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A imagem mostra que o aumento da temperatura do planeta Terra acima dos níveis esperados pelos cientistas pode fazer com que biomas brasileiros como a Amazônia, Caatinga, Cerrado sejam extintos já nas próximas décadas. (Foto: Reprodução / ICLNotícias)

Especulado para assumir o comando da Autoridade Climática, Carlos Nobre afirma em artigo que “mundo pode não ter mais volta”

Em entrevista ao jornal “O Estado de S. Paulo”, o climatologista e pesquisador da USP afirmou, ainda, estar “apavorado” com o avanço do aquecimento do efeito estufa e que “ninguém previa isso”; e as mudanças climáticas estão acontecendo de forma “muito rápida”.

 

Por Humberto Azevedo

 

Especulado para assumir o comando da Autoridade Climática – órgão anunciado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na última terça-feira, 10 de setembro, o climatologista e pesquisador da Universidade de São Paulo (USP), Carlos Nobre, um dos cientistas brasileiros mais respeitado no exterior, afirmou nesta última sexta-feira, 13 de setembro, em artigo publicado no portal UOL que o “mundo pode não ter mais volta” para os níveis do aquecimento global alcançado em julho de 2024 de 1,07 graus celsius. Assim, o planeta já estaria próximo de entrar numa fase de não retorno às medições anteriores a era pré-industrial – século 18.

 

Um dia antes, em 12 de setembro, em entrevista ao jornal “O Estado de S. Paulo”, Carlos Nobre afirmou, ainda, estar “apavorado” com o avanço do aquecimento do efeito estufa e que “ninguém” no mundo científico “previa isso”. Segundo ele, as mudanças climáticas estão acontecendo de uma forma “muito rápida” e tudo indica que em 2024 deve ser batido mais um recorde de temperatura. As consequências disso, ele aponta, são as ondas de calor e as secas intensas que passam a assolar cada vez mais lugares pelo planeta. As queimadas registradas no país com mais de cinco mil focos de incêndio seria apenas uma demonstração do novo momento climático. Cada vez mais intempéries ambientais como as enchentes que deixaram o Rio Grande do Sul (RS) debaixo d’água, como agora em setembro que São Paulo (SP) está sufocada sob uma espessa camada de poluição somada à fuligem das queimadas.

 

“A crise explodiu. Temos a maior temperatura que o planeta experimentou em 100 mil anos. Desde que existem civilizações, há dez mil anos, nunca chegamos nesse nível, em que todos os eventos climáticos se tornaram tão intensos e muito mais frequentes. São secas em todo o mundo, tempestades, ressacas e, agora, a explosão desses incêndios. Infelizmente, não é só aqui. No ano passado, tivemos grandes incêndios no Canadá, nos Estados Unidos, no sul da Europa. A diferença é de que lá o fogo foi causado por descargas elétricas. Aqui não: praticamente não teve nenhuma descarga elétrica. Entre 95% a 97% são causados pelo homem. A seca e as temperaturas elevadas estão diretamente relacionadas às mudanças climáticas. Isso ajuda o fogo a se propagar. Mas os incêndios são criminosos”, falou em entrevista ao Estadão.

 

“O Pantanal acaba até 2070, sem falar nos outros biomas. A Amazônia, o Cerrado, a Caatinga: todos os biomas estão em risco. Se o desmatamento continuar desse jeito, a Amazônia vai perder pelo menos 50% da floresta até 2070. Para ter ideia, a Caatinga já avançou 200 mil quilômetros quadrados pelo Cerrado. Há uma região no norte da Bahia que já é tão seca que poderá ter, em futuro próximo, um clima semidesértico, com precipitações abaixo de 400 milímetros por ano. O Pantanal já reduziu 30% nos últimos 30 anos; está secando. E agora o fogo destrói sua vegetação. Se continuarmos com emissões altas e só conseguirmos zerá-las em 2050, o que já é um enorme desafio, poderemos chegar a 2100 com temperatura a 2,5ºC da média. Se isso acontecer, o Pantanal não terá mais lago”, complementou na entrevista concedida ao jornal O Estado de S. Paulo.

 

“Ninguém esperava que as temperaturas globais fossem explodir e ficar 1,5°C mais quentes. Com exceção de julho de 2024, estamos desde junho de 2023 vivendo temperaturas acima de 1,5ºC. O último mês de agosto foi o mais quente já registrado. A Terra só viu algo parecido no último período do interglacial, 120 mil anos atrás. A consequência desses 14 meses de temperatura alta, incluindo os recordes de temperatura dos oceanos, é o aumento dos eventos climáticos extremos. (…) Estou apavorado porque, com 2,5ºC, nós vamos criar uma mudança climática nunca vista. Com 2,5ºC, os eventos extremos vão aumentar muito exponencialmente e o mais preocupante é que atingiremos os chamados pontos de não retorno. Se passarmos de 2ºC, todos os recifes de coral do mundo serão extintos. Se passarmos de 2,5ºC, vamos perder de 50% a 70% da Amazônia e grande quantidade do solo congelado da Sibéria, do Canadá e do Alasca, o chamado permafrost, será descongelado. Com isso, vamos jogar uma gigantesca quantidade de gases de efeito estufa que estão ali aprisionados”, completou em artigo publicado no UOL.

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