Atentado ao STF: deputado José Medeiros alerta que episódio aponta necessidade de pacificação no país
Da Redação
Em um longo áudio de pouco mais de 20 minutos, distribuído nas redes sociais, o deputado federal José Medeiros (PL-MT) faz uma profunda análise do episódio do homem-bomba que se fez explodir na frente do Supremo Tribunal Federal (STF), no que está sendo entendido como um “atentado” contra o ministro Alexandre de Moraes.
“É muito importante observar esse episódio como um alerta de que é necessário fazermos uma pacificação no país. Obviamente foi um caso isolado, um lobo solitário, uma pessoa que chegou a um ponto que já não conseguia ter estruturas mais para enfrentar, ou para pelo menos achar argumentos em sua psiquê para enfrentar o que está acontecendo no Brasil, e chegou a essa ação extrema de se imolar em frente ao STF e se suicidar, e deixando também um rastro ali de explosivos e mensagens, algumas delas desconexas”, inicia o parlamentar.
“Mas é um momento para reflexão de que não podemos enfrentar essas coisas olhando ou pensando pequeno, só do ponto de vista umbilical, e eu vejo que essas coisas têm sido tratadas a partir apenas da luta política. Eu sempre disse que essa história de querer fazer uma coisa por vias transversas não funciona”, acrescentou.
Citando o professor e ex-ministro Mangabeira Unger, José Medeiros agrega que o trato das questões “por vias transversas” não permite enfrentar os problemas. “Por exemplo, quando vai soltar Lula, não enfrenta o problema dizendo “vamos soltar Lula por isso e por isso”. Não. Soltou por vias transversas e não porque ele fosse inocente ou não, tudo na base da gambiarra. Essas coisas são entendidas pela população como uma afronta, um desrespeito”, complementou.
Mais adiante, o deputado mato-grossense acrescenta: “Eu vejo o ministro Barroso, o ministro Alexandre e o PT brincando como se eles estivessem andando na borda de um vulcão, sem a mínima noção do perigo que significa isso. Não se engane, quando alguém propõe a fazer um ato que nem aquela pessoa ali, um cara que não é criminoso, é porque ele perdeu todas as esperanças, ele perdeu todo o sentido da sua existência por não acreditar mais em nada”.
Ouça o áudio abaixo:
E confira a descrição em texto na íntegra da fala do deputado José Medeiros:
É muito importante observar esse episódio como um alerta de que é necessário fazermos uma pacificação no país. Obviamente foi um caso isolado, um lobo solitário, uma pessoa que chegou a um ponto que já não conseguia ter estruturas mais para enfrentar, ou para pelo menos achar argumentos em sua psique para enfrentar o que está acontecendo no Brasil, e chegou a essa ação extrema de se imolar em frente ao STF e se suicidar, e deixando também um rastro ali de explosivos, e mensagem, algumas delas desconexas, mas é um momento para reflexão de que não podemos enfrentar essas coisas olhando ou pensando pequeno, só do ponto de vista umbilical, e eu vejo que essas coisas têm sido tratadas a partir apenas da luta política. Eu sempre disse que essa história de querer fazer uma coisa por vias transversas não funciona.
O próprio Mangabeira Unger, numa entrevista com o ministro Roberto Barroso, disse – e o Mangabeira Unger, para quem está nos ouvindo, é um brasileiro que é professor em Harvard, foi inclusive professor de direito do Barack Obama, foi ministro na época da presidente Dilma -, mas ele fez uma análise dizendo o seguinte: por que não enfrentar os problemas da forma que eles são, por que as vias transversas, por que, por exemplo, quando vai soltar Lula, não enfrenta o problema dizendo vamos soltar Lula por isso e por isso? Não, soltou por vias transversas e não porque ele fosse inocente ou não, tudo na base da gambiarra. Essas coisas são entendidas pela população como um afronto, um desrespeito, puxa eu pago uma carga tributária muito grande, eu trabalho quatro meses por ano para sustentar esse estado e só sai esse tipo de coisa, e essa indignação não vende agora.
O ponto de ebulição, eu diria que a primeira erupção desse vulcão foi em junho de 2013, quando as pessoas em todo o país foram para as ruas. De lá para cá, é bom que se lembre que não saíram mais das ruas, de lá para cá essa população vai às ruas, pressiona o congresso, tem o impeachment da presidente Dilma, depois elege em Bolsonaro, porque acharam em Bolsonaro, eu diria que o representante ali que mais se aproximava da sua indignação, e a indignação vinha por vários fatores, é importante isso, porque é importante a gente saber o porquê, porque a população foi para as ruas em 2013, por causa da desilusão política que já vinha muito forte, as tentativas, as reiteradas tentativas de fazer o Brasil dar certo, vinha uma inflação muito alta e aí quando sai o Figueiredo, entra quem? Entra, vota e a população achava, é agora, Tancredo Neves, e na largada uma frustração, o Tancredo morre, entra Sarney, vem a esperança, plano cruzado, aquela coisa toda, elege Sarney e foi uma catástrofe, aí vem de novo uma esperança, agora nós vamos eleger um que vai fazer o Brasil dar certo, vai acabar com a corrupção, que a população já vinha muito indignada com a corrupção, serviços públicos ruins e tudo mais, elegei o Collor, dois anos depois um impeachment, tá bom, vem a FHC, movo o fôlego, nossa, veio o plano real, estamos um dólar valendo aí, igual um real e tudo o tal, reelege o FHC, começa depois uma fadiga de material, FHC não respondeu à altura no segundo mandato e além disso começou a implantar coisas que começou a incomodar muito a população brasileira, boa parte dessa agenda que hoje o PT, que é a agenda sagrada do PT, essa questão de você não poder fazer nada, essa questão de colocar o filhote de uma tartaruga mais importante do que um ser humano, essa agenda de aborto, essa coisa toda, essa agenda contrária ao pensamento do homem médio brasileiro, começou no Fernando Henrique, e aí a população, e aí aparece de repente o PT com o discurso, com o discurso combater a corrupção e melhorar a vida da gente, o que o povo brasileiro faz, embarca no Lula, nossa, e o Lula dá-lhe para gastar, isso é o mesmo que ele está fazendo agora, foi o boom das commodities, foi o boom do agronegócio, essa coisa toda, o Brasil vai num crescimento extraordinário e tal, Lula é reeleito e no final do governo Lula a população já estava pelo pescoço, começando, isso ali em 2010, as contas públicas já estavam se arrebentando, bom, ainda deram voto de confiança, elege Dilma, e a Dilma pé no acelerador com os gastos e já tinha visto escândalo, e paralelo a isso, escândalos no governo Lula 1, Lula 2, e no governo Dilma, e a coisa vai e a população ainda acabou elegendo a Dilma, mas em 2013 já a população foi para as ruas, e aí foi a primeira erupção, tá bom, o que que acontece? A coisa piora e a população continua nas ruas, tira Dilma, é o impeachment, e aí, como eu disse, Bolsonaro era o que mais se aproximava da indignação, elege Bolsonaro em 2018, e a população cada vez que tentavam, que havia um boato de que Bolsonaro estava sendo perseguido ou que queriam tirar Bolsonaro do poder, a população foi para as ruas, e paralelo a isso, houve um descontentamento muito forte pelo perfil do Bolsonaro com a política tradicional, com as instituições tradicionais, e o STF foi um dos principais vetores de indignação popular, quando começou a cada ação do Bolsonaro, já no início do governo, a colocar obstáculos, inclusive para ele nomear sua equipe de governo, e passou a ser instrumento de ataque ao governo da esquerda, do PT, do Partido Verde, quem não se lembra de cada semana eram enxurradas de ações colocadas pelo Partido Verde, e prontamente algum ministro já pegava e o julgava, sempre dando cinco dias para Bolsonaro se manifestar, e aquilo chegou ao ponto que a população começou, partiu para um ataque fora a STF. Vêm as manifestações cada dia mais fortes, mas todas elas muito pacíficas, e então surge, a partir da revista Cruzoé, uma denúncia de que os ministros, boa parte dos ministros estavam com escritório de advocacias, administrado por suas esposas, e aí surge o inquérito das fake news, e o que é que ocorre? Esse inquérito depois passou a caber tudo, e aí passou a servir de uma ferramenta, de uma arma muito forte contra o governo Bolsonaro, contra quem era aliado de Bolsonaro, o fato é que houve uma interferência muito forte nas eleições, e o próprio ministro Marco Aurélio de Mello, no seu livro, diz isso, textualmente depois, nessa mesma entrevista do ministro Barroso com o Mangabeira Unger, ele disse que havia um certo consenso de que com Bolsonaro a democracia estava fragilizada, e que era preciso se livrar dele, essa ficou bem clara na entrevista. Então, o que é que ocorre? Mas não se tratava de Bolsonaro, é um projeto de uma consciência popular, de uma força invisível, que vem numa indignação há muito tempo, que já tinha explodido em 2013, e com o desenrolar e o desfecho da eleição de 2022, as coisas voltam a entrar em ebulição, numa escala menor do que 2013, mas mais virulenta do ponto de vista do que aconteceu na Praça dos Três Poderes.
E aí, o que acontece? Todo mundo viu, todo mundo viu o que aconteceu. O ministro Alexandre de Moraes, que virou, a partir dessa abertura do inquérito no STF, coisa que não existia e não existe no ordenamento político brasileiro, jurídico brasileiro, ele passou a ser o xerife geral da República, prendeu deputados, fez o diabo e tá fazendo o diabo. E agora, nesse momento em que acontece esse terrível ato, eu pensei que fosse haver um mínimo de gesto de pacificação no país, mas não há.
Cada dia dobram o preço. Tem, por exemplo, uma lei que foi uma lei, não, uma regulamentação que foi aprovada no STF, em que os ministros agora podem julgar as ações propostas pelas suas esposas. Quem tiver esposa advogada pode ter uma ação, o ministro vai julgar sem ter que se declarar suspeito.
Então, a indignação só tem dobrado de tamanho. Paralelo a isso, nós temos visto a carga tributária aumentar vertiginosamente, os gastos públicos explodirem, a inflação subindo e o que a gente ouve por parte, quando liga a TV? Que tá tudo bem, que subir a gasolina é bom. Por que uma coisa péssima, a Miriam Leitão vai lá e tenta explicar porque que isso é bom.
Por que que algo totalmente errado, Sakamoto, o Reinaldo Azevedo, todos esses grandes analistas aí, dizem que é uma ótima coisa. A Globo News, então assim, todas viraram, viraram, esses analistas de poltrona viraram porta-vozes e algozes de metade da população que tá revoltada, e eles tentam reduzir isso a golpistas, a bolsonaristas, a falsistas, não sabendo que se trata de uma coisa muito séria, muito maior. Se trata de uma confiança profundamente abalada em tudo que pode se dizer que cheira a política, que cheira ao ordenamento das instituições em Brasília.
Então, a indignação, ela é muito maior, ela é muito maior. Eu vejo o ministro Barroso, o ministro Alexandre e o PT brincando com, como se eles estivessem andando na borda de um vulcão, sem a mínima noção do perigo que significa isso. Não se engane, quando alguém propõe a fazer um ato que nem aquela pessoa ali, um cara que não é criminoso, é porque ele perdeu todas as esperanças, ele perdeu todo o sentido da sua existência por não acreditar mais em nada.
E você que está me ouvindo, qualquer um que esteja me ouvindo, pode até discordar do que eu tô dizendo, mas de uma coisa você não pode discordar da realidade, da verdade, porque a realidade ela é o que é. A verdade, ela é a verdade, embora que todos digam que seja mentira. A essência das coisas, ela não é mudada porque alguém vem e diz que não é. Uma laranja sempre vai ter gosto de laranja, embora a pessoa vem e diga que ela tem gosto de manga. E por mais que toda a imprensa venha querendo mudar as coisas, as pessoas sentem o que está acontecendo.
E aí, isso me faz relembrar da Revolução Francesa, quando no dia da queda da Bastilha, o oficial de dia escrevia a parte diária para passar para outra equipe e dizia o seguinte, tempo bom, serviço normal, e tempo bom, serviço normal, sem alteração. E essa foi a histórica parte diária daquele dia. Ocorre que uma hora depois que ele escreveu isso, a cabeça dele era carregada na ponta de uma lança pela turba enfurecida.
Então, pode até querer tampar o sol com a peneira e dizer que é o Bolsonaro, que são os bolsonaristas, que é o discurso dos bolsonaristas. Porque, na verdade, o PT e toda a ala progressista brasileira sempre fez um discurso na ala da demonização do outro, na ala de achar um vilão para tudo que acontecia. Veja que Bolsonaro não sempre, nem sempre… Bolsonaro sempre foi Bolsonaro, mas nunca foi o demônio dessa gente.
Quem era o demônio deles? Quem estivesse no poder no momento. Então, o demônio deles, antes, era Fernando Henrique Cardoso. Depois, Serra.
Depois, Aécio. Depois, Temer. De repente, Bolsonaro ganha em 2019, pronto.
Bolsonaro é quem quer acabar com a democracia e começou toda essa narrativa. E todos os discursos dessa gente, vocês podem ver que é sempre incitando. Basta ver o seu entorno.
Os caras da CUT, eram sempre falando em pegar em armas. O Stélide, discurso rançoso, um discurso odioso. Aí, você pega as figuras como Jandira Feghali, Maria do Rosário, Gleisi Hoffmann, Ivan Valente.
Todo esse pessoal, Glauber Braga, os mais novos, Samia Bonfim, Thaliria Perotti, Fernanda Melchiona, todos, eles não sobem. Vocês não vêm uma fala que agregue. Você só vê uma fala de destruição do outro.
Uma fala dos nós contra eles. Uma fala de acusando os outros de nazista, de fascista, de tudo. E sempre com muita mentira.
O cidadão, o homem médio, que assiste a esse tipo de coisa por anos, ele vai se indignando de uma forma. E, principalmente, por não ver quem dê vazão à sua indignação. O PSDB sempre se quedou parecendo que é uma garça na lama, né? O PSDB nunca deu vazão a isso.
As pessoas adoravam Aécio e o Aécio não dava a resposta que eles queriam. O Fernando Henrique nunca se contrapôs, o Alckmin nem se fala. Então, aquilo ficou preso na garganta das pessoas, até que em 2013 explode.
E explodiu permanentemente. Encontrou em Bolsonaro alguém que faz o contraponto e é por isso que essas pessoas estão com Bolsonaro. Agora, eu digo o seguinte, pode prender Bolsonaro, pode prender todos os deputados, pode torná-los todos inelegíveis.
Não vai aplacar esse sentimento de injustiça, esse sentimento de desconforto, de falta de confiança, de desgaste de todos esses atores. O ministro Alexandre pode não só prender, mas pode mandar enforcar em praça pública todos esses. A todos nós, que essa parte da população não vai aplaudi-lo, que essa parte da população vai continuar discordando da forma como essa gente pensa uma sociedade.
A sociedade norte-americana acaba de levar Trump novamente ao Congresso. Se fosse o STF lá nos Estados Unidos, provavelmente aquela nação estaria entrando agora num processo de ebulição muito parecido com o nosso. Então, a bola está com o STF, a bola está com o PT, a bola está com o ministro, a bola está com o presidente Lira e o presidente Pacheco.
Para definir que país queremos, um país conflagrado, um país em que todos nós estejamos em seguro, em que você não possa entrar num carro sem se preocupar se tem uma bomba ali ou não. Um país onde passe a ter terrorismo interno como, por exemplo, lá no Reino Unido, com Ira. Ou se nós queremos um país que possa aceitar o diferente.
Todo esse discurso que se usa contra os radicais, é justamente por demonizar o pensamento diferente. É justamente por não dar chance. Por exemplo, quando o PL entrou com aquela ação pedindo que o TSE, que o ministro Alexandre, desse oportunidade para explicar-se a diferença entre aqueles dois tipos de urna, e ele simplesmente não fez nada, ele simplesmente multou o PL.
Aquilo lá contribuiu muito para o que aconteceu no Brasil. Principalmente porque há uma população que não teve explicação de nada, que simplesmente as coisas são assim, pronto e acabado. Eu aqui faço, quem manda sou eu.
Então, esse caldo todo é a partir disso que nós precisamos fazer análise sobre esse episódio que aconteceu e outros que vierem acontecer. Porque não é possível que essas pessoas não enxerguem que estão andando na contramão do que pensa, eu diria, mais da metade da população brasileira.