Especialista aponta uso das Olimpíadas como mecanismo para manter Status Quo do imperialismo
A mestra em relações internacionais da USP, Luísa Maria Freitas, afirma que “o maior poder da Olimpíada é o alcance imenso, é um palco mundial que pode ser instrumentalizado por indivíduos, movimentos, causas sociais ou até Estados mesmo”.
Por Humberto Azevedo
A especialista e mestra em relações internacionais pela Universidade de São Paulo (USP), Luísa Maria Freitas, afirma e aponta que uso das Olimpíadas é um mecanismo para manter o Status Quo do imperialismo das nações hegemônicas do ocidente, como os Estados Unidos da América (EUA) e da Europa. Na próxima sexta-feira, 26 de julho, será iniciado o 33º jogos olímpicos de verão (referente ao hemisfério norte) da era moderna, que acontecerá pelos próximos 15 dias na cidade de Paris, na França.
A declaração de Luísa Maria Freitas aconteceu em entrevista ao site Sputnik, noticioso ligado à Federação Russa – que trava uma guerra no território ucraniano com o objetivo de evitar a expansão da Organização do Tratado Atlântico Norte (OTAN) até suas fronteiras. As autoridades russas consideram a OTAN o principal instrumento da geopolítica do governo estadunidense para influenciar países e povos no continente Euroasiático.
Ela aponta, ainda, que haja dois pesos e duas medidas na realização dos jogos olímpicos por meio de decisões políticas do Comitê Olímpico Internacional (COI) – órgão responsável pela gestão das Olimpíadas. Pois, se por um lado a Rússia está banida de participar do evento de Paris por conta da guerra na Ucrânia, os EUA que financiam o governo ucraniano contra os interesses russos e também ao financiar o Estado de Israel nos ataques ao grupo político Hamas, que controla a Faixa de Gaza, na Palestina, apenas com poder de milícia – já que os palestinos não possuem Forças Armadas, e por tantos outros conflitos que àquele país já se envolveu ao longo da história, nunca sofreram qualquer tipo de proibição nas Olimpíadas, pelo contrário.
“O maior poder da Olimpíada é o alcance imenso, é um palco mundial que pode ser instrumentalizado por indivíduos, movimentos, causas sociais ou até Estados mesmo. Temos exemplos históricos de manifestações raciais, políticas e sociais durante todo o histórico dos eventos modernos e, quanto mais complexas as relações entre os países e maior o processo de globalização, mais difícil se torna separar o esporte disso”, resume Freitas.
“Quem decide isso é o COI, e acredito que esse órgão saiba que suspender os Estados Unidos pode afetar a audiência, ou até outros países do Ocidente tomarem as dores. O que é muito importante ressaltar é que não há um motivo financeiro, como sempre levantam sobre a ONU, mas a COI se sustenta com os direitos de transmissão […]. E os EUA estão do lado de Israel, o país não será punido, se está do lado da Ucrânia, a Rússia será punida. Costuma ser simples assim”, acrescentou a estudiosa uspiana.
BOICOTE
Como exemplo, Luísa Maria de Freitas citou o boicote ocidental às Olimpíadas realizadas na então União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), em 1980, quando 64 países não participaram da edição por conta de divergências ideológicas, na época, com o regime político que era adotado pelas nações soviéticas.
Conforme a especialista, um dos primeiros registros da história de como as Olimpíadas se tornaram arma política para um fim ocorreu em 1936, quando a Alemanha nazista recebeu a competição. O país foi escolhido cinco anos antes, época em que Adolf Hitler ainda não havia chegado ao poder e, mesmo com o regime ligado ao holocausto da população judia, o evento foi mantido.
“Então o COI, por mais que não dependa financeiramente dos Estados Unidos, aplica muito a noção de soft power das relações internacionais, do poder de influência que a superpotência dos Estados Unidos exerce […] Quando Hitler acendeu a tocha [olímpica], ele viu a oportunidade de propaganda que os Jogos ofereciam. O discurso era sempre que o esporte não devia se misturar com a política, então, mesmo estando na Alemanha nazista, acharam de bom tom. O COI não suspendeu e nem repudiou a sede, já estava escolhida e seguiram os jogos dessa maneira”, complementou.
“Acredito que as tensões vão estar altas sim, o risco [de atentados] sempre existe, mas a segurança deve fazer um trabalho bem completo. Há uma preocupação muito grande até com espectadores que entram nos estádios, com as revistas. A preocupação existe e o risco sempre está lá. Mas eu acredito que o que deve ter muito vai ser a tensão entre atletas ou comitês olímpicos, com demonstrações de apoio ou de repúdio a certos comitês por conta dos conflitos que estão acontecendo”, destacou Luísa Freitas.
Com informações do Sputnik.