Lula reforça compromissos com estabilidade fiscal e inclusão social
Em entrevista a jornalistas no Palácio do Planalto, o presidente da República enfatizou que seu “desafio agora é fazer de 2025 o ano da melhor colheita”. Questionado sobre as críticas que o ministro Haddad recebeu de Kassab, Lula respondeu: “Haddad deveria ser elogiado pelo Kassab. Agora, eu não posso pedir para o Kassab elogiar, se ele não quer elogiar”.
Por Humberto Azevedo
Em entrevista coletiva a jornalistas no Palácio do Planalto na manhã desta quinta-feira, 30 de janeiro, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) detalhou a série de compromissos que a sua terceira gestão à frente do governo federal assumiu para reforçar o equilíbrio fiscal do país para garantir uma maior inclusão social de setores mais desprotegidos da sociedade brasileira.
Na oportunidade, Lula enfatizou que o seu governo continuará compromissado com uma política que alie capacidade de investimentos, crescimento econômico, geração de emprego, inclusão social com responsabilidade fiscal. O presidente argumentou que a prioridade em lidar com as contas públicas tem como um dos panos de fundo essenciais a preservação da população em condição de vulnerabilidade, que em geral é quem mais sofre efeitos quando ocorre um desequilíbrio nas finanças.
“Nós vamos continuar crescendo. As políticas de inclusão social vão continuar se fortalecendo. A massa salarial vai continuar crescendo e o salário mínimo vai continuar sendo ajustado acima da inflação. Isso tudo, sem que a gente crie nenhum problema na chamada estabilidade fiscal. (…) Uma coisa que me deixa triste é que às vezes tem pessoas ou setores que querem ter predominância na formação da opinião pública. Vocês sabem o quanto passamos de apuro com as pessoas falando de déficit fiscal. E o que aconteceu: 0,1%. Não é 2,5%, como recebemos (do governo anterior). E vai ser assim, porque tenho muita responsabilidade com este país”, afirmou Lula.
INDICADORES
Lula citou indicadores que mostram a força da economia e da melhoria das condições do país, como o crescimento do PIB acima de 3% nos dois primeiros anos de governo, e a retomada da indústria nacional, impulsionada por programas federais. Citou como exemplo a recuperação de setores estratégicos, como o automobilístico.
“Alguém se lembra como estava a indústria automobilística em 2023? Quando deixei o governo, em 2010, eram 3,8 milhões de carros (produzidos por ano). Quinze anos depois, caiu para 1,6 milhão. Agora, chegou a 2,6 milhões. Não vou discutir o que meia dúzia de pessoas querem. A gente quer responsabilidade fiscal e a gente quer fazer o menor déficit possível, porque a gente quer que esse país dê certo. O que quero é gerar emprego, gerar renda e construir um país de classe média. E é o que vamos fazer”, complementou.
“Vocês também já ouviram eu cansar de dizer. Minha mãe não sabia ler, minha mãe não sabia diferenciar um O de um R, mas ela sabia contar dinheiro. Então, a gente chegava em casa, os oito filhos dela, cada um com o seu envelope de dinheiro, e ela pegava aquele envelope, colocava tudo junto, contava quanto tinha, pegava as papeletas das nossas dívidas, e falava: isso aqui é para pagar isso, isso é para pagar aquilo. É assim que eu governo esse país. Não pode gastar mais do que a gente tem capacidade de arrecadar”, completou.
HADDAD
Questionado sobre as críticas que o presidente nacional do PSD, Gilberto Kassab, fez ao ministro da Fazenda, Fernando Haddad, Lula defendeu o trabalho do seu ministro da Fazenda: “O companheiro é um ministro extraordinário”. Em palestra proferida em São Paulo (SP), no início desta semana, Kassab disse que o ministro Haddad seria “fraco” para assumir um cargo como o Ministério da Fazenda e que, se a eleição fosse hoje, Lula não seria reeleito.
Apesar do PSD de Kassab ter indicado os ministros de Minas e Energia, Alexandre Silveira – ex-senador por Minas Gerais; da Agricultura e Pecuária, senador licenciado pelo estado de Mato Grosso (MT), Carlos Fávaro; e da Aquicultura e Pesca, deputado federal por Pernambuco, André de Paula, o ex-prefeito da capital paulista comanda a secretaria da Casa Civil do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), um dos principais opositores ao governo Lula.
“Quando eu vi a história do companheiro Kassab, eu comecei a rir. Porque, como ele disse, se a eleição fosse hoje, eu perderia, e eu olhei no calendário e vi que a eleição é só daqui a dois anos. E eu fiquei muito despreocupado. E eu acho que o Kassab foi injusto com o significado do companheiro Haddad no Ministério da Fazenda. Não reconhecer que o Haddad começou o governo coordenando a PEC da Transição, porque a gente não tinha dinheiro para governar o País em 2023, e nós conseguimos, num parlamento totalmente adverso, porque o meu partido só tinha 70 deputados, de um total de 513, a gente conseguiu aprovar a PEC da Transição, que permitiu a gente ter dinheiro para cuidar das políticas, pagar inclusive dívidas do governo passado, e ainda teve mais dinheiro para investimento em política de Educação e também no Bolsa-Família”, citou.
“Então, eu acho que o Haddad é um ministro extraordinário. E a segunda coisa é o arcabouço fiscal. O companheiro Haddad coordenou com o Congresso Nacional a indicação de uma seriedade administrativa estupenda. Ele convenceu todo o Governo e o Congresso Nacional de que, além de a gente cumprir o arcabouço fiscal, a gente não poderia gastar mais de 2,5% em investimentos, e isso é uma coisa extraordinária, porque foi feita contra todas as pessoas que querem investir mais. E foi aprovado no Governo e foi aprovado no Congresso Nacional”, continuou.
Na sequência da resposta, Lula destacou o retrospecto da gestão do seu ministro da Fazenda, ressaltando a capacidade de articulação política de Haddad em propor iniciativas e convencer a maioria dos atores e agentes políticos e econômicos a apoiar as iniciativas.
“Depois o Haddad coordenou uma coisa que o mundo depois vai agradecer, que foi a aprovação da reforma tributária. Jamais houve uma reforma tributária feita num regime democrático. Um Congresso funcionando da forma mais independente, com a imprensa fazendo a crítica que quiser fazer, e com a organização da sociedade totalmente livre. Nós conseguimos a proeza, foi na verdade um milagre, que nós fizemos uma política tributária que vai entrar em vigor em 2027, para que o Brasil passe a ser um país mais atrativo para investimentos estrangeiros, e mais seguro para os investimentos nacionais. Na verdade, só por isso, o Haddad deveria ser elogiado pelo Kassab. Agora, eu não posso pedir pro Kassab elogiar, se ele não quer elogiar”.
PROJETOS
O presidente avaliou ainda como mais importante completar os projetos tocados pelo seu governo do que prospectar as eleições de 2026 e prometeu ter, a partir de agora, uma rotina maior de entrevistas coletivas e de diálogo com a imprensa e vários meios de comunicação.
“Vamos ter mais conversas como essas (…) para derrotar definitivamente a mentira”, garantiu, afirmando que o contato mais frequente com a imprensa é importante para fazer frente a correntes de desinformações que ampliam o círculo das notícias falsas (fake news).
A partir daí, Lula passou a responder uma série perguntas sobre o apoio de partidos da base aliada a seu governo e sobre perspectivas eleitorais em 2026. Para ele, a sua prioridade é intensificar as entregas do governo neste ano, uma vez que a sucessão presidencial ainda está dois anos à frente.
“O meu desafio agora é fazer de 2025 o ano da melhor colheita. Estou convencido que vamos terminar o mandato em uma situação extremamente positiva”, comentou.
DIESEL
Sobre a possibilidade de reajuste do preço do óleo diesel, Lula afirmou que não autorizou o aumento do diesel por esta ser uma política tratada pela Petrobras. “Mas, se houver reajuste, ainda que somando as inflações de 2023 e 2024, o preço do diesel será menor do que em dezembro de 2022”, recordou o presidente lembrando que conseguiu reduzir o valor herdado da gestão anterior.
DÉFICIT TÉCNICO
O presidente recordou números da economia, como o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) superior a 3%, em contraste com o pessimismo que havia em setores da imprensa e de analistas no início de seu atual mandato, assim como havia ocorrido em 2002, em sua primeira gestão. Lula defendeu a gestão fiscal de seu governo e fez uma comparação com o déficit que recebeu. “Nosso déficit [em 2024] foi de 0,1%. Isso é déficit zero. Não é 2,5% [negativo] como recebemos do governo anterior”, provocou.
“Os especialistas diziam que o Brasil ia crescer apenas 1,5% em 2024 e vamos crescer 3,5% ou 3,7%. Isso é uma demonstração de que as coisas estão sendo plantadas e nós vamos começar a colher. Há quanto tempo vocês não viam a indústria brasileira crescer? E a indústria brasileira voltou a crescer com forte investimento público e privado sobretudo a Nova Indústria Brasileira, coordenada por Geraldo Alckmin, e a indústria chegou a crescer 3,4%”, avaliou.
ESTABILIDADE FISCAL
Ao falar do trato do governo com relação às despesas, Lula frisou que a “estabilidade fiscal é uma questão muito importante para esse governo e para mim”. Segundo ele, “queremos responsabilidade fiscal e queremos fazer o menor déficit possível porque queremos que esse País dê certo. Se tivermos que fazer uma dívida é para construir um ativo novo que vá ajudar esse país ser melhor ainda”.
Sobre a possibilidade de apresentação de novas medidas de ajustes fiscais, Lula foi enfático: “Eu não tenho outras medidas”. O presidente garante que, caso surja a necessidade, e os debates no governo apontarem isso, medidas serão pensandas.
“Mas, se depender de mim, não tem outra medida fiscal”. Para ele, a principal missão é manter o “desenvolvimento sustentável” do Brasil. “Sem fazer que o povo pobre pague por alguma irresponsabilidade, um corte fiscal desnecessário”, emendou.
INVESTIMENTOS
Sobre investimentos, disse: “quero que as pessoas tenham certeza que nesse governo não haverá irresponsabilidade fiscal. Meu histórico é a prova disso. Não tento discutir o que meia dúzia de pessoas querem, quero discutir o que interessa à maioria das pessoas, é gerar emprego e renda, criar um país de classe média. É esse país que quero criar e vou criar”
PREÇOS DOS ALIMENTOS
Questionado sobre medidas para conter a alta dos preços dos alimentos, o presidente disse que é preciso conversar com o setor produtivo para entender a razão dos valores elevados e disse que não vai fazer “bravata” para resolver a questão.
“Não tomarei nenhuma medida daquelas que são bravatas. Não farei cota, não colocarei helicóptero para viajar à fazenda e prender boi como foi feito no tempo do Plano Cruzado, não vou estabelecer nada que possa significar o surgimento de [um] mercado paralelo”, afirmou Lula.
E completou: “o que precisamos fazer é aumentar a produção de tudo aquilo que a gente produz. Fazer com que a chamada pequena e média agricultura, que são responsáveis pela produção de quase 100% dos alimentos, possa produzir mais. Para isso, a gente precisa fazer mais financiamento para modernização da produção dessa gente”.
O presidente citou como exemplo o preço do óleo de soja que tinha caído para R$ 4,00 quando ele assumiu a Presidência e agora está por volta de R$ 9,00.
“Qual a explicação pro preço do óleo de soja ter subido?. Não tenho outra coisa senão chamar os produtores de soja para saber. (…) Se eu souber, podemos tomar alguma medida junto com os empresários para fazer com que o mercado volte à normalidade”, resumiu.
Lula lembrou que o encarecimento dos alimentos prejudica sobretudo a parcela mais humilde da população.
“O aumento dos preços de comida que vai na cesta básica é sempre ruim porque afligem exatamente as pessoas mais pobres, os trabalhadores mais humildes que a gente quer proteger. Então, não tem sentido fazer um sacrifício enorme de fazer políticas públicas para que o dinheiro chegue na ponta e depois esse dinheiro será comido pela inflação”, analizou.
BCB & JUROS
Indagado sobre a decisão do Banco Central do Brasil (BCB) de elevar uma vez mais a taxa de juros, agora para 13,25% ao ano, a primeira sob a nova presidência de Gabriel Galípolo, indicado por ele, Lula respondeu: “Um presidente com a experiência que eu tenho (…) sabe que o presidente do Banco Central não pode dar um cavalo de pau, num mar revolto”.
“Já estava praticamente demarcada a necessidade da subida de juros pelo outro presidente [do BC, Roberto Campos Neto], e o Galípolo fez o que entendeu que deveria fazer. Tem que ter paciência. Eu tenho 100% de confiança no trabalho do presidente do Banco Central. Eu tenho certeza que ele vai criar as condições para entregar ao povo brasileiro uma taxa de juros menor”, lamentou.
LEGISLATIVO
Indagado sobre os futuros presidentes da Câmara dos Deputados, deputado Hugo Motta (Republicanos-PB), e do Senado Federal, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), Lula não quis antecipar o quadro político e a costura política que envolveu forças políticas do esquerda à direita para elegê-los, mas que irá procurá-los com muita disposição de dialogar.
“Eu não me meto em eleição da Câmara e do Senado. Isso é uma questão dos partidos e dos deputados e senadores. Quem ganhar, eu vou respeitar e vou estabelecer uma nova relação. Acho que nós já demos uma demonstração de que não tem dificuldade de governar, se você tiver muita disposição para conversar. Se o Hugo Motta for eleito presidente da Câmara e o Davi Alcolumbre for eleito presidente do Senado, é com eles que vamos fazer as tratativas”, disse.
EMENDAS
Questionado sobre a reclamação dos parlamentares com as recentes decisões do ministro Flávio Dino da Suprema Corte em suspender o pagamento de emendas parlamentares que não cumprirem os ritos da transparência e da Constituição federal, Lula desconversou e afirmou que o seu “governo não tem nada a ver com as emendas parlamentares”.
“Esta é uma conquista deles [parlamentares] num governo irresponsável que não governava o País. Então, as emendas existem, nós estamos agora com decisões da Suprema Corte, do ministro Flávio Dino, e nós vamos buscar um acordo definitivo entre o Congresso e o Poder Executivo. Se tiver que dar emenda, que seja orientada e subordinada aos interesses do Estado brasileiro, sobretudo nas áreas da Saúde, da Educação e do Transporte”, se limitou a dizer.
ELEIÇÕES 2026
Para Lula, ainda é cedo para avaliar definitivamente o governo e que os dois primeiros anos de seu atual mandato foram mais promissores do que os oito anos de suas duas primeiras gestões, porque o que foi feito pavimenta as realizações que serão vistas e sentidas pela população a partir deste e do próximo ano.
“Eu não me preocupo com pesquisa. O meu papel é trabalhar para entregar o que eu plantei agora”, encerrou.
Com informações de assessorias.