A avaliação da cúpula militar sobre a possível saída de Múcio
A possível saída de José Múcio Monteiro do Ministério da Defesa, sinalizada pelo próprio ministro ao presidente Lula (PT), preocupa a cúpula das Forças Armadas. Marinha, Aeronáutica e Exército avaliam que, se Múcio realmente deixar o cargo, a relação entre os militares e o governo precisará ser reconstruída do zero, conforme informações da colunista Bela Megale, do Globo.
Para os militares, Múcio desempenha um papel crucial na pacificação do ambiente e atua como principal elo entre o Palácio do Planalto e os comandantes das três Forças. Embora os comandantes tenham diálogo com Lula, é Múcio quem chancela as conversas e acordos.
Caso um novo ministro assuma, os militares acreditam que será necessário um longo processo de reconstrução da confiança e que mudanças na equipe da Defesa, já bem entrosada com as Forças, serão inevitáveis. Além disso, destacam que ainda não há um nome claro para substituir Múcio, e qualquer novo titular terá que ser apresentado aos projetos e demandas das Forças Armadas.
Nos últimos meses, Múcio confidenciou a aliados que a relação entre os militares e o governo tem se deteriorado. Ele apontou como principal motivo de tensão a inclusão das Forças Armadas no pacote de corte de gastos do governo.
A situação ficou ainda mais delicada com o indiciamento de 25 militares no inquérito que investiga a tentativa de golpe, que coloca Jair Bolsonaro (PL) no centro da trama, e com a prisão de dois generais, incluindo Walter Braga Netto.
Outro ponto de atrito foi a publicação de um vídeo da Marinha criticando “privilégios” e direcionando uma mensagem ao ministro da Fazenda, Fernando Haddad, sobre o pacote fiscal. A gravação foi considerada por muitos militares como a gota d’água para Múcio sinalizar sua vontade de deixar o cargo.
Nesta sexta-feira, Múcio embarcou para Recife, onde tirará duas semanas de recesso. Entre os militares, há a esperança de que ele use esse período para refletir e decida permanecer no comando do Ministério da Defesa por mais dois anos.