Em sabatina, Galípolo defende “autonomia operacional” do Banco Central

Indicado para substituir o atual presidente do BCB, Roberto Campos Neto, o diretor de Política Monetária da instituição se esquivou ao dizer que a instituição adotará, ou não, juros mais baixos. Atualmente, o Brasil possui a segunda maior taxa básica de juros do planeta.

 

Por Humberto Azevedo

 

Em sabatina realizada na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE), o atual diretor de política monetária do Banco Central do Brasil (BCB), Gabriel Galípolo, defendeu a “autonomia operacional” da instituição para cumprir suas funções e perseguir as metas que são estabelecidas pelo governo eleito democraticamente.

 

Galípolo, ex-vice-ministro da Fazenda no início da gestão do atual ministro Fernando Haddad, foi indicado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para substituir o atual presidente da autarquia que atua como órgão regulador do mercado financeiro, Roberto Campos Neto, que terá seu mandato encerrado no dia 31 de dezembro.

 

“Sou daqueles que defendem que o Banco Central não deveria nem votar na meta de inflação… [Mas] reforço aqui a necessidade de você ter uma estrutura institucional do Banco Central que permita a ele desempenhar suas funções”, falou quando questionado sobre o tema pelo senador Hiran Gonçalves (PP-RR).

 

Galípolo se esquivou, ainda, ao dizer peremptoriamente que o BCB adotará, ou não, juros mais baixos. Atualmente, o Brasil possui a segunda maior taxa básica de juros básica do planeta – atrás apenas da Federação Russa que se encontra em “operação militar” e em guerra com a Ucrânia financiada pelos Estados Unidos da América (EUA) e pela Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN).

 

“Cabe ao Banco Central perseguir essa meta de maneira inequívoca, colocando a taxa de juros num patamar restritivo necessário, pelo tempo que for necessário para se atingir esta meta. Essa é a função do Banco Central, é assim que funciona o arcabouço institucional e legal do Banco Central. E, de maneira nenhuma, a ideia de autonomia deve passar uma ideia de que o Banco Central vai se insular e virar as costas ao poder democraticamente eleito. Não se trata disso. Ocorrem legislações novas diariamente, que podem alterar a atuação do Banco Central, e ao Banco Central não cabe legislar”, complementou ao responder a senadora Tereza Cristina (PP-MS).

 

“Agora, quem está lá como diretor do Banco Central já há algum tempo, eu reforço aqui a visão de preocupação do ponto de vista da necessidade de você ter um arcabouço institucional e uma estrutura institucional do Banco Central que permita a ele desempenhar suas funções, tanto naquilo que foi dito aqui, que envolve a questão de pessoal, a gente teve uma redução bem grande do número de pessoal, seja por questões de aposentadoria, que eu acho que é a questão mais relevante”, completou.

 

ESTÁGIO DIFERENTE

 

Insistido sobre o tema de juros por quase todos os senadores, Galípolo reforçou que todas as decisões do BCB continuarão a ser adotadas de maneira técnica e que nunca foi pressionado pelo presidente Lula a se comportar a favor de uma tese para a baixa dos juros. Segundo ele, o que a economia brasileira dá mostras é de que está “num estágio diferente de boa parte das economias do mundo”.

 

“Se a gente pegar, por exemplo, o início dos anos 2000, a gente tinha ali uma série de fatores que colaboravam: China crescendo, exportando desinflação, porque ela tinha ganhos de produtividade com bens industriais, e importando commodities; Estados Unidos e Europa com taxas de juros baixas, jogando liquidez no mundo. Hoje, se a gente vai olhar: o Japão está começando a subir juros depois de muito tempo; a China num processo de desaceleração econômica; os Estados Unidos um pouco nessa discussão se ele vai fazer – para usar a metáfora da aterrissagem – uma aterrissagem suave ou uma aterrissagem mais abrupta; a Europa também num processo de desaceleração”, comentou.

 

“Os dados que a gente vê do Brasil são: o desemprego na mínima da série histórica; a gente vê a renda com um crescimento acima de 12% desde o início de 2023, e provavelmente uma combinação entre inflação e desemprego que vai estar entre as melhores desde o início do plano real; a indústria no máximo da capacidade instalada nos últimos 11 anos; o serviço, no máximo dos últimos dois; e assim sucessivamente. A gente vai encontrar diversos dados que sugerem uma economia que não está num processo de desaceleração, é uma economia que parece se apresentar pujante”, avaliou.

 

“Isso não é ruim, mas cabe ao Banco Central… A bola que o Banco Central tem que estar com o olho é na inflação. O que isso sugere ao Banco Central? O que a gente deve assistir a um processo de desinflação mais lento e mais custoso. Como ao Banco Central não cabe correr risco, a função dele é ser mais conservador para garantir que a taxa de juros esteja no patamar necessário para se atingir a meta que foi definida”, emendou.

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