ENTREVISTA DA SEMANA | DESAFIOS DA NOVA GEOPOLÍTICA
“Vamos procurar exercitar ao máximo o diálogo e o entendimento para evitar confronto”, afirma Nelsinho Trad
Questionado sobre o que espera da ação do deputado Eduardo Bolsonaro à frente da Comissão de Relações Exteriores da Câmara dos Deputados, o presidente da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional do Senado Federal afirmou que espera que “não deve haver nenhum problema” e procurará atuar como já aconteceu no ano de 2019.
Por Humberto Azevedo
O senador Nelsinho Trad (PSD-MS), afirmou com exclusividade para a reportagem do Grupo RDM, que face aos desafios impostos pela nova geopolítica mundial ele procurará “exercitar” à frente da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional (CRE) do Senado Federal o “máximo o diálogo e o entendimento para evitar” quaisquer tipos de “confronto”.
A declaração do pessedista sul-mato-grossense aconteceu na última quinta-feira, 13 de março, após ele presidir uma sessão de audiência pública da CRE que ouviu os últimos ex-presidentes do colegiado justamente para traçar estratégias diante dos desafios do atual cenário internacional de guerras comerciais e um ambiente de conflito atiçado desde 20 de janeiro de 2025 pelo velho-novo presidente dos Estados Unidos da América (EUA), Donald Trump.
“Cada declaração de um líder mundial repercute no mercado global, e isso vem para o Brasil, pode afetar taxas inflacionárias, pode afetar o desenvolvimento do país. (…) Nós vamos ter que ter planejamento e estratégia para poder enfrentar (…) através do diálogo e do entendimento”, comentou Trad – que é ex-prefeito da capital sul-mato-grossense entre os anos de 2005 e 2012.
AÇO

Questionado sobre as novas tarifas impostas pelos EUA desde a última terça-feira, 11 de março, que taxou em 25% a exportação do aço e do alumínio do Brasil para aquele país, Nelsinho Trad acredita que a situação será resolvida assim como foi solucionada em 2019, ano em que ele também ocupava o posto de presidente da CRE do Senado.
“Devem ir uma comitiva lá para os Estados Unidos para poder debater isso, definir quotas para isso poder ser superado, como foi feito pela então pela ministra [da Agricultura e Pecuária] da época, Tereza Cristina, em 2019”, respondeu o senador.
EDUARDO BOLSONARO

Indagado sobre o que espera da ação do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) à frente da Comissão de Relações Exteriores e de Defesa Nacional (CREDN) da Câmara dos Deputados, Trad afirmou que espera que “não deve haver nenhum problema” e procurará atuar como já aconteceu no ano de 2019, quando o filho “03” do ex-presidente Jair Messias Bolsonaro (PL) também presidia à época a CREDN.
A presidência de Eduardo Bolsonaro no comando da CREDN vem causando preocupação, nos bastidores, tanto dos diplomatas brasileiros que estão à frente do Itamaraty – Ministério das Relações Exteriores (MRE), quanto também de vários ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), que vem a futura comissão presidida por Eduardo Bolsonaro como um instrumento de instabilidade entre os dois países.
Alguns ministros do STF acreditam que o parlamentar do PL paulista poderá fazer uma dobradinha com setores extremistas do Partido Republicano dos EUA para confrontar, sobretudo, o ministro da Suprema Corte, Alexandre de Moraes – relator do inquérito que investiga a atuação de Jair Bolsonaro na trama que atentou contra o Estado Democrático de Direito e tentou promover no país um Golpe de Estado.
“Não deve haver nenhum problema de interlocução para conosco. Vamos procurar trabalhar juntos, como a gente já fez em 2019. (…) Nós vamos procurar exercitar ao máximo o diálogo e o entendimento para evitar confronto, porque acho que qualquer briga, qualquer confronto, de qualquer um que seja com os Estados Unidos não é recomendável”, pontuou.
A Comissão de Relações Exteriores (CRE) debateu nesta quinta-feira (13) os desafios do cenário internacional com ex-presidentes do colegiado. Seis compareceram à reunião, caso dos ex-senadores Eduardo Suplicy, Aloysio Nunes Ferreira, Cristovam Buarque e Kátia Abreu. Atual presidente da comissão, o senador Nelsinho Trad (PSD-MS) disse que é preciso aprender com os mais experientes, em busca de reações mais articuladas diante das profundas mudanças internacionais.
AUDIÊNCIA

Compareceram a audiência da CRE do Senado a embaixadora Maria Laura da Rocha, representando o atual chanceler brasileiro Mauro Vieira, e os ex-senadores Kátia Abreu, presidenta entre os anos de 2021 e 2022; Aloysio Nunes Ferreira (PSDB), presidente nos anos 2015 e 2016; Eduardo Azeredo (PSDB), entre os anos de 2009 e 2010; Heráclito Fortes (União Brasil), entre 2007 e 2008; Cristóvam Buarque, presidente da CRE entre os anos de 2005 e 2006; Eduardo Suplicy (PT), entre os anos de 2003 e 2004;
Entre os temas abordados na reunião, Suplicy acredita que a criação de um observatório internacional pelo Senado, com especialistas em defesa, relações exteriores poderá auxiliar o colegiado neste novo momento em que o mundo passou a viver. Aloysio Nunes Ferreira acredita que o mundo passa por uma transição de um mundo unipolar para um mundo multipolar. Na mesma linha, Cristóvam avalia que o mundo, no passado, era uma “soma de países” e hoje “cada país é um pedaço do mundo”. Segundo o ex-governador de Brasília, “não há mais país isolado”. “E aí vem a grande chance do Brasil. Porque o Brasil é o pedaço do mundo que mais se parece com o mundo”.
Já a ex-senadora e ex-ministra da Agricultura nos governos Dilma Rousseff, Kátia Abreu, vê a guerra de tarifas implementada por Donald Trump como um “tiro no pé” dos EUA. Com visão parecida, Azeredo questiona a tentativa de Trump em devolver o protagonismo da indústria de transformação dos EUA e afirma que o Brasil não conseguiria assumir a liderança no mercado de paineis solares, se não fosse a globalização. “Foi [a globalização] que possibilitou a queda do preço dos paineis e, aí sim, o Brasil pode avançar tanto”, completou o ex-governador das Minas Gerais entre 1995 e 1998.
ENTREVISTA

Abaixo, segue a íntegra da entrevista exclusiva concedida pelo senador Nelsinho Trad à reportagem do Grupo RDM. Boa leitura!
Grupo RDM: Qual a importância dessa reunião envolvendo os ex-presidentes das Comissões de Relações Exteriores aqui do Senado Federal? Como que o senhor avalia a importância nesse momento da geopolítica mundial?
Nelsinho Trad: Foram várias sugestões muito interessantes que a gente recebeu, acolheu e vamos implantar no sentido de ver que nós temos um horizonte de muita dificuldade pela frente. A cada declaração de um líder mundial se repercute no mercado global, e isso vem para o Brasil, pode afetar taxas inflacionárias, pode afetar o desenvolvimento do país, ou seja, são turbulências que nós vamos ter que ter planejamento e estratégia para poder enfrentar. E nada melhor do que você deixar isso organizado para a gente poder ver como que nós vamos fazer esse enfrentamento.
Grupo RDM: E agora teve a tarifa dos 25% imposta pelos EUA sobre o aço e alumínio, que impacta diretamente na economia do Brasil. E como buscar uma solução? O governo brasileiro informou que não vai retaliar.
Nelsinho Trad: Através do diálogo e do entendimento. Devem ir uma comitiva lá para os Estados Unidos para poder debater isso, definir quotas para isso poder ser superado, como foi feito pela então pela ministra [da Agricultura] da época, Tereza Cristina, em 2019. Então nós já temos o caminho, vamos procurar seguir.
Grupo RDM: Como que o senhor vê a questão da Comissão de Redações Exteriores na Câmara, o debate que pode ser, provavelmente já está batido o martelo, que vai ser o deputado Eduardo Bolsonaro. Como que o senhor acredita e o concebe essa decisão?
Nelsinho Trad: A legitimidade para poder escolher lá é dos deputados. Passa por um acordo da presidência da Câmara. Eu enxergo que não deve haver nenhum problema de interlocução para conosco. Vamos procurar trabalhar juntos, como a gente já fez em 2019.
Grupo RDM: Vamos lá, olhando para frente. Então o senhor acredita que se tiver turbulência com os Estados Unidos se aliando as estratégias do Eduardo Bolsonaro contra as decisões da Suprema Corte e do governo brasileiro, como isso vai se resolver? Como o Senado vai se posicionar?
Nelsinho Trad: Nós vamos procurar exercitar ao máximo o diálogo e o entendimento para evitar confronto, porque acho que qualquer briga, qualquer confronto, de qualquer um que seja com os Estados Unidos não é recomendável.
Grupo RDM: Obrigado pela entrevista.
Nelsinho Trad: Eu que agradeço, obrigado.