Ventos cada vez mais frequentes e fortes causam prejuízos bilionários no Brasil
O histórico desse fenômeno revela um quadro crescente de riscos: desde 2013, ventanias afetaram mais de 10 milhões de pessoas, gerando prejuízos superiores a R$ 12 bilhões.
“Mil e quinhentos municípios no Brasil ainda não têm uma Defesa Civil organizada. Se houver prevenção, a gente praticamente elimina, no mínimo, 70% a 80% dos óbitos. Os danos materiais também se reduziriam muito”, alerta Paulo Ziulkoski, presidente da Confederação Nacional dos Municípios, destacando a importância da organização em prevenção.
No Brasil, vendavais são caracterizados por ventos superiores a 80 km/h, e sua medição é realizada pelo Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) desde 2002. Nos primeiros anos de registro, esses fenômenos eram raros, com menos de dez ocorrências anuais.
No entanto, a partir de 2007, a frequência aumentou: foram 31 registros em 2012 e 2015, e 36 em 2017. Em 2023, o número subiu para 51, e apenas nos primeiros dez meses de 2024 já foram contabilizados 33 vendavais, muitos com ventos acima de 100 km/h.
A Escala de Beaufort, utilizada mundialmente desde o século XIX, mede a intensidade e o poder de destruição dos ventos. Segundo este parâmetro, vendavais moderados começam a causar danos a partir dos 75 km/h, arrancando árvores inteiras quando superam os 80 km/h. Ventos acima de 100 km/h causam destruição generalizada e, a partir de 118 km/h, são classificados como furacões.
Especialistas associam o aumento desses eventos ao aquecimento global. “É o que a gente já adiantava bastante nesse cenário de aquecimento global e de mudanças climáticas. Mas essas ocorrências de eventos extremos de ventania, a gente tem que se preparar”, explicou, em entrevista à Globo, Ricardo de Camargo, professor de Meteorologia do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da USP.
No Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) de São Paulo, pesquisadores realizam testes no túnel de vento para analisar o impacto dos vendavais em construções e desenvolver medidas que aumentem sua resistência. Os resultados mostram que os telhados são as áreas mais vulneráveis.
Essas medidas simples podem prevenir acidentes, como explicou Gilder Nader, pesquisador do IPT: “Vento muito forte incidindo sobre uma casa vai descer e também subir. Se tem o forro primeiro, ele pode bater no forro, desviar e arrancá-lo, mas é um problema menor. Agora, se está direto nas telhas, quando ele subir, ele vai arrancar telhas. Procure vedar as frestas entre o telhado e a alvenaria. Tente manter tudo fechado, e se tiver frestas na janela, procure também colocar algum elemento de vedação”.