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‘Marco temporal é uma vergonha’, diz Ailton Krenak em Brasília, onde está para exposição de fotos

Krenak é primeiro indígena na Academia Brasileira de Letras. Curador da exposição do fotógrafo Hiromi Nagakura, que começa nesta terça (11) no CCBB, filósofo fala ainda sobre desastres ambientais e importância das línguas indígenas

Por g1

O filósofo e poeta Ailton Krenak está em Brasília para o lançamento da exposição “Hiromi Nagakura até a Amazônia com Ailton Krenak”, que começa nesta terça (11), no CCBB. Ele é um dos curadores da mostra que apresenta imagens registradas em viagens de Nagakura e Krenak feitas entre 1993 e 1998 (saiba mais abaixo).

Em entrevista para o g1, o ativista indígena conta detalhes da exposição, diz que o debate sobre o marco temporal “é uma vergonha”, avalia os desastres ambientais e também a atuação da Academia Brasileira de Letras (ABL).

Ailton Krenak é o primeiro indígena eleito para a ABL e diz que se identifica como um contador de histórias. Seu interesse na instituição “voltada para a língua portuguesa” é a “sinfonia de 300 línguas”, afirma, ao se referir à língua dos povos originários.

Meio ambiente

Ailton Krenak diz que as enchentes no Rio Grande do Sul ganharam destaque pelo impacto dramático na região.

“O pessoal de Porto Alegre agora que vai ter que se debater com a lama que vai ficar impregnada na memória deles por muito tempo, além da dificuldade de recuperar economicamente aquela região do país.”

Mas ele também chama atenção ao degelo das calotas polares e os extremos climáticos.

“Esse desequilíbrio vai cair na nossa cabeça, pode ser na forma de muita chuva, mas pode ser também na ausência total de chuva por períodos que nós não estamos preparados para sobreviver a eles. É muito dramático.”

Krenak diz que existe um entendimento de que a Amazônia funciona como um regulador do sistema global. Para ele, “é um pouco exagerado”, considerando que outros ecossistemas contribuem da mesma maneira, como os oceanos.

O ambientalista diz que foi perdido o prazo para evitar os danos ambientais e que chegou o momento de mitigar danos em todo o planeta.

“Os eventos climáticos não são resultado de uma coisa que aconteceu agora. Eles estão voando no tempo e vão cair na nossa cabeça no momento menos esperado.”

‘Vergonha’ do Marco Temporal

“Esse Marco Temporal é uma excrescência jurídica que não deveria sequer ser considerado um assunto constitucional. O STF já disse que isso é inconstitucional. Eu tenho vergonha desse debate.”

O marco temporal determina que são consideradas terras tradicionalmente indígenas apenas aquelas que, na data da promulgação da Constituição (5 de outubro de 1988), já eram ocupadas ou disputadas pelos indígenas.

No ano passado, o Supremo Tribunal Federal (STF) considerou a tese do marco inconstitucional. Já o Congresso Nacional aprovou a proposta, que acabou vetada pelo presidente Lula, no entanto, senadores e deputados derrubaram o veto e o marco temporal virou lei.

“Eu acho uma miséria que o Congresso tenha tempo para esse tipo de polêmica e não tenha tempo para legislar sobre assuntos importantes da pauta ambiental”.

Primeiro indígena na ABL e as línguas dos povos originários

Ailton Krenak é o primeiro indígena a ocupar uma cadeira na Academia Brasileira de Letras (ABL). Ele tomou posse em abril de 2024, na sede da instituição no Centro do Rio de Janeiro (veja vídeo acima).

O escritor diz que a ABL, por muito tempo, foi um colegiado voltado para a língua portuguesa, com o objetivo de expandir a lusofonia. No entanto, Krenak diz que o seu interesse na instituição é a “sinfonia de 300 línguas”.

“Eu não estou interessado na difusão da língua portuguesa. Quando eu entrei na Academia Brasileira de Letras, entrei como uma espécie de aquele que veio para desafinar o ‘coro dos contentes’.”

O ativista conta que deseja criar uma plataforma de línguas indígenas na ABL, para divulgar e ensinar a diversidade linguística do país.

Exposição ‘Hiromi Nagakura até a Amazônia com Ailton Krenak’ no CCBB Brasília

Foto da exposição “Hiromi Nagakura até a Amazônia com Ailton Krenak”. — Foto: Hiromi Nagakura
Foto da exposição “Hiromi Nagakura até a Amazônia com Ailton Krenak”. — Foto: Hiromi Nagakura

Ailton Krenak é o curador da exposição “Hiromi Nagakura até a Amazônia com Ailton Krenak”. A mostra, que começa nesta terça (11), vai até o dia 18 de agosto, com entrada gratuita. Para Krenak, a exposição permite revisitar regiões da Amazônia que hoje não existem mais.

“Eu fui abençoado”, diz sobre a oportunidade de trabalhar com Hiromi Nagakura,” diz Ailton Krenak.

A exposição é uma homenagem ao fotógrafo japonês. Krenak conta que os visitantes também podem ver imagens feitas em outros continentes. Para ele, um dos motivos de promover a exposição é mostrar a Amazônia através de outros olhos.

“Foi ele [Hiromi Nagakura] que selecionou as imagens que ele queria que mostrasse no Brasil. O que a gente fez foi só dispor as imagens da maneira que ele achava ideal contar a história dessas imagens”, explica Krenak.

Hiromi Nagakura até a Amazônia com Ailton Krenak

  • 📅 Quando: de 11/06 a 18/08
  • 📍 Local: Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), galeria 1
  • ⌚ Horário: das 9h às 21h
  • 🎫 Ingressos: entrada gratuita, mediante reserva de ingressos no site

O escritor também participa de uma palestra na terça (11), às 19h, e de uma mesa de conversa na quinta (13), às 11h. Os detalhes podem ser conferidos no site do CCBB Brasília.

Quem é Ailton Krenak

Entrevista com Ailton Krenak no g1 DF. — Foto: g1 DF
Entrevista com Ailton Krenak no g1 DF. — Foto: g1 DF

Ailton Krenak nasceu em 1953, em Minas Gerais, na região do vale do rio Doce. É ativista do movimento socioambiental e defensor dos direitos dos povos indígenas, participou da fundação da Aliança dos Povos da Floresta e da União das Nações Indígenas (UNI).

Na Assembleia Constituinte de 1987, assumiu ativo papel na defesa dos direitos de seu povo. Enquanto discursava no Congresso Nacional, Krenak passou tinta de jenipapo no rosto e defendeu a garantia de direitos dos povos indígenas na nova Constituição.

Autor de diversos livros como “Ideias para adiar o fim do mundo”, “A vida não é útil” e “O Amanhã não está à venda”, teve obras traduzidas para mais de 13 países.

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