Banco Central aumenta taxa básica de juros para 14,25%, mas indica próximo aumento menor
Líder do PT na Câmara, Lindbergh Farias lamentou mais uma vez a decisão do Copom de continuar elevando a taxa selic a patamares elevados; esta é a maior taxa desde o final do governo da ex-presidenta Dilma Rousseff. Líder da oposição afirma que nova subida é “alarmante”.
Por Humberto Azevedo
O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central do Brasil (BCB) decidiu no início da noite desta quarta-feira, 19 de março, por unanimidade, elevar mais uma vez a taxa básica de juros da economia de 13,25% para 14,25%. Trata-se da quinta alta seguida no Sistema especial de liquidação e de custódia (Selic).
Esse é o maior patamar desde o governo da ex-presidenta Dilma Rousseff, em 2015 e 2016, quando a taxa também alcançou 14,25%. A ex-presidente sofreu impeachment em junho de 2016. No comunicado, o Copom informa que a expectativa é que haverá uma nova alta para a próxima reunião, porém, em um nível menor do que este, de um ponto percentual. Caso o aumento se confirme na próxima reunião, a Selic alcançará o maior patamar desde 2005.
A decisão do Copom impacta tanto o mercado financeiro quanto a economia real. O aumento da Selic, com a premissa de combater a inflação, encarece o crédito, o que pode desacelerar o consumo e os investimentos, e até levar a um cenário de desemprego. Também impacta negativamente as contas públicas, já que o pagamento dos títulos da dívida pública são medidos por este indíce.
Entrevistada pelo programa “ICL Mercado e Investimentos” na última segunda-feira, 17 de março, a professora e economista da Fundação Getúlio Vargas (FGV), avalia que o aumento da taxa Selic para conter uma inflação de custos, como é o caso do Brasil, é uma medida ineficiente. Para ela, o “remédio” receitado para a inflação brasileira não está adequado.
“Nós estamos comemorando há dois anos um PIB que cresce mais de 3%, uma retomada da massa salarial, uma melhora do emprego e da renda. Então, quando você contrai a economia, o que acontece? Esse grupo da população que foi inserido vai ser expurgado em grande medida”, comentou Carla Beni.
“O que eu vejo do diagnóstico da inflação brasileira e desse remédio amargo trazido como consequência, que é a alta dos juros, é que já parte de um diagnóstico errado e que esse remédio vai acabar, na marra, baixando a inflação, mas enforcando um setor muito importante que é o setor urbano, diminuindo a renda das pessoas, podendo aumentar o desemprego”, complementou a especialista.
HADDAD
Questionado por jornalistas ao sair do Ministério da Fazenda, o ministro Fernando Haddad evitou comentar a nova alta da Selic.
“Depois que sair a ata, eu converso com vocês. Esse aumento, na verdade, vem dos ‘guidance’ no final do ano passado, não é? Isso é o que aconteceu. O presidente do Banco Central disse em entrevista coletiva que isso, ‘guidance’, ia ser observado. Está bom?”, disse.
POLÍTICA NEFASTA
Já o líder do PT na Câmara, deputado Lindbergh Farias (RJ) afirmou que “essa política monetária é um equívoco com impactos nefastos para a economia brasileira e também para a questão fiscal no nosso país”.
“Cada 1% a mais na taxa básica de juros, temos um aumento de gastos com juros da dívida de algo em torno de R$ 50 bilhões. O mercado defende ajuste fiscal, mas ao mesmo tempo pressiona por uma política monetária que causa um verdadeiro rombo nas contas públicas. Entendemos que a decisão de dezembro, tomada por Roberto Campos Neto, já deixou pré-fixado dois aumentos de 1% na Selic. Esse Guidance deixou amarrado o BC, mas chamo atenção para os efeitos dessa política tanto para aspecto fiscal quanto para a atividade econômica. Tivemos uma desaceleração da economia no último trimestre de 2024, com redução de um ponto percentual no consumo das famílias. Nós vamos insistir na necessidade urgente de rever essa política monetária e iniciar uma trajetória consistente de queda dos juros”, completou o líder petista.
“GOVERNO INCOMPETENTE”
Já o líder da oposição na Câmara, deputado Zucco (PL-RS) afirmou que mais esta elevação de 1% na Selic é culpa de um “governo incompetente”. Segundo ele, a lição é sempre a mesma: “a conta sempre vem com juros”.
“A oposição recebe com muita preocupação a decisão do Banco Central de elevar a taxa básica de juros (Selic) para 14,25%, o maior patamar desde 2016. Esse aumento afeta diretamente o trabalhador brasileiro, tornando o crédito mais caro, dificultando o acesso a financiamentos e reduzindo o consumo, o que pode levar a mais desemprego e desaceleração econômica. Além do impacto negativo na vida das famílias e dos empreendedores, essa alta também expõe a incompetência gerencial do governo Lula”, diz Zucco.
“Durante meses, o presidente da República tratou de culpar o ex-presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, pela escalada da Selic. Agora, sem esse álibi, fica evidente que os problemas do país são consequência de uma política econômica equivocada e uma completa falta de responsabilidade fiscal. A oposição seguirá cobrando medidas responsáveis para garantir um ambiente econômico favorável aos trabalhadores e empreendedores brasileiros, sem penalizar a população com juros estratosféricos e decisões que só beneficiam o setor financeiro”, completa o líder oposicionista.
ÍNTEGRA
Abaixo segue a íntegra do comunicado do Copom sobre a decisão de continuar elevando em 1% a taxa básica de juros.
“O ambiente externo permanece desafiador em função da conjuntura e da política econômica nos Estados Unidos, principalmente pela incerteza acerca de sua política comercial e de seus efeitos. Esse contexto tem gerado ainda mais dúvidas sobre os ritmos da desaceleração, da desinflação e, consequentemente, sobre a postura do Fed e acerca do ritmo de crescimento nos demais países. Os bancos centrais das principais economias permanecem determinados em promover a convergência das taxas de inflação para suas metas em um ambiente marcado por pressões nos mercados de trabalho. O Comitê avalia que o cenário externo segue exigindo cautela por parte de países emergentes. Em relação ao cenário doméstico, o conjunto dos indicadores de atividade econômica e do mercado de trabalho tem apresentado dinamismo, ainda que sinais sugiram uma incipiente moderação no crescimento. A inflação cheia e as medidas subjacentes mantiveram-se acima da meta para a inflação e novamente apresentaram elevação nas divulgações mais recentes. As expectativas de inflação para 2025 e 2026 apuradas pela pesquisa Focus elevaram-se de forma relevante e situam-se em 5,7% e 4,5%, respectivamente. A projeção de inflação do Copom para o terceiro trimestre de 2026, atual horizonte relevante de política monetária, situa-se em 3,9% no cenário de referência. Persiste uma assimetria altista no balanço de riscos para os cenários prospectivos para a inflação. Entre os riscos de alta para o cenário inflacionário e as expectativas de inflação, destacam-se (i) uma desancoragem das expectativas de inflação por período mais prolongado; (ii) uma maior resiliência na inflação de serviços do que a projetada em função de um hiato do produto mais positivo; e (iii) uma conjunção de políticas econômicas externa e interna que tenham impacto inflacionário maior que o esperado, por exemplo, por meio de uma taxa de câmbio persistentemente mais depreciada. Entre os riscos de baixa, ressaltam-se (i) impactos sobre o cenário de inflação de uma eventual desaceleração da atividade econômica doméstica mais acentuada do que a projetada; e (ii) um cenário menos inflacionário para economias emergentes decorrente de choques sobre o comércio internacional e sobre as condições financeiras globais. O Comitê segue acompanhando com atenção como os desenvolvimentos da política fiscal impactam a política monetária e os ativos financeiros. A percepção dos agentes econômicos sobre o regime fiscal e a sustentabilidade da dívida segue impactando, de forma relevante, os preços de ativos e as expectativas dos agentes. O cenário mais recente é marcado por desancoragem adicional das expectativas de inflação, projeções de inflação elevadas, resiliência na atividade econômica e pressões no mercado de trabalho, o que exige uma política monetária mais contracionista. O Copom então decidiu elevar a taxa básica de juros em 1,00 ponto percentual, para 14,25% a.a., e entende que essa decisão é compatível com a estratégia de convergência da inflação para o redor da meta ao longo do horizonte relevante. Sem prejuízo de seu objetivo fundamental de assegurar a estabilidade de preços, essa decisão também implica suavização das flutuações do nível de atividade econômica e fomento do pleno emprego. Diante da continuidade do cenário adverso para a convergência da inflação, da elevada incerteza e das defasagens inerentes ao ciclo de aperto monetário em curso, o Comitê antevê, em se confirmando o cenário esperado, um ajuste de menor magnitude na próxima reunião. Para além da próxima reunião, o Comitê reforça que a magnitude total do ciclo de aperto monetário será ditada pelo firme compromisso de convergência da inflação à meta e dependerá da evolução da dinâmica da inflação, em especial dos componentes mais sensíveis à atividade econômica e à política monetária, das projeções de inflação, das expectativas de inflação, do hiato do produto e do balanço de riscos. Votaram por essa decisão os seguintes membros do Comitê: Gabriel Muricca Galípolo (presidente), Ailton de Aquino Santos, Diogo Abry Guillen, Gilneu Francisco Astolfi Vivan, Izabela Moreira Correa, Nilton José Schneider David, Paulo Picchetti, Renato Dias de Brito Gomes e Rodrigo Alves Teixeira.”
Com informações de assessorias e do ICLNotícias.