Mau cheiro, lixo e lama: profissionais retomam limpeza de Porto Alegre com baixa gradativa do Rio Guaíba
Garis retiraram mil toneladas de resíduos e chegada de bombas amplia drenagem na capital do Rio Grande do Sul
Com o nível da água do Guaíba baixando gradativamente, moradores de Porto Alegre passaram a relatar mau cheiro, com restos mortais de peixes e outros animais, insetos e animais peçonhentos. A lama e o lodo também permeiam tudo o que acabou inundado. Só na última semana, os garis retiraram mil toneladas de resíduo. Com vários pontos da cidade ainda submersos, os profissionais trabalham apenas onde é possível chegar. Seis bairros seguem totalmente inacessíveis.
O diretor do Departamento de Limpeza Urbana de Porto Alegre (DMLU), Carlos Alberto Hundertmarker, conta que os garis trabalham divididos em 21 grupos, espalhados pelo mesmo número de áreas da cidade, numa força-tarefa inédita. Os profissionais relatam uma rotina pesada. A área do Mercado Público de Porto Alegre, conta o diretor, é um dos pontos mais críticos:
— É um universo muito complexo. Aqui no Centro foram encontrados peixes e animais domésticos mortos, em outros bairros achamos dois jacarés, tartarugas. E na região central temos o Mercado Público, por onde passavam 300 mil pessoas em dias normais, mas que está totalmente submerso. Então, tudo se perdeu ali: carnes, peixes, cereais… o cheiro ali perto é muito ruim, é muito feio de se ver.
Outra situação que preocupa o DMLU é grande quantidade de resíduos que precisarão ser descartados.
— Além de colchões, cadeiras, eletrodomésticos, esperamos um grande “bota-fora” quando a água abaixar. Nossa equipe já está visitando algumas alternativas de aterros.
Água volta aos poucos
As autoridades começam também a intensificar os trabalhos para retomada do abastecimento de água. Na capital, cinco dos seis sistemas da cidade já voltaram a operar, ainda com vazão comprometida, sobretudo por conta da turbidez da água do Guaíba. Apenas a Estação de Tratamento de Água das Ilhas segue sem nenhuma operação.
— O nível do Guaíba passou da cota de inundação no dia 2 e, no dia 4, tivemos de desligar todas as estações de tratamento. Daí em diante, começamos a buscar ideias para colocarmos nossos sistemas de pé de novo — diz o diretor do Departamento Municipal de Água e Esgoto, Maurício Loss.
A recuperação do sistema Moinhos de Vento era tida como essencial por ser uma região estratégica. O sistema abastece 150 mil pessoas, incluindo uma das áreas mais nobres da cidade, e leva água a sete dos principais hospitais da capital.
A drenagem da água que ainda mantém partes de Porto Alegre submersas também é prioridade. Com apenas nove das 23 estações de bombeamento de água pluvial funcionando, o escoamento é muito mais lento. A chegada de 18 bombas flutuantes de alta capacidade ao estado, enviadas pela Sabesp, companhia de saneamento básico de São Paulo, ajudará no trabalho. Nove ficarão na capital; uma delas já opera no bairro Sarandi.
O restante do equipamento deve ser instalado no decorrer desta semana. O bairro do Humaitá e a região do Aeroporto Salgado Filho também devem receber as bombas inicialmente. Em outros municípios, como Canoas e São Leopoldo, também há bombas em funcionamento.
Morte por doença
A cidade de Travesseiro, no Vale do Taquari, registrou a primeira morte por leptospirose desde o começo dos temporais. A informação foi divulgada pela Secretaria estadual de Saúde e confirmada ao GLOBO pelo vice-prefeito da cidade, Tiago Weizenmann. Outros três casos da doença são monitorados. A morte de Eldo Gross, de 67 anos, foi registrada na sexta-feira.