Governador Mauro Mendes na audiência de conciliação da ADPF 743 realizada na última quinta-feira. 19 de setembro, no STF. (Foto: Gustavo Moreno / STF)

ENTREVISTA DA SEMANA | MAURO MENDES

“O governo brasileiro deveria aplicar à União Europeia a lei da reciprocidade internacional”, afirma governador de MT

 

De acordo com o político e gestor mato-grossense do União Brasil, a decisão da União Europeia em taxar, já a partir de 2025, as commodities agrícolas que não tiverem comprovação que são de origem sustentável é um desrespeito à soberania nacional. “O que eles fazem lá, é um problema deles, mas nós podemos reagir à altura aqui no Brasil e exigir deles a reciprocidade ambiental dos produtos que eles também produzem na Europa e vendem para o nosso país”, comentou.

 

Por Humberto Azevedo

 

“O governo brasileiro deveria aplicar à União Europeia a lei da reciprocidade internacional”, afirmou o governador de Mato Grosso (MT), Mauro Mendes (União Brasil), após ser questionado pela reportagem do portal “RDMNews” sobre a decisão da União Europeia em taxar, já a partir de 2025, as commodities agrícolas que não tiverem comprovação que são de origem sustentável.

 

“O Brasil tem se acostumado ao longo dos anos a conviver com alguns tipos de crimes e impunidades. Na área ambiental, que temos aqui hoje, isso não é diferente”

 

De acordo com o político e gestor mato-grossense, a decisão adotada pelo bloco econômico europeu é um desrespeito à soberania nacional. As exportações de commodities agrícolas do Brasil destinadas aos países europeus representaram, em 2023, 13,6%, ficando atrás apenas das exportações que têm como destino a República Popular da China, que representou, no ano passado, 31,1%.

 

“Se nós não mudarmos a realidade para que nós possamos combatermos de forma mais dura e incisiva esses criminosos que praticam crimes contra a natureza, contra o sistema econômico brasileiro (…) esses incêndios [continuarão causando] graves prejuízos à economia do nosso país”

 

“O que eles fazem lá, é um problema deles, mas nós podemos reagir à altura aqui no Brasil e exigir deles a reciprocidade ambiental dos produtos que eles também produzem na Europa e vendem para o nosso país”, frisou Mauro Mendes.

 

“O Cadastro Ambiental Rural no Brasil é um exemplo de algo muito bom, que traz uma regularidade ambiental e uma transparência com relação a aplicação do Código Florestal Brasileiro, entretanto, com baixa evolução na prática em grande parte dos estados brasileiros”

 

De acordo com notícia publicada pelo portal “RDMNews” no último 17 de setembro, às regras mais rígidas adotadas pela União Europeia em junho, e que já serão válidas em 1º de janeiro de 2025, todas as commodities agrícolas que não comprovarem que são de origem sustentável poderá fazer com que o país perca mercado já em 2025.

 

“Se fizermos deste momento um aprendizado e tomarmos atitudes corretas, o ano que vem reunião como essa não precisará acontecer”

 

“[Precisamos] dar a eles [europeus] o mesmo tratamento e exigir que eles tenham lá o que eles exigem de nós aqui. (…) Não podemos ter um dos maiores ativos ambientais, uma economia agrícola mais sustentável do planeta e ser tratado desta forma e aceitar este tratamento”, continuou o governador.

 

“Nós precisamos fazer algo. Não podemos fazer algo só para dizer que estamos fazendo. Nós temos que ter, neste momento, muito senso de objetividade, de foco e de resultado”

 

A declaração foi dada numa entrevista coletiva concedida pelo governador, ao qual a reportagem do portal “RDMNews” participou na última quinta-feira, 19 de setembro, após a participação dele da audiência de conciliação da Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) 743 de 2020, realizada no Supremo Tribunal Federal (STF). Na oportunidade, Mendes defendeu o confisco de terra para quem cometer desmatamento ilegal e demais crimes ambientais como atear fogo sem autorização.

 

“Desde a Rio-92, quando nós tivemos o primeiro evento mundial sobre o clima no Brasil e em todas as demais COPs, e vamos para a COP-30 no ano que vem aqui novamente no Brasil, muito se conversou e pouco se fez ao redor do planeta”

 

Na conversa que teve com a imprensa e, em particular com o portal “RDMNews”, Mauro Mendes afirmou também que a possível nomeação do climatologista e pesquisador da Universidade de São Paulo (USP), Carlos Nobre, como “autoridade climática” do país – cargo e função que está sendo avaliado a ser criado, seria “excelente nome”. No entanto, o governador mato-grossense ressalvou a necessidade para assumir esta função alguém com “grande senso de urgência, objetividade e foco em resultados”.

 

“Eles [indústria petrolífera] financiam para empurrar o problema para outro lado para que eles possam continuar tranquilamente vendendo os seus produtos realizando as grandes emissões”

 

“Não adianta ficar diante das mudanças climáticas tão rápidas tomando decisões e implementações tão lentas como tem acontecido ao longo de 30 anos”, disparou Mauro Mendes.

 

ÍNTEGRA DA ENTREVISTA

 

Essas e outras declarações feitas por Mauro Mendes podem ser lidas na íntegra da entrevista que o portal “RDMNews” publica abaixo.

 

Imprensa: Dos principais pontos que o Sr. colocou, foi a necessidade de ampliar as punições para os criminosos. Como foi esta discussão e como o Sr. tem visto isso?

Mauro Mendes fala durante a audiência de conciliação da ADPF 743 realizada na última quinta-feira. 19 de setembro, no STF. (Foto: Rosinei Coutinho / STF)

Mauro Mendes: O Brasil tem se acostumado ao longo dos anos a conviver com alguns tipos de crimes e impunidades. Na área ambiental, que temos aqui hoje, isso não é diferente. O meu estado e em vários cantos por esse país, onde as pessoas são presas por colocar fogo e por praticar crimes ambientais, vai na audiência de custódia, paga uma multa baixíssima e já está fora da cadeia no dia seguinte. Se nós não mudarmos a realidade para que nós possamos combatermos de forma mais dura e incisiva esses criminosos que praticam crimes contra a natureza, contra o sistema econômico brasileiro, porque muitas vezes, esses incêndios ou esses desmatamentos ilegais causam graves prejuízos à economia do nosso país.

 

Imprensa: Como avaliou esta posição do ministro de suspender o Plano Safra daqueles proprietários que não se cadastraram no Cadastro Ambiental Rural (CAR), ou que tenham irregularidades?

Mauro Mendes, ao lado da secretária de Meio Ambiente de MT – Mauren Lazzaretti, que faz apresentação durante a audiência de conciliação da ADPF 743 realizada na última quinta-feira. 19 de setembro, no STF. (Foto: Rosinei Coutinho / STF)

Mauro Mendes: O Cadastro Ambiental Rural previsto na lei e aprovado em 2012. Já se passaram 12 anos e pouca coisa evoluiu nesse país. É mais um exemplo de nós somos muito bons para pensar e até para escrever, mas na hora de agir, nós cometemos muitas negligências. E o Cadastro Ambiental Rural no Brasil é um exemplo de algo muito bom, que traz uma regularidade ambiental e uma transparência com relação a aplicação do Código Florestal Brasileiro, entretanto, com baixa evolução na prática em grande parte dos estados brasileiros.

 

Imprensa: Com relação ao encontro na Presidência da República que acontece nesta quinta-feira, 19 de setembro, essa articulação tinha que ter acontecido antes? Pois, já estamos na reta final do período dos incêndios e da seca, visto que logo mais deverá começar o período das chuvas. O sr. acha que isso é muito mais para o próximo ano do que para 2024?

Mauro Mendes participa ao lado de vários governadores nesta última quinta-feira, 19 de setembro, de uma reunião no Palácio do Planalto sob coordenação do ministro-chefe da Casa Civil, Rui Costa, com objetivo de estabelecer estratégias de articulação federativa de ações conjuntos para o combate às queimadas ilegais. (Foto: Lucas Rodrigues / Secom-MT)

Mauro Mendes: O estado de Mato Grosso começou em janeiro. Em março, nós lançamos o nosso plano e nós não estamos na última hora correndo atrás. Entretanto, esse ano pelo grande período de estiagem, nós estamos com cinco meses sem chuvas em muitas parte do meu estado. Agora, neste momento, nós estamos próximos das chuvas. Dentro de um mês, mais ou menos, nós teremos chuvas em grande parte do território brasileiro. Porém, no ano que vem, deveremos ter uma situação muito parecida. Se fizermos deste momento um aprendizado e tomarmos atitudes corretas, o ano que vem reunião como essa não precisará acontecer, quando grande parte do país estaria submetido ao regime das queimadas.

 

RDMNews: Um resumo de como o Sr. avalia a reunião aqui desta audiência de conciliação da ADPF 743?

Mauro Mendes: Foi positivo. O ministro Flávio Dino é uma pessoa dinâmica, centrada, que foi governador e como governador conhece bastante bem este tema e tantos outros no exercício do cargo que ele ocupou durante quase oito anos. Eu acredito que a partir dela, e com os desdobramentos na sequência, nós poderemos produzir excelentes resultados para o próximo ano. Esse ano, quem fez, fez; quem não fez, a chuva vai fazer o seu serviço.

 

RDMNews: Com relação a decisão da União Europeia de criar uma taxa aduaneira, que valerá já a partir de janeiro de 2025, sobre commodities que não comprovarem uso sustentável, como o Sr. avalia isso? O governo está tentando reverter, é possível reverter?

Mauro Mendes, ao lado da esposa e primeira-dama de MT, Virginia Mendes, assina contrato que pode aumentar em mais de 80% atendimentos oncológicos no Hospital de Câncer de MT, que prevê um investimento anual de R$ 93,9 milhões (Foto: Divulgação / Secom-MT)

Mauro Mendes: Eu avalio que o governo brasileiro deveria aplicar à União Europeia a lei da reciprocidade internacional. Dar a eles o mesmo tratamento e exigir que eles tenham lá o que eles exigem de nós aqui. Por que senão a conversa não rompe. Não podemos ter um dos maiores ativos ambientais, uma economia agrícola mais sustentável do planeta e ser tratado desta forma e aceitar este tratamento. O que eles fazem lá, é um problema deles, mas nós podemos reagir à altura aqui no Brasil e exigir deles a reciprocidade ambiental dos produtos que eles também produzem na Europa e vendem para o nosso país.

 

Imprensa: Existe esta possibilidade de que seja indicado uma autoridade climática para cuidar das questões inerentes às mudanças climáticas? O Sr. acha que tem essa necessidade de indicar uma pessoa para ser o ministro do Clima?

Mauro Mendes: Nós precisamos fazer algo. Não podemos fazer algo só para dizer que estamos fazendo. Nós temos que ter, neste momento, muito senso de objetividade, de foco e de resultado. Senão cria-se mais alguns mecanismos, tiramos algumas fotografias, damos algumas sinalizações, mas as coisas não acontecem. Toda ideia é válida, mas ela precisa apontar necessariamente para resultados, que é isso que nós queremos ver como cidadãos, como governador e, tenho certeza, todos nós brasileiros.

 

RDMNews: O climatologista e pesquisador Carlos Nobre em recém entrevista ao “Estadão” e em artigo na “Folha de S. Paulo” falou, que desde que estuda os fenômenos do clima há mais de 50 anos, nunca viu movimentos tão bruscos e rápidos nas mudanças climáticas como a elevação da temperatura do planeta atualmente em 1,07 graus Celsius – a mais elevada temperatura dos últimos 130 mil anos – e que se continuarmos assim em menos tempos alcançaremos a temperatura de 1,5 do planeta em que as condições de vida começam a rarear. Dá para fazer algo? O nome de Carlos Nobre seria o nome certo para assumir o posto de “autoridade climática” por ele ser o nosso cientista desta área mais reconhecido no exterior?

Mauro Mendes, ao lado da esposa e primeira-dama de MT, Virginia Mendes, discursando durante ato realizado na última quinta-feira, 19 de setembro, em que foi celebrado o contrato que pode aumentar em mais de 80% atendimentos oncológicos no Hospital do Câncer de MT, que prevê um investimento anual que passará de R$ 48,7 milhões para R$ 93,9 milhões. (Foto: Divulgação / Secom-MT)

Mauro Mendes: Excelente nome, uma pessoa de profundo conhecimento, longo histórico, mas eu acredito que nós precisamos, nele ou em qualquer um que possa ocupar esse cargo, ter um grande senso de urgência, de objetividade e foco em resultados. Não adianta ficar diante das mudanças climáticas tão rápidas tomando decisões e implementações tão lentas como tem acontecido ao longo de 30 anos. Desde a Rio-92, quando nós tivemos o primeiro evento mundial sobre o clima no Brasil e em todas as demais COPs, e vamos para a COP-30 no ano que vem aqui novamente no Brasil, muito se conversou e pouco se fez ao redor do planeta.

 

RDMNews: Inclusive, a COP-29 deste ano acontecerá no Cazaquistão financiada por empresas petrolíferas?

Mauro Mendes: Que é o maior emissor. Eles financiam para empurrar o problema para outro lado para que eles possam continuar tranquilamente vendendo os seus produtos realizando as grandes emissões que vem da queima de combustíveis fósseis, inclusive o carvão, que é um dos principais emissores do planeta.

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