Após aliado de Alckmin ameaçar Lula por “enxergar” aproximação “errática” com Putin e BRICS, líder petista no Senado responde: ataques ao BRICS acontece por bloco representar “supostamente” uma “oposição ao ‘ocidente asséptico’”
Especialista ouvido pela reportagem do portal “RDMNews” vê “discurso ideológico” que pode resultar em “likes”, mas completamente “inócuo”; “BRICS não é ideológico” e seu avanço é um “processo irreversível”.
Por Humberto Azevedo
Após o deputado federal Luiz Carlos Hauly (Podemos-PR), ameaçar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) por “enxergar” uma aproximação errática da diplomacia brasileira com o presidente russo Vladimir Putin e com o bloco econômico formado pelas duas nações em companhia com a África do Sul, China e Índia (BRICS), o líder do PT no Senado Federal, Beto Faro (PA), respondeu às críticas afirmando que os ataques ao BRICS são feitos por aqueles que entendem ser o bloco “supostamente” uma “oposição ao ‘ocidente asséptico’”.
Hauly é aliado do vice-presidente da República e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), Geraldo Alckmin (PSB). Segundo ele, tido como um dos “pais da reforma tributária”, em um vídeo publicado nas suas redes digitais nesta última segunda-feira, 28 de outubro, ele teria “dois recados” ao presidente e ao governo brasileiro: “o primeiro, não aos BRICs com a criação da moeda dos BRICs. Nós, do Brasil, temos compromisso com o ocidente”.
“Nossos aliados são os europeus, Estados Unidos e Canadá e as Américas. Nós não temos nada a ver com o Putin da Rússia e nem com a China”, disparou o ex-tucano paranaense se esquecendo de que apenas as exportações de commodities agrícolas brasileiras para a China representaram, em 2023, 31,1% do total – o que representou quase R$ 319 bilhões no período.
No vídeo, disponível em seu perfil nas redes digitais, Hauly falou mais: “Fazer uma moeda, que é a instituição, que é o país, é inadmissível. Veterano de oito mandatos, estarei empunhando a bandeira contra você, Lula, responsabilizando você de crime de lesa pátria”.
RESPOSTA
Na resposta às críticas surgidas ao BRICS após o último encontro de cúpula realizado na cidade de Kazan, na Rússia, entre os dias 22 a 24 de outubro, em que o presidente brasileiro participou apenas por videoconferência devido a um acidente doméstico dias antes de viajar, o líder petista no Senado retrucou em artigo publicado no site da liderança do PT naquela Casa federativa.
“O Brasil jamais embarcaria em qualquer ação internacional refratária aos EUA, por exemplo, país com o qual mantemos relações cooperativas históricas em todos os planos. (…) A aposta do Brasil no BRICS (…) visa a ajuda e cooperação com outros países emergentes na perspectiva da diversificação das parcerias para a facilitação do desenvolvimento do país, e do maior protagonismo do sul global na governança mundial, e no combate à fome e às desigualdades”, rebateu o senador Beto Faro.
Por fim, o especialista em assuntos e negócios com o BRICS, vinculado a Lide China, José Ricardo dos Santos Luz, ouvido pela reportagem do portal “RDMNews” vê na fala do parlamentar paranaense um “discurso ideológico” semelhante ao praticado pelo ex-presidente Jair Messias Bolsonaro (PL), que, segundo ele, pode resultar em “likes”, mas é completamente “inócuo”. De acordo com ele, o “BRICS não é ideológico” e o seu avanço é um “processo irreversível”.
Desde a 15º reunião de cúpula do BRICS ocorrida em 2023, na África do Sul, passaram a integrar o bloco como sócios plenos: Egito, Emirados Árabes Unidos, Etiópia e Irã. A Arábia Saudita, convidada também a integrar o BRICS, ainda não decidiu se aceita, ou não. A Argentina, convidada por decisão do Brasil no final da gestão do ex-presidente Alberto Fernandez, recusou o convite no início deste ano num dos primeiros atos do atual presidente de ultradireita Javier Milei.
O encontro do BRICS realizado na Rússia nos últimos dias, além do anúncio para a efetivação do “BRICS Pay” – que promete ser uma alternativa a Sociedade mundial das comunicações financeiras (Swift, sigla em inglês) e, talvez, na criação de uma moeda comum do bloco para facilitar as operações financeiras entre os países membros do BRICS, também avançou no ingresso de 13 países como integrantes parceiros, que deverão ter suas entradas oficializadas no encontro de cúpula do próximo ano que acontecerá no Brasil.
Das treze nações que foram incluídas como parceiros do BRICS se destaca a Turquia, por esta ser membro da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN). A entrada da Turquia é vista como uma demonstração da insatisfação turca com a União Europeia, visto que em todas as vezes que tentou ingressar no bloco econômico europeu, o país que se situa estrategicamente na fronteira dos continentes africano, asiático e europeu, teve sua entrada vetada. Além da Turquia, estão em fase de ingresso no BRICS como sócios-parceiros a Argélia, Bielo Rússia, Bolívia, Cazaquistão, Cuba, Indonésia, Malásia, Nigéria, Tailândia, Uganda, Uzbequistão e Vietnã.