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Apresentado no fórum empresarial do BRICS, realizado no Centro Internacional de Comércio de Moscou, a plataforma BRICS mostrou as várias tecnologias que suportam o aplicativo, que tem como objetivo facilitar transações como remessas e pagamentos no varejo. O BRICS Pay surge em um momento em que diversos países sancionados pelos Estados Unidos da América (EUA) estão promovendo esforços de desdolarização, oferecendo uma nova forma de conduzir transações internacionais. (Foto: Divulgação / Agência Brics-Russia 2024)

“A expansão no número de membros demonstra que a missão do BRICS está sendo cumprida com sucesso”, avalia consultor da Frente Parlamentar no Congresso Nacional do Brasil

De acordo com Rafael Gontijo, atualmente morando na China para pesquisar sobre a importância do bloco na construção de um mundo mais cooperativo e solidário, as vozes do Sul Global são “indispensáveis ​​na criação de um futuro melhor”.

 

Por Humberto Azevedo

 

Com base na defesa de ações multilaterais com objetivo de promover o diálogo, a cooperação e a solidariedade, os países que integram o BRICS estão desempenhando um papel cada vez mais importante no mundo, especialmente em áreas estratégicas como infraestrutura e energia renovável. 

 

Essa avaliação é do consultor da Frente Parlamentar do BRICS no Congresso Nacional do Brasil, Rafael Gontijo, em uma entrevista publicada num dos principais jornais chineses “Global Times”, no dia 22 de outubro, dias antes da realização da 16ª cúpula do BRICS, que foi realizada em Kazan, na Rússia, até a data de 24 de outubro.

 

O encontro em Kazan é a primeira reunião do grupo após o ingresso de quatro novos países. Em 2023, Egito, Emirados Árabes Unidos, Etiópia e Irã ingressaram no bloco como membros plenos, se juntando a Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul que fundaram o colegiado em 2009. Também convidadas a integrar o BRICS, Arábia Saudita ainda não respondeu se aceita, ou não, o convite que já foi recusado pela Argentina.

 

A convite da Rússia, anfitriã do encontro de cúpula deste ano, mais de 30 delegações participaram da reunião. A ideia tem atraído muitos países com objetivo de se juntar ao grupo nos últimos dois anos. Ao final, 13 nações iniciaram seus processos de ingresso junto ao BRICS como sócios parceiros e ou observadores do BRICS, que foram Argélia, Bielo Rússia (Belarus), Bolívia, Cazaquistão, Cuba, Indonésia, Malásia, Nigéria, Tailândia, Turquia, Uganda, Uzbequistão e Vietnã.

 

Gontijo observou que viu com muito otimismo sobre mais países se juntarem ao mecanismo de cooperação do BRICS no futuro, e a adição de novos estados-membros, agora, em fase de membros observadores e ou parceiros, que deverão ter suas entradas oficializadas em 2025 durante a 17ª reunião de cúpula do BRICS que acontecerá no Brasil. Segundo o estudioso, isso aumentará a atratividade e a influência cada vez mais do bloco.

 

“As vozes dos países emergentes são indispensáveis ​​na criação de um futuro melhor. Um senso de coesão entre os países emergentes pode ser eficaz para a implementação de mudanças urgentes na governança global”, comentou o especialista BRICS que atualmente se encontra na China para cursar o seu mestrado sobre a economia solidária proposta pelo bloco.

 

Entretanto, Rafael Gontijo acredita que os critérios para incluir novos membros ao BRICS devam ser mais claros, estabelecendo categorias como sócio-fundadores, sócios diretores, sócios plenos, sócios parceiros e sócios observadores. Isso, de acordo com ele, seria fundamental para entender “quem é quem” e “quem faz o quê”.

 

MAIOR QUE O G7

 

Dados públicos mostram que a expansão do BRICS, que reúne além dos cinco países fundadores, as quatro novas nações que ingressaram como membros plenos e os 13 países que estão em fase de ingresso como observadores ou parceiros, responde agora por quase metade da população global, um quinto do comércio do planeta, e sua produção econômica total, quando calculada pela paridade do poder de compra, já ultrapassou a dos sete países mais ricos do mundo (G7) formado por Alemanha, Canadá, Estados Unidos da América, França, Itália, Japão e Reino Unido (Inglaterra).

 

Com o ingresso dos 17 novos países, o Produto Interno Bruto (PIB) do BRICS aumentou de 31,6% para 35,6%. Além disso, a participação dos países do BRICS nas exportações mundiais de petróleo bruto que era de 15% saltou para 36%. Diversos analistas, dentre eles Rafael Gontijo, acreditam que, sob a liderança dos países do BRICS, o Sul Global acelerará a sua ascensão nos próximos anos.

 

Gontijo acredita, ainda, que os países do BRICS e o Sul Global desempenham um papel fundamental na promoção de uma ordem mundial multipolar. Segundo ele, o Novo Banco de Desenvolvimento (NDB) está se tornando uma plataforma importante para ajudar os países em desenvolvimento a superar a pobreza, fornecendo financiamento para a construção de infraestrutura, ao mesmo tempo em que visa o crescimento econômico sustentável.

 

“O Novo Banco de Desenvolvimento é, por exemplo, uma plataforma importante para superar a pobreza nos países em desenvolvimento”, disse ele.

 

NOVA HEGEMONIA

 

O consultor sênior também observou que, por meio das ações de cooperação do BRICS e da iniciativa do governo chinês de estabelecer uma nova rota comercial apelidada de “Nova rota e cinturão da seda” está se consolidando a hegemonia tanto do BRICS, como da China, em todo o Sul Global – nova nomenclatura que nas décadas anteriores eram chamados de “países subdesenvolvidos” e “países em desenvolvimentos”.

 

Na América Latina, as nações da região também registram benefícios com o estabelecimento da parceria comercial tanto com o BRICS, quanto com a China. A parceria se dá com base em acordos celebrados que todas as partes ganham. Esta iniciativa é chamada pelos diplomatas do BRICS de “ganha-ganha”.

 

BRICS PAY

 

Além disso, a cooperação entre os países do BRICS, no setor financeiro, com o início da efetivação da plataforma BRICS Pay, que é um sistema alternativo de pagamento para que os países e empresas possam transacionar seus produtos fugindo do lastreamento da moeda estadunidense, o dólar, e das amarras hoje oferecidas unicamente pela Sociedade mundial das comunicações financeiras (Swift, sigla em inglês), Gontijo avalia que a redução da dependência do dólar americano permitiria a construção de uma estrutura financeira global mais equilibrada.

 

Neste sentido, o ministro das finanças da Rússia, Anton Siluanov, afirmou: “o FMI [Fundo Monetário Internacional] e o Banco Mundial não estão desempenhando seus papeis. Eles não estão trabalhando no interesse dos países BRICS. (…) É necessário formar novas condições ou mesmo novas instituições, semelhantes às instituições de Bretton Woods, mas dentro da estrutura da nossa comunidade, dentro da estrutura do BRICS”.

 

“A redução da dependência do dólar americano é uma medida estratégica para os países em desenvolvimento. Na verdade, as moedas locais já estão sendo usadas em transações comerciais entre os países do Sul Global”, comentou o assessor da Frente Parlamentar do Congresso Nacional do BRICS, enfatizando que se uma moeda comum entre os membros do bloco com países parceiros poderia ser estabelecida no futuro, sendo isso uma “conquista notável”.

 

Gontijo também observou que há desafios que não devem ser ignorados, enfatizando as diferenças econômicas significativas entre os países do BRICS, agravadas pela falta de um banco central comum, o que significa que a formação de uma moeda comum do BRICS ainda tem um longo caminho a percorrer. 

 


ADESÃO DO BRASIL

 

Sobre a adesão do Brasil à “nova rota da seda”, Rafael Gontijo expressa confiança de que o país, em breve, vai aderir a esta iniciativa chinesa. Segundo ele, isso será um “grande marco” para a cooperação econômica e comercial entre os dois países e tornará os investimentos em infraestrutura entre os dois países num potencial ainda maior do que já é atualmente. Hoje, o Brasil conta com várias instalações chinesas nos mais variados setores como energia, transporte, logística etc.

 

“Vejo um grande potencial de cooperação entre os dois países em vários setores: agronegócio, energias renováveis, infraestrutura, petróleo e gás, mineração, telecomunicações e esportes, entre outros”, completou.

 

Com adaptações a partir do texto publicado pelo jornal “Global Times” em 22 de outubro de 2024.

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