Alcolumbre estuda entrar com representação contra Gayer
Decisão do presidente do Congresso Nacional ocorre após o bolsonarista goiano afirmar que viu a imagem de “Gleisi, Lindbergh e Alcolumbre fazendo um trisal”; fala aconteceu após Lula afirmar, depois fazer vários elogios, que indicou Hoffmann para a SRI por ser “bonita”.
Por Humberto Azevedo
O senador e presidente do Congresso Nacional, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP) afirmou nesta quinta-feira, 13 de março, que estuda entrar com uma representação contra o deputado Gustavo Gayer (PL-GO), que afirmou nas redes digitais ter visto a imagem de “Gleisi, Lindbergh e Alcolumbre fazendo um trisal”.
A declaração do bolsonarista Gayer aconteceu nesta última quarta-feira, 12 de março, após o presidente Luiz Inácio Lula da Silva Lula afirmar, durante discurso no Palácio do Planalto que lançou o “crédito do trabalhador”, depois de fazer vários elogios, que escolheu a deputada Hoffmann para a Secretaria de Relações Institucionais (SRI) da Presidência da República para articular com o Congresso Nacional por ser “bonita”.
“Que pesadelo (…) E aí Lindbergh Farias vai aceitar o seu chefe oferecer sua esposa [na verdade, namorada] para o Hugo Motta e Alcolumbre como um cafetão oferece uma garota GP [garota de programa]?? Sua esposa [namorada, na verdade] sendo humilhada pelo seu chefe e você vai ficar calado??”, escreveu Gayer em seu perfil na rede “X” – antigo “Twitter”.
“A gente vai estar nas mãos dos advogados para analisar o que é possível fazer”, informou Alcolumbre assim que encerrou a sessão do Congresso que votou as novas regras para pôr fim ao “orçamento secreto”. Questionado se avalia representar o deputado do PL pela fala, o senador amapaense respondeu: “Fortemente”.
“… Não sei. Não sei. Estou avaliando com os advogados. A pergunta é muito boa. Mas [as redes] não é [sic] para agredir as pessoas. Deixa eu ir para lá. (…) O que está dificultando no Brasil é as pessoas agredirem as outras sem medir o que elas estão falando. Isso está dificultando no Brasil”, completou Alcolumbre ao ser perguntado se a declaração de Gayer não estaria protegida pela imunidade parlamentar.
Por outro lado, o colunista dos canais “Globo”, Octavio Guedes, informou que a assessoria de Alcolumbre confirmou que o senador entrará com uma representação na Câmara contra o parlamentar do PL de Goiás.
SOLIDARIEDADE
Em solidariedade a fala misógina de Gayer, as bancadas femininas do PT na Câmara e no Senado e a secretaria das Mulheres do PT emitiram uma nota conjunta em que afirmam que “é inaceitável que um parlamentar use suas redes sociais para disseminar misoginia, ataques pessoais e insinuações ofensivas, especialmente contra uma ministra de Estado”.
“As declarações do deputado Gustavo Gayer não só desrespeitam as mulheres na política, como também reforçam discursos machistas, misóginos e violentos que precisamos combater diariamente. O parlamento não pode compactuar com esse tipo de violência. Aprovamos a lei 14.192 de 2021 nesta Casa, a qual foi promulgada a partir do entendimento de que a violência política de gênero não deve ser tolerada na mais alta expressão da representatividade política”, continua a nota.
“Ter um representante com esse tipo de postura é uma vergonha para o Parlamento brasileiro. A tentativa de desqualificar mulheres por meio de insinuações sexistas não é apenas um ataque à sua dignidade, mas também um atentado contra todas que lutam por espaço e respeito na sociedade. O machismo na política é uma ferramenta histórica de silenciamento e intimidação, e não podemos normalizá-lo. As bancadas femininas do PT na Câmara e no Senado e a Secretaria Nacional de Mulheres do PT repudiam veementemente o inaceitável comportamento do deputado do PL e reafirmam o seu compromisso com uma política baseada no respeito, na ética e na igualdade de gênero. O parlamentar – assim como qualquer outro que tenha o mesmo tipo de atitude – não pode ficar impune. Por todas as mulheres brasileiras, exigimos respeito!”, finaliza a nota.
REPÚDIO
Por sua vez, Gleisi Hoffmann repudiou também na rede “X” “os ataques canalhas de bolsonaristas, misóginos, machistas e de violência política”, que, segundo ela, “desprezam as mulheres”.
“Não me intimidam nem me acuam. Oportunistas tentando desmerecer o presidente Lula. Gestos são mais importantes que palavras. Não teve e não tem outro líder como o presidente Lula que mais empoderou as mulheres. Não é qualquer líder que ousa lançar a primeira mulher presidenta do país, a primeira presidenta do PT, o que mais nomeou mulheres ministras, nas estatais, no BB [Banco do Brasil], na CEF [Caixa Econômica Federal], no STM [Superior Tribunal Militar] e outros tantos lugares”, escreveu a ministra Gleisi.
“Que moral vocês tem? Vocês esqueceram das entrevistas, dos vídeos em que Bolsonaro agrediu as mulheres, estimulando a violência política e física, o preconceito, o machismo? Canalhas, respeitem a inteligência do povo brasileiro!”, completou Gleisi.
NAMORADO
Questionado sobre as declarações Gayer após a reunião de líderes da Câmara, Lindbergh Farias – namorado de Gleisi Hoffmann – assinalou que “esse deputado é um canalha, assassino, pode olhar a história dele”.
“Aqui nesta casa a gente tem o mínimo de respeito. As mulheres do PT estão entrando no Conselho de Ética, pedindo a cassação do mandato dele. Vai ter representação também criminal na própria Procuradoria-Geral da República. Nós estamos no mês das mulheres, que teve o dia 8 de março, [e agora vem] uma agressão violenta, de baixo nível, de uma figura desqualificada como essa que a gente viu. Esse é o tipo de coisa que não dá para aceitar. É com esse tipo de gente que a gente está disputando, infelizmente. É com o esgoto. É com esgoto”, afirmou o líder petista que comentou que essa sua declaração é uma “repulsa com veemência a um tipo de baixaria de um cidadão como esse e desse grupo de extrema-direita, bolsonarista, agressivo”.
AÇÃO DO CÂMARA
O líder do governo na Câmara, deputado José Guimarães (PT-CE) disse que irá pedir ao presidente da “Casa do Povo”, deputado Hugo Motta (Republicanos-PB), uma ação enérgica contra o parlamentar goiano pela sua fala.
“Desprezíveis os insultos do deputado Gustavo Gayer contra o presidente Lula, a ministra Gleisi, o presidente do Senado, Davi Alcolumbre, e o Líder do PT, Lindbergh Farias. A eles, manifesto minha total solidariedade. É preciso dar um basta definitivo em comportamentos como o desse senhor, que desonra e desmoraliza o parlamento brasileiro. O decoro parlamentar é uma regra que impõe limites para proteger o Congresso Nacional da degradação moral”, disse o líder governista.
“Tendo em vista a gravidade desse fato, vou requerer ao presidente Hugo Motta e a todos os líderes dos partidos desta Casa, o apoio necessário para que seja aberto processo no Conselho de Ética, a fim de apurar e punir o desonroso parlamentar”, continuou Guimarães.
CAIXA DE FERRAMENTAS
Já o líder da oposição na Câmara, deputado Zucco (PL-RS), afirmou que a resposta dada pela ministra responsável pela SRI, Gleisi Hoffmann, mostra quais são as “suas ferramentas para o diálogo”.
“A recente manifestação da ministra Gleisi deixa claro que ela não tem preparo algum para ocupar um cargo de tamanha responsabilidade. Seu discurso raivoso, carregado de ataques e divisões, mostra uma total falta de equilíbrio e serenidade para dialogar com o Congresso e com a sociedade. Em vez de buscar construir pontes e promover a unidade, a ministra opta pelo insulto gratuito e pela retórica do ódio, como se fosse uma militante de redes sociais e não uma representante do governo. Se a sua estratégia para articulação política é essa, podemos esperar um desastre completo”, comentou Zucco.
“Além disso, é no mínimo curioso ver Gleisi falar de machismo e misoginia quando seu próprio líder, o presidente Lula, acaba de desrespeitar ela própria em público. O Brasil precisa de líderes que saibam dialogar, respeitar as diferenças e governar para todos – não de alguém que age como chefe de torcida, alimentando a polarização e tratando opositores como inimigos. A ministra deveria lembrar que está em um governo e não em um palanque eleitoral permanente”, completou o líder oposicionista.