Alcolumbre repreende Plínio Valério por querer enforcar Marina Silva
A ministra do Meio Ambiente chamou o senador amazonense de “psicopata”, que após a repercussão do caso disse que sua fala não passou de brincadeira e que não pediria desculpas.
Por Humberto Azevedo
O presidente do Senado, senador Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), repreendeu nesta última quarta-feira, 19 de março, o senador Plínio Valério (PSDB-AM) por este ter declarado que tinha vontade de enforcar a ministra do Meio Ambiente, durante as audiências da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI), que investigou a atuação das Organizações Não Governamentais (ONGs) na região amazônica.
As declarações de Plínio Valério ocorreram na última sexta-feira, 14 de março, em um evento fechado da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (Fecomércio) do estado do Amazonas, mas só vieram a público apenas na última terça-feira, 18 de março.
“Uma fala de um senador da República, mesmo que de brincadeira ou com tom de brincadeira, agride, infelizmente, o que nós estamos querendo para o Brasil. Estamos vivendo em um país dividido e polarizado, o que está fazendo mal para as pessoas, e uma fala dessa só serve como combustível para essas agressões que estamos vendo nas famílias e na sociedade brasileira, onde todos acham que têm o direito de ofender e agredir uns aos outros “, ponderou o presidente da Casa.
“A gente tem o direito de falar qualquer coisa, a gente tem o direito e o voto de divergir, de votar de uma maneira ou de outra, mas uma fala dessa foi muito infeliz”, criticou Alcolumbre.
RESPOSTA DA MINISTRA

A ministra do Meio Ambiente e deputada federal licenciada, Marina Silva (Rede-SP), afirmou durante o programa “Bom dia, ministra” da Empresa Brasileira de Comunicação (EBC) que o senador Plínio Valério teria se comportado como um “psicopata” por ter falado, por “brincadeira” ou não, que poderia enforcá-la.
“BRINCADEIRA”
Diante do posicionamento do presidente do Senado, Plínio Valério subiu à tribuna e afirmou que a fala foi “uma brincadeira”, referindo-se a uma audiência da CPI das ONGs, em novembro de 2023.

Na ocasião, a ministra, segundo Plínio, foi tratada com “toda decência”. Contudo, o senador, que presidiu o colegiado, apontou que ficou irritado diante das negativas da ministra em liberar obras na BR-319, rodovia vital para o Amazonas. Liberação que foi autorizada recentemente nos trechos que abrangem o estado de Rondônia.
“Por ser mulher, por ser ministra, por ser negra, por ser frágil, foi tratada com toda a delicadeza; ela sabe disso. Um ano se passou e eu fui receber uma medalha e, na brincadeira, em tom de brincadeira, eu falei, falando da BR-319, eu disse: “Imaginem o que é ficar com a Marina seis horas e dez minutos sem ter vontade de enforcá-la”. Todo mundo riu, eu ri, brinquei. Foi brincadeira.”, disse.
REPERCUSSÃO

A bancada feminina no Senado saiu em peso na defesa da ministra Marina e elogiou o posicionamento do senador Davi Alcolumbre. Eliziane Gama (PSD-MA), argumentou que a divergência faz parte do processo democrático, mas que “ódio” é inaceitável.
“Se quer divergir das ideias, das discussões, dos projetos, que divirja; isso faz parte do processo democrático. Agora, ter falas que incitam, por exemplo, o ódio, a discórdia, é algo terrível e não se pode admitir. Com a devida vênia e respeito que tenho ao meu colega senador Plínio, e o grande respeito que tenho à senadora e nossa ministra Marina Silva, isso é inaceitável, isso é inadmissível”, disse a senadora maranhense.
A senadora Leila Barros (PDT-DF) classificou a atitude de Plínio Valério como um exemplo do que as mulheres sofrem cotidianamente.
“Não me interessa o contexto em que as pessoas falam: se é uma brincadeira, uma piada, numa roda de amigos ou um discurso. Não é normal. Isso é inaceitável. Figuras públicas, pessoas, seja um presidente, seja um senador, seja um advogado, seja um mecânico; qualquer homem, qualquer cidadão neste país tem que respeitar a mulher. Estamos perdendo tempo, dando um péssimo exemplo para o exterior, cada um justificando o que fez “, disse.
A senadora Teresa Leitão observou que a violência contra as mulheres se estende por todas as esferas da sociedade.
“A violência contra a mulher ganha tantos contornos. Ela se manifesta contra uma ministra de Estado, uma Parlamentar, uma militante e contra qualquer mulher que, porventura, queira se posicionar ou, na visão machista e misógina, contrarie alguns interesses”, afirmou a senadora.
Em nota, a procuradora especial da mulher do Senado, Zenaide Maia (PSD-RN), declarou repúdio à atitude de Plínio Valério e sugeriu que o senador se desculpe publicamente. Zenaide disse ainda considerar “gravíssimo” ver um membro do parlamento cometer um “explícito ato de violência de gênero contra uma mulher”.
“As credenciais da ministra Marina, autoridade mundial em sustentabilidade, defesa dos recursos naturais e mudanças climáticas, nem precisariam ser elencadas, porque toda violência contra toda mulher tem que ser evitada, combatida e, sim, punida. Toda a minha solidariedade à ministra Marina Silva. Se o senador agrediu uma ministra, agrediu também a todas nós parlamentares e a todas as brasileiras. Todas nós somos Marina”, afirma a nota emitida pela senadora Zenaide.
“NÃO FARIA DE NOVO”
Para o senador, parlamentares ficaram mais sensibilizados com a fala dele sobre Marina do que com as mortes por covid-19 no Amazonas, devido à dificuldade de o oxigênio chegar às principais cidades do estado. Ele acrescentou que não se “excedeu”, mas “brincou fora de hora” e que “não está arrependido”, mas “não faria de novo”. Ele disse também que não iria se desculpar.
“Agora, o que me encanta é o Senado ficar sensibilizado com uma frase e não se sensibilizar com milhares de mortos e não me ajudarem a licenciar a BR-319. Eu não me excedi, eu brinquei talvez fora de hora, mas não me excedi. Se você perguntar: Você faria de novo?. Não. Mas está arrependido? Não, porque eu não ofendi. Eu passei seis horas e dez minutos tratando-a com decência, como merece toda mulher”, emendou.
Plínio afirmou ainda que sempre votou e propôs projetos para melhorar a vida das mulheres e negou ser machista.
“Eu fiquei viúvo, casei de novo, tenho três filhas, uma enteada, seis netas, três irmãs. As mulheres que trabalham no meu gabinete estão aqui. Esse negócio de machista… Repito, na minha casa, com uma mulher, quatro filhas, seis netas e três irmãs, todas as mulheres aqui, nenhuma tem queixa. Eu não as trato mal, então isso para mim não pega”, apontou.
MAS SEM DESCULPAS

Então, Eliziane Gama aconselhou o senador Plínio Valério a pedir desculpas. Em resposta, o senador disse que Marina também deveria pedir desculpas a ele, já que a ministra o classificou de “psicopata”.
“Ela me chamou de psicopata. Empatou. Não vou processá-la por isso”, acrescentou o senador.
Com informações de assessoria.