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Governo ignorou histórico e lei que impedia construções próximas de rios no RS

História de Canoas, como revela o próprio nome da cidade, e lei municipal impediam construções. Governos locais e Eduardo Leite ignoraram

Enchentes alagaram Canoas desde a sua origem – Foto: Arquivo/Reprodução Notícias da Aldeia

O histórico ambiental e geológico de parte das cidades afetadas pelas enchentes do Rio Grande do Sul já comprovavam a impossibilidade de construções e moradias nas áreas. Estudos e uma lei foram ignorados, inclusive pelo atual governador Eduardo Leite (PSDB), que sob a sua gestão aprovou a construção de um sistema de proteção contra cheias entre os diques e rios bacia hidrográfica do rio dos Sinos, no ano passado.

Em artigo para o jornal local Notícias da Aldeia, Barcellos explica que o próprio nome do município remete aos seus rios e como a população se locomovia na cidade quando tomada pelos rios.

“Embora cercado pelos Rios dos Sinos e Gravataí, e Arroios Sapucaia e da Brigadeira, sua origem [do nome da cidade Canoas] se dá muito por conta de um desastre natural, que assolou seu território, pelo menos três vezes em proporções alarmantes, as enchentes”, narra.

Enchentes alagaram Canoas desde a sua origem – Foto: Arquivo/Reprodução Notícias da Aldeia

“Conforme os anais da Câmara, essas zonas ficaram submersas, atrasando assim a construção da estrada ferro, que cortava a Fazenda Gravataí, ligando Porto Alegre e São Leopoldo. Desta catástrofe, surgiu, de acordo com depoimentos publicados na obra de João Palma da Silva, o primeiro nome referenciando a estação que fora construída. Sua menção devido à construção de algumas canoas, que foram utilizadas e depois com o baixar das águas, abandonadas próximo de um capão. Surgindo assim a origem do Capão das Canoas.”

O historiador relata que a segunda grande enchente que atingiu Canoas foi a histórica de 1941, que hoje se faz referência e se utiliza para comparar com o desastre ambiental. Os poucos moradores de Canoas foram transferidos para terras mais altas e, entre 1942 e 1943, o governo local chegou a decretar um projeto de construção segura, a Vila Popular Mauá, mas que não saiu do papel.

Enchentes alagaram Canoas desde a sua origem – Foto: Arquivo/Reprodução Notícias da Aldeia

Nos anos 60, outra grande enchente que alagou Canoas e os arredores mobilizou as autoridades locais a construir os diques de contenção nos bairros que faziam limites com os Rios Gravataí e dos Sinos. Os diques, instalados a partir dos anos 70, diminuíram o receio dos moradores. Mas além de manutenções periódicas necessárias, não solucionavam os riscos.

Ainda, uma lei municipal, sancionada em 1970, pelo então prefeito de Canoas, impedia a concessão de licença para construção de prédios destinados a residência em toda a faixa de terra entre o dique de proteção contra cheias e os rios Gravataí e Sinos. De acordo com o historiador, a lei não foi cumprida e formaram-se no local núcleos suburbanos irregulares.

Enchentes alagaram Canoas desde a sua origem – Foto: Arquivo/Reprodução Notícias da Aldeia 
Lei municipal de Canoas impede e restringe a construção de prédios próximos a rios

Além disso, em 2016, pesquisadores do Comitê de Gerenciamento da Bacia Hidrográfica do Rio dos Sinos – COMITESINOS, em parceria com o Ministério Público Estadual (MPE), criaram um mapa que previa as áreas de inundação da Bacia do Sinos.

Esse projeto previa um prazo de 12 meses para os estudos, o que não foi concluído à tempo das enchentes deste ano. O sistema de proteção atual, que totaliza 21 km de diques, foi superado pela enchente, ultrapassando a cota de inundação da barreira que protegia contra o desastre natural.

Em entrevista recente à Rádio Gaúcha e jornal Zero Hora, o hidrólogo Fernando Fan, do Instituto de Pesquisas Hidráulicas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), disse que a manutenção não bastaria para impedir que a enchente atingisse as cidades.

“Assumindo a hipótese de que o dique está todo bem construído, bem executado e nivelado, o fato de a gente estar vendo a água passar por cima mostrou que os níveis que chegaram a São Leopoldo superaram os valores de projeto daquela obra. E, nisto, não haveria nada que a gente pudesse fazer, porque simplesmente o valor de vazão que aconteceu foi acima do valor adotado para a construção deste projeto”, explicou o pesquisador.

Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

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