elas trazem consigo.

 

“O Brasil, neste momento histórico, tem papel importantíssimo no cenário internacional. Primeiro, na defesa da democracia e, segundo, na defesa dos direitos humanos. Antes de tudo, eu sou educadora, e acho que a arte e o cinema brasileiro são fundamentais para que a nossa população olhe para ela mesma, para seus acertos e equívocos, e agora o mundo todo também pode olhar”, observa.

 

Já para Caio Cateb, coordenador-geral de apoio à comissão especial sobre mortos e desaparecidos políticos, o filme ajuda o país a discutir o assunto dos mortos e desaparecidos políticos no Brasil porque traz luz para a recente retomada da comissão, que tem o papel de elucidar esses casos e mostra para sociedade que o Estado brasileiro, através do colegiado, seguirá na luta pela defesa da memória e da verdade sobre o período da ditadura.

 

“O Rubens Paiva é uma das vítimas que trabalhamos com a busca sobre seu desaparecimento político, e o filme reforça isso. A gente tem escutado da imprensa, de movimentos sociais, a felicidade de poder ver a sociedade discutindo esse assunto, discutindo os desaparecimentos não só do Rubens, mas dos outros Rubens, que são os outros desaparecidos e desaparecidas, enquanto a gente também está discutindo o papel das famílias”, afirma Caio Cateb.

 

CERTIDÕES DE ÓBITO

 

A comissão especial sobre mortos e desaparecidos políticos deu início aos procedimentos necessários para a organização das atividades de entrega das certidões retificadas, responsabilidade da comissão. Para coletar informações de familiares de mortos e desaparecidos políticos e estabelecer os contatos necessários para viabilizar a participação dos familiares nas cerimônias solenes a serem realizadas pelo órgão, basta preencher este formulário disponível no endereço cibernético da comissão hospedado na página do MDHC na internet.

 

Com informações de assessoria.

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