Célia Xakriabá solicita a museus europeus que devolvam mantos dos povos originais ao acervo cultural do Brasil

Pedido também foi feito pela deputada Erika Hilton; os artefatos e apetrechos pertencentes as civilizações nativas foram levadas para países europeus na época da colonização e hoje estão expostos nos principais museus de cidades europeias.

 

Por Humberto Azevedo

 

A vice-presidenta da Comissão da Amazônia e dos Povos Originais da Câmara dos Deputados, deputada Célia Xakriabá (PSOL-MG), uma das poucas representantes indígenas no Congresso Nacional, solicitou na última quinta-feira, 12 de setembro, aos museus europeus que devolvam os mantos dos povos originais expostos lá ao acervo cultural do Brasil.

 

O pedido também foi feito pela deputada Erika Hilton (PSOL-SP), uma ferrenha militante e defensora dos direitos humanos. Os artefatos apetrechos pertencem às civilizações nativas do Brasil, quando foram levadas para países europeus na época da colonização – durante os séculos XVI, XVII, XVIII e XIX – e hoje estão expostos nos principais museus de cidades europeias.

 

As duas parlamentares se uniram para solicitar a devolução por parte de instituições museológicas da Europa. Segundo elas, dez mantos tupinambás, importantes peças sagradas do povo originário da ancestralidade e do território brasileiro, expostas lá fora como símbolos do colonialismo europeu precisam ser devolvidas e fazer parte do acervo cultural do país.

 

As instituições europeias acionadas para a devolução dos mantos Tupinambás incluem o “Nationalmuseet”, em Copenhague na Dinamarca, que possui cinco mantos dos povos originários, sendo um em processo de devolução; o Museu “Quai Branly”, em Paris na França, que possui um manto; o “Basel Museum of Cultures”, na Basileia Suíça, que conta com outro manto; o “Musées Royaux d’Art et d’Histoire”, em Bruxelas na Bélgica; a Pinacoteca “Ambrosiana” de Milão na Itália; e o “Museo di Antropologia e Etnologia di Firenze”, em Florença também da Itália, contam cada um um com um manto das populações amerígenas.

 

“É importante dizer que trazer de volta todos esses utensílios para o Brasil é reparação histórica aos povos indígenas. Desde a invasão do Brasil, diversas peças foram levadas e os povos indígenas têm relação da memória e do próprio território”, explicou a deputada Célia Xakriabá. 

 

DOAÇÃO

 

A ação das deputadas acontece após o Museu Nacional da Dinamarca anunciar a doação de um dos mantos ao Brasil que foi devolvido oficialmente durante cerimônia ocorrida na última quinta-feira, 12 de setembro, na área externa do Palácio de São Cristóvão, sede do Museu Nacional, no Rio de Janeiro.

 

O Brasil conta com apenas onze mantos remanescentes do período colonial conhecidos. De acordo com a parlamentar, descendente da população verdadeiramente nativa do Brasil, é essencial preservar e conseguir a devolução dessas peças ao país, onde podem ser devidamente valorizadas e compreendidas em seu contexto original.

 

“Este manto, que está sendo devolvido hoje, e os outros que ainda continuam nos museus europeus, são carregados de espiritualidade e ancestralidade, pertencem ao povo Tupinambá, que foi dizimado durante a invasão do Brasil. Na época, havia cerca de um milhão de Tupinambás. Trazer de volta este manto sagrado, usado por líderes religiosos, é restaurar sua importância espiritual”, comemorou Xakriabá.

 

“Essa ação vai ao encontro do atual debate internacional sobre a restituição de artefatos culturais e históricos retirados de colônias por países exploradores. A recente devolução do fóssil do dinossauro Ubirajara jubatus pela Alemanha ao Brasil é um exemplo significativo dessa mudança de perspectiva, em que as nações de origem têm seus direitos culturais e históricos reconhecidos e valorizados”, finalizou a deputada Erika Hilton.

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