Relações Portugal-Brasil; A importância do “Fórum de Lisboa“
O presidente do Fórum de Integração Brasil-Europa e professor da Faculdade de Direito de Lisboa, Vitalino Canas, ressalta a importância do encontro promovido pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes, na capital portuguesa.
(*) Vitalino Canas
Pode medir-se a importância e impacto dos eventos académicos, sociais, políticos, artísticos, pela qualidade e relevância dos seus resultados e pelo número de reações, positivas e negativas, que eles suscitam. Um evento invisível, sem chama, metido numa catacumba, não suscita qualquer tipo de reação, nem elogiosa, nem crítica. O XII Fórum de Lisboa, realizado na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa nos dias 26 a 28 de junho, atingiu níveis elevados em cada um desses dois critérios. Houve centenas de notícias, artigos de opinião, reportagens, entrevistas, apontamentos em dezenas de órgãos dos mídia portugueses e brasileiros. Neles incluem-se algumas opiniões negativas (embora não muitas, em termos relativos).
As opiniões negativas normalmente provêm de quem não foi convidado, mas gostaria de ter sido; mas também de quem não foi convidado e não gostaria de ter sido. Nesta segunda classe há três categorias: a daqueles que não gostariam de ter sido convidados por nada terem para dizer; a daqueles que usam o nome do Fórum simplesmente para fazer combate político; e o daqueles que entendem que o evento não é útil, não tem interesse ou não é um bom local para se falar de coisas sérias.
É a esta última categoria que este texto se dirige. O intuito é demonstrar que estão errados.
Na perspetiva dos organizadores ou dos participantes portugueses – que é a minha – o Fórum tem caminhado a passos largos para ser um dos maiores eventos de debate e gestação de pensamento organizados pela Academia portuguesa, em parceria com prestigiadas instituições brasileiras. Começou por ser um Fórum Jurídico, mas há muito que se tornou multidisciplinar.
O Fórum de Lisboa não é apenas um veículo privilegiado para o conhecimento mútuo do que melhor fazemos nos nossos países, desde o Direito à criação académica nos vários domínios, do empreendedorismo ao desenvolvimento científico e tecnológico, da transição energética à proteção ambiental, do desenvolvimento agroindustrial à Inteligência Artificial aplicada e generativa. É também um veículo para, de forma livre, sair “da caixa”, libertando-nos das amarras institucionais a que muitas vezes nos sentimos constrangidos quando estamos no nosso ambiente profissional e funcional.
Para Portugal e para os portugueses (académicos, investigadores, pensadores, empresários, políticos), o Fórum é um modo de, concentradamente, em três dias, terem acesso a uma multidão de brasileiros (e de personalidades de outras nacionalidades) das suas áreas de interesse que não conseguiriam obter nem em 100 viagens ao Brasil.
Creio ser desejo dos portugueses e dos brasileiros com visão estratégica que se processe uma crescente integração entre o Brasil e a Europa – com Portugal à cabeça -, por um número incomensurável de motivos. O Fórum de Lisboa, lançado há quase duas décadas por Carlos Blanco de Morais e Gilmar Ferreira Mendes, já fez – e vai continuar a fazer – mais por isso do que muitas cimeiras de alto nível.
Houve uma insinuação em algumas publicações: o Fórum serviria para quem intenta fazer lobby a favor de alguma coisa encontrar um espaço para contacto privilegiado com os decisores de qualquer setor.
Conheço relativamente bem o Brasil e muitos brasileiros. Nunca encontrei nenhum, de qualquer estrato, grupo, ou ocupação, que fizesse estilo de vida ficar fechado em casa ou que recusasse o contacto social nos milhões de ocasiões em que o possa ter. A ideia de que alguém necessita de vir a Lisboa para fazer lobby, deixa-me perplexo.