Palestinos, residentes na América Latina, comemoram intermediação diplomática da China que pode enfim erguer o Estado da Palestina
Entidade representativa dos palestinos que vivem no Brasil e nos demais países da América Central, do Sul e Caribe, ressaltaram o papel do governo chinês e dos BRICS no futuro da geopolítica da região do Oriente Médio.
Por Humberto Azevedo
Os palestinos, residentes na América Latina, representados pela Federação Palestina da América Latina (Fepal), comemoram a intermediação diplomática da China que pode enfim erguer o Estado da Palestina, criado pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 1948, quando foi criado também o Estado de Israel. Em nota, a entidade expressou seu apoio ao acordo histórico entre as 14 forças políticas palestinas, incluindo os maiores e rivais, Fatah e Hamas, anunciado pela China, nesta última terça-feira, 23 de julho. A entidade destaca ainda o anúncio para o “impacto positivo para a resistência e unidade do povo palestino”.
De acordo com a Fepal, a divisão palestina tem beneficiado a ocupação colonial sionista mais do que as armas ocidentais. A atual fase dos ataques israelenses ao território palestino da Faixa de Gaza, chamado pelos palestinos de genocídio, já teria resultado na morte de quase 50 mil pessoas, incluindo 20 mil crianças e 12 mil mulheres. A estimativa é que o número total de mortes possa chegar a 200 mil, conforme publicado na revista médica “The Lancet”.
Para a entidade latino-americana dos palestinos, o “papel da China e dos BRICS” pela primeira vez faz com que a “questão Palestina” seja tratada fora das metrópoles coloniais e imperialistas. “A China, sem envolvimento histórico na Nakba ou no genocídio palestino, possui a legitimidade moral, ética e política que falta ao ocidente”, afirmam. A Fepal também destaca o apoio da Rússia e dos BRICS e vê nisso como resultado dos esforços da Federação Russa, que junto com a China e outros membros dos BRICS, se opõe aos ataques israelenses aos territórios palestinos em Gaza ao defenderem um Estado palestino livre e soberano.
“Os palestinos voltam-se contra o ocidente, seu algoz histórico, que nunca mediou uma solução honesta para a Palestina. Em vez disso, buscam apoio nos BRICS, que não fornecem armas para o extermínio do povo palestino. […] A reconciliação ocorre em um momento de reação global contra o genocídio palestino. Desde manifestações de milhões nas ruas até decisões do Conselho de Segurança da ONU, que ordenou um cessar-fogo contra a vontade dos EUA, e investigações da Corte Internacional de Justiça e do Tribunal Penal Internacional sobre crimes cometidos por Israel”, afirma a nota da Fepal.
“O acordo de reconciliação e a formação de um governo de unidade são vistos como passos cruciais para o estabelecimento de um estado palestino soberano, laico, democrático e próspero, regido pelo império da lei e pela supremacia dos direitos humanos. A Fepal acredita que a unidade nacional encerrará a ocupação, permitirá o retorno dos refugiados, acabará com o apartheid sionista e a limpeza étnica, e promoverá a reconstrução de Gaza e de toda a Palestina”, complementa a entidade representativa dos palestinos latino-americanos.
Abaixo segue a íntegra da nota da Fepal.
“Unidade palestina em tempos de genocídio e BRICS – O mundo foi novamente surpreendido pelo papel geopolítico da China, que ontem anunciou a reconciliação entre as forças políticas palestinas, desde as predominantes Fatah, a maior na OLP (Organização para a Libertação da Palestina), e Hamas, somadas a mais outras 12 denominações de diferentes espectros ideológicos, quase todas do quadro histórico da OLP. É a segunda vez, neste ano, que a reconciliação palestina é debatida em Pequim, agora com o anúncio, na cerimônia que hoje encerrou as negociações, da Declaração de Pequim sobre o Fim da Divisão e o Fortalecimento da Unidade Nacional Palestina, que proclama a unidade nos marcos da OLP e a construção de governo de unidade nacional. Saudamos, a partir desta diáspora brasileiro-palestina, o encerramento irracional da divisão política e geográfica da resistência e do povo palestino e a restauração da unidade nacional, anseio de todos os palestinos, com as seguintes considerações: 1. A divisão palestina só interessa à ocupação colonial sionista, que dela se beneficia mais do que das armas ocidentais, responsáveis pela atual fase do genocídio palestino em Gaza, com quase 50 mil civis assassinados em 9 meses, 2,23% da demografia do enclave, dos quais 20 mil são crianças e 12 mil mulheres, podendo chegar a 200 mil o total deste extermínio, conforme recentemente publicado em The Lancet. 2. Este acordo é construído, mediado e selado na China, a nova potência global que desafia a hegemonia colonial, imperialista e genocidária ocidental, e país que constrói, com Brasil, Rússia, Índia e África do Sul, os BRICS e um novo mundo, em que o multilateralismo e o Direito Internacional regem as relações entre os países e povos. 3. Assim, é a primeira vez que a Questão Palestina é tratada fora das metrópoles coloniais e imperialistas, bem como fora de alguns países árabes, que nunca tiveram poder e soberania suficientes para afirmarem-se como garantidores de acordos. 4. Mais que isso, a China não está implicada na Nakba, nem patrocina o genocídio palestino desde 1947, ou seja, é país sem as mãos manchadas do sangue palestino e árabe, o que lhe dá a legitimidade moral, ética e política que falta ao “ocidente”, inventor e avalista de “israel” e de seu Apartheid. 5. O acordo alcançado em Pequim é também resultado dos esforços da Rússia, na qual as forças palestinas estiveram em diversas ocasiões e que, ao lado da China e demais BRICS, se opõe ao genocídio palestino em Gaza, pede cessar-fogo desde 8 de outubro e defende um estado palestino livre e soberano. 6. Os palestinos, de outro lado, dão as costas ao “ocidente”, seu algoz, que nunca mediou honestamente uma solução para a Palestina, apenas interferiu para beneficiar ‘israel’, e voltam ao seu leito histórico, antes representado pelo Movimento dos Países Não Alinhados, no qual a OLP era grande protagonista, agora sob a liderança dos BRICS, países dos quais não saem as armas e munições que exterminam o povo palestino. 7. A reconciliação em Pequim se dá quando em Washington se encontram os genocidas Biden e Netanyahu, em pleno processo eleitoral no qual os EUA escolhem para genocida de plantão entre os sionistas Donald Trump e Kamala Harris, que buscam manter a era dos genocídios, enquanto a Palestina ditará, com seus aliados, o sepultamento dos genocídios e de suas metrópoles. 8. Por fim, o contexto da reconciliação e unidade palestina selada em Pequim é o da reação massiva do mundo contra o genocídio palestino, desde as ruas com milhões ao Conselho de Segurança da ONU, que determinou um cessar-fogo contra a vontade dos EUA e quase admitiu a Palestina como membro pleno – o veto dos EUA impediu, passando pela Corte Internacional de Justiça, que investiga “israel” por genocídio, e pelo Tribunal Penal Internacional, que desde 2021 investiga Netanyahu e outros israelenses por crimes de lesa-humanidade e que agora analisa suas prisões, levando ao banco dos réus tanto o regime israelense quanto o ocidente, algo antes impensável. É neste grande contexto histórico que, cremos, acontecerão a reconciliação e o governo de unidade, com todos dentro da OLP, a grande casa palestina, e haverá um estado palestino soberano, laico, democrático, próspero, seguro, regido pelo império da lei e pela supremacia dos direitos humanos. A unidade encerrará a ocupação, retornará os refugiados, acabará com o apartheid sionista e sua limpeza étnica, reconstruirá Gaza e toda a Palestina e levará à condenação dos responsáveis pelos crimes de lesa-humanidade, incluída a reparação por toda destruição sofrida pelo povo palestino nestes 77 anos de genocídio. – Palestina Livre a partir do Brasil, 23 de julho de 2024, 77º ano da Nakba”.