Consumo nacional movimentará R$ 7,3 trilhões em 2024, aponta estudo

Embora em ritmo menor, empresa “Pesquisa IPC Maps” prevê alta de 2,5%. A região Nordeste responderá por R$ 1,3 trilhão no ano de 2024 na aquisição de bens de consumo.

 

Por Humberto Azevedo

 

Ao longo de 2024, as famílias brasileiras deverão desembolsar cerca de R$ 7,3 trilhões com os mais diversos itens de bens de consumo, o que representa um aumento real de 2,5% em relação ao ano passado, 2023. A conclusão, seguindo a atual expectativa do Produto Interno Bruto (PIB) de 2,2%, é da “Pesquisa IPC Maps”, empresa especializada há 30 anos no cálculo de índices de potencial de consumo, com base em fontes oficiais.

 

Segundo Marcos Pazzini, da editora IPC Marketing, responsável pelo estudo, esse incremento ainda é baixo em comparação ao verificado em 2023 (de 3,1%) e em 2022 (de 4,3%) mas, ainda assim, mostra que o país vem se recuperando no cenário pós-pandêmico.

 

Com um volume maior de dinheiro em circulação, aumenta a quantidade de novas empresas no território nacional. O levantamento aponta um acréscimo de 8,1% no perfil empresarial, resultando em quase 2 milhões de unidades abertas recentemente nos setores de indústria, serviços, comércio e agribusiness.

 

“Até 2019, nossa economia crescia a passos bem lentos, na média de 1% ao ano. Em 2020, veio a Covid-19 e derrubou brutalmente a economia mundial como um todo e, depois disso, o Brasil felizmente conseguiu se levantar e passou a apresentar índices maiores de crescimento”, avalia.

 

INTERIOR

 

O trabalho reforça, ainda, a tendência de queda na participação das 27 capitais no mercado consumidor (de 27,95% para 27,80%), como ocorreu nos últimos anos. Em baixa, também, estão as regiões metropolitanas, que passam a responder por 45,06%, em detrimento do interior, que aumenta sua presença para 54,94% no cenário brasileiro. Pazzini lembra que, de 2023 para 2024, a quantidade de empresas subiu 9,2% no interior e 7,0% nas capitais e regiões metropolitanas, contra 8,1% da média nacional.

 

“Esse cenário pode ser explicado pela escalada do home office, pois mesmo que a empresa funcione em grandes centros, ela não necessita mais de grandes áreas de escritórios e essa modalidade de trabalho passou a ser mais frequente após a pandemia”, afirma.

 

TRANSPORTE

Quanto aos hábitos de consumo, esta edição da “IPC Maps” reitera a elevada despesa com veículo próprio, chegando a comprometer 12,5% do orçamento familiar. Não por acaso, esse comportamento vem acontecendo desde 2020, no início da pandemia, em função da crescente demanda por transportes via aplicativos e deliverys, tanto pelo consumidor, quanto pelos trabalhadores. De tão altos, tais gastos vêm superando outros setores, inclusive o de alimentação e bebidas no domicílio.              

 

Marcos Pazzini ressalta que, até o fechamento desta edição, a expectativa era de otimismo para a região Sul do país. Entretanto, devido à tragédia provocada pelas enchentes no estado do Rio Grande do Sul, atingindo a grande maioria dos municípios e afetando mais de 2,1 milhões de gaúchos, não há como prever ao certo o cenário de consumo, sobretudo regional, ao longo dos próximos meses de 2024.          

 

PERFIL BÁSICO

 

O Brasil possui cerca de 205,5 milhões de cidadãos, segundo projeções feitas pela “IPC Marketing”, após a divulgação dos primeiros resultados do censo de 2022. Destes, 174,3 milhões moram na área urbana e são responsáveis pelo consumo per capita de R$ 38,9 mil, contra R$ 17,3 mil da população rural. 

 

BASE CONSUMIDORA

 

Tradicionalmente, a classe B2 lidera o panorama econômico, representando cerca de R$ 1,7 trilhão dos gastos. Junto à B1, pertencem a 21,8% dos domicílios, assumindo 42,3% (mais de R$ 2,8 trilhões) de tudo que será desembolsado pelas famílias brasileiras.

 

Presentes em quase metade das residências (47,8%), C1 e C2 totalizam R$ 2,2 trilhões (33,1%) dos recursos gastos. O grupo D/E, por sua vez, ocupando 27,8% das moradias, consumirá cerca de R$ 675,8 bilhões (10%). Embora em menor quantidade (apenas 2,6% das famílias), a classe A ampliou sua movimentação para R$ 990,9 bilhões (14,6%), distanciando-se cada vez mais da população de baixa renda.

 

Já na área rural, o montante de potencial de consumo deve chegar a R$ 540,3 bilhões (7,4% do total) até o final do ano.

 

PERFIL EMPRESARIAL

 

Entre abril de 2023 a abril de 2024, a quantidade de empresas no Brasil disparou, numa alta de 8,1%, somando 23.979.576 unidades instaladas. Destas, mais de 60% (14.663.004) são Microempreendedores Individuais (MEIs), responsáveis pela criação de mais de 1,1 milhão novos Cadastros Nacionais de Pessoas Jurídicas (CNPJs) no período.

 

Dentre as companhias ativas, a maioria (13,7 milhões) refere-se a atividades relacionadas a Serviços; seguida pelos segmentos de comércio, com 5,6 milhões; indústrias, 3,8 milhões; e agribusiness, contando com mais de 837 mil estabelecimentos. 

 

CENÁRIO REGIONAL

 

A região sudeste mantém a liderança no ranking das regiões, respondendo por 48,9% do consumo nacional. Na sequência, vem a Sul, com uma representatividade de 18,6%, sendo quase alcançada pela Nordeste, com 17,9%. Na quarta posição está Centro-Oeste, aumentando sua fatia para 8,7%, e por último, a Região Norte, perdendo espaço para 5,9%.

 

MERCADOS POTENCIAIS

 

O desempenho dos 50 maiores municípios equivale a R$ 2,804 trilhões, ou 38,3% de tudo o que será consumido em território nacional. De 2023 para cá, os principais mercados vêm mantendo suas posições, sendo, em ordem decrescente: São Paulo (SP), Rio de Janeiro (RJ), Brasília (DF), Belo Horizonte (MG), Curitiba (PR), Salvador (BA) e Fortaleza (CE), entre outros. Cidades metropolitanas ou interioranas, como Santo André (SP), 15º; São Bernardo do Campo (SP), 17º; Ribeirão Preto (SP), 18º; São José dos Campos (SP), 20º; Sorocaba (SP), 21º; Uberlândia (MG), 22º; e São Gonçalo (RJ), 24º; também se sobressaem nessa lista.

 

GEOGRAFIA DA ECONOMIA

 

Em relação à distribuição de empresas no âmbito nacional, a região sudeste segue no topo, abrigando mais da metade (51,8%) das corporações. Em seguida, estão o Sul, com 18,9%, o Nordeste, com 16,2%, o Centro-Oeste com 8,4%, e, por fim, perdendo representatividade nos negócios, aparece o Norte e seus 4,6%.

 

Já, partindo para a análise quantitativa para cada mil habitantes, a pesquisa “IPC Maps” reflete uma melhoria geral. A começar pelo Nordeste e Norte que, mesmo nas últimas posições, evoluíram para, respectivamente, 70,58 e 62,80 corporações/mil habitantes. As demais regiões seguem em vantagem, contando com 149,06 (Sul), 145,10 (Sudeste) e 120,74 (Centro-Oeste) companhias/mil habitantes.

 

HÁBITOS DE CONSUMO

 

Sobre as preferências dos consumidores na hora de gastar sua renda, o realce continua sendo para a categoria de veículo próprio, cujas despesas devem somar R$ 797,8 bilhões, comprometendo 12,5% do orçamento familiar, em detrimento de outros segmentos, como alimentação e bebidas no domicílio, que respondem por 11% da renda doméstica.

 

Ainda assim, os itens básicos são prioridade, com grande margem sobre os demais, conforme a seguir: 26,9% dos desembolsos destinam-se à habitação (incluindo aluguéis, impostos, luz, água e gás); 19,8% outras despesas (serviços em geral, reformas, seguros etc.); 7,1% são medicamentos e saúde; 4,9% alimentação e bebidas fora de casa; 4% materiais de construção; 3,8% educação; 3,6% vestuário e calçados; 3,5% recreação, cultura e viagens; 3,4% higiene pessoal; 3,2% móveis, artigos do lar e eletroeletrônicos; 1,5% transportes urbanos; 0,6% para artigos de limpeza; 0,5% fumo; e finalmente, 0,2% refere-se a joias, bijuterias e armarinhos.    

 

FAIXAS ETÁRIAS

 

A população de idosos continuará crescendo, chegando a 32,4 milhões em 2024. Na faixa etária economicamente ativa, de 18 a 59 anos, essa margem está praticamente em 124 milhões, o que representa 60,2% do total de brasileiros, sendo mulheres em sua maioria. Em crescimento mais lento, estão os jovens e adolescentes entre 10 e 17 anos, que somam 22,6 milhões, sendo superados por crianças de até 9 anos, que segue na média de 26,8 milhões.

 

RECORTE NORDESTINO

 

As famílias nordestinas deverão desembolsar cerca de R$ 1,3 trilhão no ano de 2024 na aquisição de bens de consumo. Os dados também fazem parte do estudo realizado pela “IPC Marketing Editora”, que aponta que os estados da Bahia e Pernambuco lideram a região com os maiores consumos da região. Segundo projeções feitas pela empresa de consultoria, a região Nordeste terá um crescimento de 0,55% no potencial de consumo em comparação com o resultado de 2023.

 

A Bahia é o estado que lidera o consumo na região, seguido por Pernambuco e Ceará. Quando analisada a relação entre as capitais nordestinas, Salvador segue liderando o consumo, seguida de Fortaleza (CE) e Recife (PE). No ranking nacional, a Bahia é o sétimo estado e Pernambuco o nono. Os dados da pesquisa apontam que a região segue algumas tendências observadas a âmbito nacional. Os principais gastos das famílias no Nordeste tendem a ser com habitação, veículo próprio e alimentação em domicílio. Um detalhe importante é que o consumo é mais alto entre as classes B e C.

 

HABITAÇÃO

Segundo os dados disponibilizados pelo “IPC”, a habitação tem potencial de gasto de mais de R$ 244 bilhões; com veículo próprio mais de R$ 122 bilhões e alimentação em domicílio mais de R$ 134 bilhões.

 

“Em 2023 a participação da região Nordeste no cenário brasileiro era de 17,80935%; e em 2024 será de 17,90676%, o que representará mais R$ 7,1 bilhões no bolso da população desta região”, avalia Pazzini.

 

MAIS EMPRESAS NO NORDESTE

 

Na análise de quantidade de empresas, o desempenho da Região Nordeste segue o padrão do Brasil, com aumento na quantidade de estabelecimentos de todos os setores. O setor do agronegócio teve o maior aumento percentual, com 12,4% em comparação às demais categorias.

 

Em 2023, a região abrigava 23.205 negócios deste segmento e em 2024 eles aumentaram para 26.071. Logo em seguida, vem o setor de Serviços, que cresceu 8,5% no comparativo entre 23/24; seguido do setor de Indústria, que cresceu 5,3% e do comércio, que cresceu 1,9% entre 2023 e 2024.

 

Outro fator positivo da região foi o crescimento de domicílios urbanos por classe econômica. As maiores altas foram nas classes D/E e C, respectivamente. A classe D/E aumentou em 203.904 o número de domicílios, a classe C subiu 186.263, já a os domicílios de classe B aumentaram 45.349 e entre a classe A foram novos 2.848.

 

“Na análise de domicílios urbanos por classe econômica, houve crescimento em todas as classes da pirâmide social, o que explica o fato da região Nordeste ter crescido acima da média nacional entre 2023 e 2024”, explica Marcos Pazzini.

 

SOBRE O ESTUDO

 

Publicado anualmente pela “IPC Marketing Editora”, empresa que utiliza metodologias exclusivas para cálculos de potencial de consumo nacional, o “IPC Maps” destaca-se como o único estudo que apresenta em números absolutos o detalhamento do potencial de consumo por categorias de produtos para cada um dos 5.570 municípios do país, com base em dados oficiais, através de versões em softwares de geoprocessamento.

 

Este trabalho traz múltiplos indicativos dos 22 itens da economia, por classes sociais, focados em cada cidade, sua população, áreas urbana e rural, setores de produção e serviços etc., possibilitando inúmeros comparativos entre os municípios, seu entorno, estado, regiões e áreas metropolitanas, inclusive em relação a períodos anteriores. 

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