Brasil “considera injustificável e equivocada” tarifa de 25% imposta pelos EUA nas exportações sobre aço e alumínio do país
Para buscar uma solução, o governo brasileiro atuará com o setor privado para “defender os interesses dos produtores nacionais junto ao governo dos Estados Unidos”.
Por Humberto Azevedo
Em nota oficial emitida em conjunto pelos Ministérios do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDICS) das Relações Exteriores (MRE), o governo federal avalia como uma decisão “injustificável e equivocada” a adoção da tarifa de 25% imposta pelos governo dos Estados Unidos da América (EUA) nas exportações sobre aço e alumínio brasileiro para aquele país.
Visando buscar uma solução para o caso, o governo brasileiro afirma que atuará em conjunto com o setor privado para “defender os interesses dos produtores nacionais junto ao governo dos Estados Unidos”. Na nota, o governo federal afirma ainda que irá avaliar “todas as possibilidades de ação no campo do comércio exterior, com vistas a contrarrestar os efeitos nocivos das medidas norte-americanas, bem como defender os legítimos interesses nacionais, inclusive junto à Organização Mundial do Comércio (OMC)”.
“O governo brasileiro lamenta a decisão tomada pelo governo norte-americano no dia de hoje, 12 de março, de elevar para 25% as tarifas sobre importações de aço e de alumínio dos EUA provenientes de todos os países e de cancelar todos os arranjos vigentes relativos a quotas de importação desses produtos. Tais medidas terão impacto significativo sobre as exportações brasileiras de aço e alumínio para os EUA, que, em 2024, foram da ordem de [R$ 18,62 bilhões] US$ 3,2 bilhões”, inicia a nota emitida pelo MDICS e MRE.
“Em defesa das empresas e dos trabalhadores brasileiros e em linha com seu tradicional apoio ao sistema multilateral de comércio, o governo brasileiro considera injustificável e equivocada a imposição de barreiras unilaterais que afetam o comércio entre o Brasil e os Estados Unidos, principalmente pelo histórico de cooperação e integração econômica entre os dois países. Segundo os dados do governo estadunidense, os EUA mantêm um superávit comercial de longa data com o Brasil, que foi, em 2024, da ordem de [R$ 40,7 bilhões] US$ 7 bilhões, somente em bens”, continua a nota emitida pelo governo.
“No caso do aço, as indústrias do Brasil e dos Estados Unidos mantêm, há décadas, relação de complementaridade mutuamente benéfica. O Brasil é o terceiro maior importador de carvão siderúrgico dos EUA (US$ 1,2 bilhão) e o maior exportador de aço semi-acabado para aquele país ([R$ 12,8 bilhões] US$ 2,2 bilhões, 60% do total das importações dos EUA), insumo essencial para a própria indústria siderúrgica norte-americana”, finaliza a nota publicada pelo governo federal.
IMPACTO
De acordo com especialistas em comércio exterior, a taxação de 25% sobre as importações de aço e alumínio impacta a produção desses setores no Brasil, mas não o conjunto da economia.
O professor do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Luiz Carlos Delorme Prado afirmou que a possível taxação deve ter impacto nos setores atingidos, mas não deve causar maiores problemas para o conjunto da economia. O especialista acrescentou que o impacto será menor para o setor do alumínio.
“Embora a taxação seja muito importante para essas indústrias, para o conjunto da economia brasileira o impacto não é tão grande assim. O Brasil vai ter que redirecionar essas exportações, ou então, o que eu acho mais importante, tentar aumentar o consumo doméstico de aço. O Brasil tem alternativas. É diferente do México e do Canadá, que são muito mais dependentes do mercado americano”, explicou Prado.
“O setor pode sofrer indiretamente porque as exportações de produtos de alumínio do Canadá para os Estados Unidos podem cair, isso pode afetar as exportações brasileiras para o Canadá. Mas, de qualquer maneira, o impacto é menor”, completou.
Por outro lado, caso a taxação resulte em queda na produção desses produtos no Brasil, haverá perda econômica, de produtividade e de empregos nesses setores e nas demais áreas interligadas ao aço e ao alumínio, avaliou o economista, doutor em relações internacionais e CEO da Amero Consulting, Igor Lucena.
“No Brasil, você vai ter uma diminuição da fornalha, diminuição da cadeia produtiva e essa diminuição termina gerando queda da produção, que significa dispensa dos funcionários, queda do faturamento e até mesmo impacto na nossa balança comercial, com reflexos sobre o PIB”, comentou em entrevista à Agência Brasil.
NÚMEROS
O país da América do Norte é o maior comprador do aço brasileiro. Segundo dados do Instituto Aço Brasil, em 2022, os EUA compraram 49% do total do aço exportado pelo país. Em 2024, apenas o Canadá superou o Brasil na venda de aço aos Estados Unidos.
No caso do alumínio, a dependência dos EUA é menor. O país foi o destino de 15% das exportações de alumínio do Brasil em 2023. O principal comprador do alumínio brasileiro é o Canadá, que absorveu 28% das exportações desse produto naquele ano. Os dados são da Associação Brasileira do Alumínio (Abal).
Com informações da Agência Brasil.