• Home
  • Geral
  • Médicos Sem Fronteiras afirmam que situação nutricional, no Sudão, é catastrófica no acampamento de Zamzam
Imagem do médico brasileiro Paulo Reis, membro dos Médicos Sem Fronteiras, em 2013, quando trabalhou pelo organismo no Sudão. (Foto: Reprodução Agência Brasil / MSF)

Médicos Sem Fronteiras afirmam que situação nutricional, no Sudão, é catastrófica no acampamento de Zamzam

Entidade internacional que presta socorro às vítimas em zonas de conflitos e guerras apela para que todos os esforços sejam feitos e que os suprimentos essenciais cheguem às comunidades.

 

Por Humberto Azevedo

 

Os Médicos Sem Fronteiras (MSF) afirmaram nesta última sexta-feira, 13 de setembro, que a situação nutricional, no Sudão, é catastrófica no acampamento de Zamzam. Uma triagem realizada pelas autoridades de saúde do Sudão e por integrantes do MSF, no início deste mês de setembro, apontam que o referido acampamento localizado em Darfur do Norte, é catastrófico e está em crescente piora.

 

O MSF apela para que a Organização das Nações Unidas (ONU) e as demais partes internacionais envolvidas na negociação de um acesso humanitário mais amplo considerem todas as opções para entregar rapidamente alimentos e suprimentos essenciais na área, inclusive por meio de lançamentos aéreos.

 

“Os resultados (da triagem) não só confirmam o desastre que nós e outras partes interessadas temos observado e alertado há meses, mas também indicam que, a cada dia, a situação está piorando e estamos ficando sem tempo. Estamos falando de milhares de crianças que morrerão nas próximas semanas sem acesso a tratamento adequado. Precisamos de soluções urgentes para permitir que a ajuda humanitária e bens essenciais cheguem a Zamzam”, falou Michel Olivier Lacharité – coordenador de emergência do MSF.

 

Desde que o Comitê de Revisão da Fome concluiu que às condições na área, em 1º de agosto deste ano, estava em situação de completa penúria, nenhuma quantidade significativa de ajuda humanitária chegou à população no acampamento de Zamzam e na cidade vizinha de El Fasher, devastada pela guerra.

 

A maioria das estradas, usadas para levar suprimentos, é controlada pelas Forças de Apoio Rápido (FAR), o que tornou quase impossível levar alimentos terapêuticos, medicamentos e suprimentos essenciais para o acampamento desde a intensificação dos combates em torno de El Fasher em maio.

 

DESNUTRIÇÃO INFANTIL

 

Não há mais tempo a perder se quisermos evitar milhares de mortes preveníveis. Na semana passada, durante uma campanha de vacinação no acampamento de Zamzam, entre as mais de 29 mil crianças com menos de cinco anos examinadas, 10,1% sofrem de desnutrição severa grave, uma condição que ameaça a vida. Enquanto 34,8% sofrem de desnutrição aguda, que evoluirá para uma forma mais grave de desnutrição, se não for tratada de maneira eficaz e em tempo hábil.

 

Em março de 2024, uma triagem em massa realizada por MSF revelou uma taxa de desnutrição severa grave de 8,2% e uma taxa de desnutrição aguda de 29,4%, que já era o dobro do limite de alerta da Organização Mundial da Saúde (OMS), que é de 15%.

 

“As taxas de desnutrição encontradas durante a triagem são enormes e, provavelmente, estão entre as piores do mundo atualmente. É ainda mais assustador, pois sabemos por experiência que os resultados são frequentemente subestimados na área, quando usamos apenas o critério da circunferência do braço superior, como fizemos aqui, em vez de combinar com a medição do peso e altura”, explicou Claudine Mayer, referente médica do MSF.

 

BLOQUEIOS

 

A única comida disponível vem de estoques pré-existentes, que não são suficientes para as pessoas que vivem na área, e os preços dos alimentos estão pelo menos três vezes mais altos do que no resto de Darfur. Os preços dos combustíveis também estão disparando, tornando muito difícil bombear água e administrar clínicas que dependem de geradores para fornecimento de eletricidade. Nossa equipe no local relata que, para muitos, é impossível contar com mais de uma refeição por dia.

 

Estima-se que o acampamento de Zamzam abrigue entre 300 mil e 500 mil pessoas, muitas delas deslocadas múltiplas vezes. Elas estão tentando fugir da guerra que vem destruindo seu país desde o ano passado. Em El Fasher, onde muitos dos deslocados costumavam viver, apenas um hospital permanece parcialmente de pé, depois que os outros foram danificados ou destruídos no conflito.

 

“Em uma situação tão desesperadora, deveríamos estar ampliando nossa resposta. Em vez disso, e com estoques de suprimentos criticamente baixos, estamos chegando ao limite. Recentemente, fomos forçados a reduzir nossas atividades para focar, exclusivamente, nas crianças em condições mais severas”, relatou Claudine Mayer.

 

“Isso significa que tivemos que suspender o tratamento para as formas menos severas de desnutrição, que representam um grupo de 2.700 crianças, e, por fim, suspender as consultas oferecidas a adultos e crianças acima de cinco anos, que representavam milhares de atendimentos por mês”, complementou Mayer.

 

“Por causa desses bloqueios inaceitáveis de suprimentos, sentimos que estamos deixando para trás um número crescente de pacientes, que já têm pouquíssimas opções para receber atendimento médico que salva vidas”, acrescentou Lacharité.

 

“Se as estradas não são uma opção para levar grandes quantidades de suprimentos urgentes para o acampamento, as Nações Unidas deveriam analisar todas as opções disponíveis. Atrasar esses suprimentos significa causar mais mortes — milhares delas, entre os mais vulneráveis”, finalizou o coordenador de emergência do MSF.

  • Compartilhar:

PUBLICIDADE