ENTREVISTA DA SEMANA – ERAÍ MAGGI SCHEFFER
Presidente da AMPA avalia que Brasil está pronto para reativar sua indústria têxtil
Dirigente da associação representativa dos produtores de algodão de Mato Grosso falou com exclusividade para o portal RDMNews na última semana, quando esteve em Brasília para prestigiar o anúncio de R$ 400 bilhões para financiar o plano safra da agricultura empresarial.
Por Humberto Azevedo
O presidente da Associação Mato-grossense de Algodão (AMPA), Eraí Maggi Scheffer, avalia que o Brasil está pronto para reativar a sua indústria têxtil. A declaração, exclusiva ao portal RDMNews na última semana, no Palácio do Planalto, onde esteve para acompanhar o anúncio dos mais de R$ 400 bilhões para financiar o plano safra da agricultura empresarial, aconteceu em meio às comemorações do setor cotonicultor brasileiro alcançar a marca de maior exportador da ‘commoditie’ do mundo.
“A minha análise é que não se resolvem as coisas tudo num primeiro momento. É importante que tenha volume de grana. O importante é que o produtor tome financiamento, atualize os seus maquinários, armazéns e que toque [a produção].”
Segundo o empresário, também considerado como o “rei da soja” no país com mais de 570 mil hectares plantados e colhidos, a pluma do algodão exportada para a produção têxtil na Ásia já não encontra mão de obra barata naquele continente de “um dólar ao dia” para a produção fabril. Isso, de acordo com ele, seria a oportunidade do Brasil reviver sua indústria de confecção, atraindo para o mercado laboral do setor fabril costureiros e costureiras artesanais – o que dinamizaria ainda mais a economia brasileira.
“Se a toada é essa agora, com esses juros altos, que é o nosso problema, o importante é que houve volume de dinheiro. Dá para girar, dá para construir armazéns, dá para carregar a safra, exportar, renovar o maquinário, renovar suas terras, fertilizar melhor, colocar calcário.”
Eraí destaca que a ‘commoditie’ exportada do Brasil representa apenas 5% de todo o processo da indústria têxtil. Mas o empresário do agronegócio lembra que as bases que sustentaram o setor industrial no país precisa mudar e passar a seguir o modelo de negócios que levaram a agricultura ser o que ela é atualmente, em que cada CPF (Cadastro de Pessoa Física) é responsável pelo CNPJ (Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica) que administra uma determinada empresa.
“Os juros não foram agradáveis. Então, não agrada tudo ao mesmo tempo. No meio do caminho se ajusta.”
“O algodão custa 5% da roupa. Então, imagina? Tem-se 95% de outros produtos. De mão de obra, de comércio, transporte, impostos. Então tem uma variação grande em tecnologia com o têxtil”, comentou. “Tem que ser uma indústria mais não tão dependente de governo, tem que ser uma indústria pensando mais no setor industrial”, observou.
“O presidente Lula tem feito boas viagens lá fora, boas amizades, bons negócios. Porque o governo não é mais do que fazer negócio. O ministro Fávaro está muito atuante nisso. O ministro Fávaro não tem preguiça.”
PARTILHA
“Nós temos também uma lavoura aqui no Brasil muito segura. É muito difícil haver eventuais quebras. No Centro-Oeste, eu estou há 40 anos praticamente e tivemos quebras insignificantes e mesmo assim se pagou o custeio.”
Questionado sobre as ausências das principais lideranças do setor agropecuário no lançamento do plano safra 2024/2025 como do próprio presidente da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) e também dos parlamentares que compõem a cúpula da Frente Parlamentar de apoio à agropecuária (FPA) no Congresso Nacional, como o deputado Pedro Lupion (União Brasil-PR), o dirigente da AMPA lamentou que a sociedade brasileira viveu uma “partilha” desde o impeachment da ex-presidenta Dilma Rousseff (PT), em 2016, e que se acirrou no governo do ex-presidente Jair Messias Bolsonaro (PL).
“O Brasil está numa tendência de uma inflação depois do Plano Real muito tranquila. O Brasil está bem nisso. Nós temos que ter essa esperança. Está aí, temos que ser otimistas com o Brasil.”
“Tudo isso aconteceu nesse governo lá atrás. A infraestrutura pela calha norte para a exportação nos portos do Norte, pela Amazônia, foi nesse governo. A industrialização nossa com as máquinas modernas, mais produtivas do mundo inteiro, e exportando para o mundo inteiro, gerando emprego no Sul, Sudeste, todo o Brasil, para que o agro pudesse andar”, falou.
“Esse país é uma potência! O Brasil é uma potência. Tem gente que quer ser pessimista e diz que o Brasil não está bem. O Brasil está bem.”
JUROS
“Nós crescemos e hoje nós produzimos alimentos mais baratos, muito mais baratos que há uns anos atrás. Então, nós temos alimentos hoje com condições para as pessoas comprarem. Então, é um país em que se pode acreditar nele. Tem todas as condições.”
Maggi Scheffer reclamou, ainda, da alta taxa de juros praticada no Brasil. E também concordou com boa parte do setor que gostaria que o plano safra voltado para o financiamento dos grandes e médios produtores e proprietários rurais poderia ter uma taxa de juros mais baixa. Mas, segundo ele, os juros poderiam ser menores, mas não será isso que vai impedir um bom plantio e uma colheita.
“O Brasil é o principal exportador da fibra de algodão, que é uma fibra nobre para a indústria têxtil, que é melhor para usar do que o produto de origem de petróleo. Então, ele é muito melhor, muito mais saudável.”
No mesmo sentido, ele também falou da demanda do setor pela adoção de um seguro maior para a safra. E que isso também não é motivo de, assim, tanta reclamação. “O seguro também não é uma fábrica de ficar rico”, disparou.
“O Brasil está no caminho certo. Temos que incentivar as nossas indústrias do têxtil aqui também, confecção, tecelagem, malharia, e tais, porque isso é o que gera muito emprego aqui dentro. Então, tudo vai chegando a hora.”
Abaixo e a seguir a íntegra da entrevista concedida pelo empresário Eraí Maggi Scheffer ao portal RDMNews.
“O Centro-Oeste tem como ajudar essa parte que é essa geração de empregos e deixar a riqueza aqui dentro. Gerar emprego aqui dentro não vai dólar para fora, né? Ajuda o Brasil na balança comercial.”
RDMNews: Como o Sr. viu o anúncio do plano safra, no valor de R$ 400 bilhões, e 10% a mais que o ano passado, destinado a atender aos grandes e médios produtores e proprietários rurais?
Eraí Maggi Scheffer: A minha análise é que não se resolvem as coisas tudo num primeiro momento. É importante que tenha volume de grana. O importante é que o produtor tome financiamento, atualize os seus maquinários, armazéns e que toque [a produção]. [A taxa de] juros ainda é um pouco alta? É alta, sim, lógico! Mas a tem a linha em dólar, que não é tão alta, dá para tolerar o projeto. Era 11,5%, baixou 1%, no real. Ele ainda é alto. Mas é assim, eu nunca tive medo quando opera com banco que repassa, de governo, Banco do Brasil, nos nossos 50 anos de agricultura, nunca tive medo disto. Então isso vai se resolver, ou se a inflação for muito baixa, que esses juros positivos fiquem muito altos. Resolve no meio do caminho. Sempre resolveu. Então, eu nunca vi problema de produtor perder propriedade. Eu vi, sim, medo de fazer as coisas. Então, se a toada é essa agora, com esses juros altos, que é o nosso problema, o importante é que houve volume de dinheiro. Dá para girar, dá para construir armazéns, dá para carregar a safra, exportar, renovar o maquinário, renovar suas terras, fertilizar melhor, colocar calcário. Então, as indústrias, armazéns, foi muito bom. Foi positivo. Tem volume de dinheiro. Os juros não foram agradáveis. Então, não agrada tudo ao mesmo tempo. No meio do caminho se ajusta, como já teve securitização, teve até perdão nesta história deste Brasil no agro. O que não pode é querer, às vezes, tudo no mesmo momento. Hoje está sem clima para ter um juros subsidiado. Então, nós não estamos neste clima. Agora, com relação ao plano safra e com relação a essa produtividade que nós temos no Brasil, mesmo no algodão, em que estou como presidente da Associação Mato-grossense de Algodão, que pela primeira vez passamos a liderar como o maior exportador no mundo, no planeta. Então, nós estamos api com o algodão tecnificado há 30, 40 anos já no Brasil, e chegamos lá com um número grande na exportação e tem uma previsão de crescimento. E o Brasil vai tomar essa posição e já tomou. E tem que ter mercado lá fora. O presidente Lula tem feito boas viagens lá fora, boas amizades, bons negócios. Porque o governo não é mais do que fazer negócio. O ministro Fávaro está muito atuante nisso. O ministro Fávaro não tem preguiça. Ele vai viajar, segue os passos. Tem feito esses trabalhos [de maneira] muito forte, com muito vigor, com muita energia em tudo isto. Então, estamos no caminho certo. No nosso agro, no nosso plano safra, na nossa agricultura e com as empresas que temos que girar aqui nesse ‘timing’ e não parar. Nós não podemos ficar parados como estávamos, estagnados, sem compras, sem modernizar. Nós precisamos fazer andar a roda e o plano safra é prometedor.
“O algodão custa 5% da roupa. Então, imagina? Tem-se 95% de outros produtos. De mão de obra, de comércio, transporte, impostos. Então tem uma variação grande em tecnologia com o têxtil, né?”
RDMNews: Uma das demandas do setor empresarial do agronegócio era que o plano safra tinha que contemplar com mais recursos a área de seguros para segurar a próxima safra de intempéries climáticas. O próprio ministro reconheceu que não foi possível atender essa demanda por completo, apesar do crescimento linear do seguro. Como o sr. vê esta questão?
Eraí Maggi Scheffer: Eu estou na agricultura há mais de 50 anos, né? Então, nós temos também uma lavoura aqui no Brasil muito segura. É muito difícil haver eventuais quebras. No Centro-Oeste, eu estou há 40 anos praticamente e tivemos quebras insignificantes e mesmo assim se pagou o custeio. Então, o seguro também não é uma fábrica de ficar rico. Não é! Mesmo assim pagou o custeio. É só o produtor escalonar o seu plantio, é só o produtor melhorar as suas terras com corretivos mais profundos. Por que lá embaixo tem umidade. Então, o produtor é isso aí não ter preguiça e não ter medo de fazer investimentos no solo. Dá o carinho para a terra. Colocar calcário mais na profundidade. Porque é igual a tirar a azia de uma pessoa. A azia do estômago. Ela vai funcionar. Então, tem que tirar a acidez. É muito parecido com o estômago da gente, a terra. Tirou a acidez lá do fundo, as raízes vão se desenvolver, vão tirar umidade. É quase um seguro também. Então, tem muitas maneiras de se segurar. O plano safra, ele ajuda no todo. Também o seguro-safra. Tem que escalonar, outras empresas particulares também fazem seguro, os bancos também fazem seguro. Então, já demonstrou uma boa vontade de melhorar. E lá um tempo ou outro, a gente tem esse problema climático. Mas é muito longo. 20 anos, 30 anos, dez anos para poder ter um e outro. Então, eu acredito que nós vamos voltar aos nossos tempos normais. Temos aquecimento, temos problemas, mas não ia se agravar assim de uma hora para outra tão rápido. Porque os números não mudaram tanto neste último ano assim para ter tudo isso. Então, eu tenho fé, vamos tocar à forma do que jeito que estamos tocando e cada vez um passinho. Vamos ver se toma esse dinheiro para o seguro também. Por quê?
Por que é o que eu falei, ele não é uma fonte de ficar rico com o seguro, não! Ele tem um custo. Escalonar, já é um seguro. Plantar numa época, outro em outra, outro na outra. Lógico, a melhor janela tem um mês tal, dia tal de plantio. Melhor janela de produtividade. Então, escalonamento, rotação de cultura, fazer uma boa palhada, uma boa cobertura, plantios diretos, melhorar a terra, fazer perfil, calcariação profunda, equipamentos, tratores, tudo tem que ter. Então, o plano safra está aí com volume de dinheiro para isso. Os juros, caro! Mas isso se resolve no meio do caminho se a inflação for muito baixa e que, às vezes, fica muito positivo esses juros. Ele pode ser muito positivo. Se tiver uma inflação mais alta, ele pode até ser negativo. Mas eu acho que não. O Brasil está numa tendência de uma inflação depois do Plano Real muito tranquila. O Brasil está bem nisso. Nós temos que ter essa esperança. Está aí, temos que ser otimistas com o Brasil. Esse Brasil, ele é líder em tudo, né? Frango, álcool, biocombustíveis, milho, cana, soja, algodão, pecuária, nós temos tantas fontes de produção de alimentos, que o mundo precisa disso, e nós sabemos fazer isso. Então, o que nós temos que ter é a tranquilidade de ter cuidado para fazer e não querer acertar na bunda da mosca, não. Mas acertar na mosca! Assim está bom, você fica mais tranquilo diversificando variedades. As pesquisas estão aí, as tecnologias estão disponíveis. Então, esse país é uma potência! O Brasil é uma potência. Tem gente que quer ser pessimista e diz que o Brasil não está bem. O Brasil está bem. Temos um povo ordeiro. É só unir as famílias, e ficar aí a direita e a esquerda, ficar esse tipo de coisa, que eu sou da direita não gosto do cara da esquerda e que o cara da esquerda está errado. Eu sou da esquerda e o cara da direita está errado. Acho que não. Acho que tem que unir e um pouco pelo meio. Unir as famílias, unir as pessoas, pensar um pouco mais e continuar com a nossa democracia, com a nossa produção, que o Brasil é bom, o Brasil está bem, e é só olhar para os lados. Olha, para os países vizinhos, olha para o mundo afora e a perspectiva que tem esse país. Esse país tem perspectiva, tem todas as condições, tem água, tem terra, tem pessoas, têm tecnologias, tem ainda um governo democrático, bom, tecnologia de maquinário até para exportar pelo mundo afora. Nós crescemos e hoje nós produzimos alimentos mais baratos, muito mais baratos que há uns anos atrás. Então, nós temos alimentos hoje com condições para as pessoas comprarem. Então, é um país em que se pode acreditar nele. Tem todas as condições.
“Às vezes, o industrial tem a indústria lá, com os bens separados da indústria. Ele tem a pessoa física e os negócios dele em outra empresa, e a empresa parece que não é um problema dele. Então, eu acredito que vá mudar esse pensamento e vai ter mais gente entrando já sabendo que ele tem que ter produtividade, competitividade e qualidade.”
RDMNews: Com relação às exportações do algodão, que o Sr. representa, como viu essa ultrapassagem do produto brasileiro ser mais vendido que o de origem dos Estados Unidos?
Eraí Maggi Scheffer: O Brasil tomou a liderança esse ano. O Brasil é o principal exportador da fibra de algodão, que é uma fibra nobre para a indústria têxtil, que é melhor para usar do que o produto de origem de petróleo. Então, ele é muito melhor, muito mais saudável, ele segura o suor, ele é outra coisa – o algodão. Então, por isso, ele é um pouco mais caro e a gente sabe disso. Mas o Brasil está cada vez produzindo mais, com mais tecnologia, com mais pesquisa, faz duas safras, faz uma safra de grãos antes de alimentos. Não quer dizer que o algodão não seja alimento. Ele tem o caroço, que dá a ração, o óleo. Mas o forte dele é a pluma, que é o vestuário. Mas no Brasil, principalmente no Centro-Oeste, ele deixa uma chance muito grande para as pessoas que querem se alimentar. Porque se pode fazer uma safra de grãos de soja, de feijão, antes. E o algodão, depois. Isso não se faz em outras partes do planeta. É só aqui que se faz assim.
“A sociedade viveu uma partilha, né? De um lado e para o outro. Ou é direita, ou é esquerda. Para a direita, a esquerda não vale nada, é a direita. Para a esquerda, a direita não vale nada, é a esquerda que vale. Então, houve uma divisão muito grande no país e isso nós temos que ir para o meio. As pessoas, as famílias, têm que se entender um pouco mais. O país não pode ter essas brigas, ainda mais chegar a esse ponto. Não tem essa necessidade.”
RDMNews: E nos Estados Unidos, o algodão lá é subsidiado, não é? Ao contrário do produzido aqui?
Eraí Maggi Scheffer: Não é só nos Estados Unidos, mas na Ásia, na China, Índia, Paquistão, Uzbequistão, esses países têm muito subsídios. E subsídios fortes. 20%, 30% do que nós temos. Eles têm lá a garantia do um para a libra-peso, aqui 70 libra-peso, que é o preço. Então, nós temos, assim, uma vantagem muito grande em cima deles. E lá os governos seguram porque geram empregos. O que mais gera emprego é o têxtil, depois a construção civil. Depois da construção civil, é o têxtil. Então, o Brasil está no caminho certo. Temos que incentivar as nossas indústrias do têxtil aqui também, confecção, tecelagem, malharia, e tais, porque isso é o que gera muito emprego aqui dentro. Então, tudo vai chegando a hora. Hoje o país que tem a produção, ele tem um produto 20% mais barato que aquele que importa. Então, já está aqui dentro, e nós temos as condições para as nossas indústrias crescerem e também gerarem empregos. Porque, às vezes, tem lá uma pessoa em cadeira de rodas, o que está na casa e que pode trabalhar na casa dela, senhoras, pessoas mais idosas que não querem mais ir para o mercado de trabalho robusto, ela pode trabalhar em casa fazendo suas roupas, seguindo as modinhas, faz-se isso, aquilo outro, faz camiseta. Então, está se organizando muito. Nós temos meia dúzia de polo-têxtil no Brasil, em Caruaru (PE), temos Goiânia (GO), temos Blumenau (SC), Temos Cianorte (PR), temos alí Americanas (SP), temos Rio de Janeiro (RJ). E nós podemos criar mais pólo-têxtil, principalmente, no Centro-Oeste, Norte. Temos a Bolívia aí com Cochabamba, Santa Cruz [de La Sierra], Acre, Rondônia, Amazonas. Então, o Centro-Oeste tem como ajudar essa parte que é essa geração de empregos e deixar a riqueza aqui dentro. Gerar emprego aqui dentro não vai dólar para fora, né? Ajuda o Brasil na balança comercial.
“Esse governo fez andar e deu condições para andar. Lógico, sempre o produtor trabalhando. O produtor trabalha muito. Ele é ordeiro, trabalhador, é lutador, é um leão para trabalhar. Mas eu sei que teve porque eu já fiquei três dias para falar com o gerente de banco para conseguir um dinheiro para o financiamento. E, às vezes, nem conseguia.”
RDMNews: Seria agregar valor, não é? Porque hoje o algodão é exportado em sua maior parte, correto?
Eraí Maggi Scheffer: Agrega! Bem perguntado. Para se ter uma ideia, o algodão custa 5% da roupa. Então, imagina? Tem-se 95% de outros produtos. De mão de obra, de comércio, transporte, impostos. Então tem uma variação grande em tecnologia com o têxtil, né? Do algodão para virar roupa. Então, nós temos só 95% para pegar uma parte. O algodão representa, geralmente, apenas 5% da roupa.
RDMNews: O Brasil até os anos 90 tinha uma indústria têxtil forte. E ela foi fraquejando, até muitas companhias famosas quebraram, pediram falência, e o Brasil passou a ser muito dependente de produtos manufaturados de fora, não é?
Eraí Maggi Scheffer: Nós tínhamos uma mão de obra, tínhamos e temos, ainda mais alta em relação à Ásia e uma tecnologia muito grande na Europa. Mas a Europa hoje já foi. Já não produz mais lá. Hoje ficou na Ásia. Mas também a mão de obra lá não está ficando assim mais barata mais. Então, eu acredito que já insere o Brasil e essas indústrias voltem a retomar. Mas tem que ser uma indústria mais não tão dependente de governo, tem que ser uma indústria pensando mais no setor industrial. A pessoa e a indústria [tem que] ser a mesma. Porque hoje a indústria é a indústria e se quebrou a indústria, problema do governo, e o dono da indústria está lá bacana com grana, com o capital, porque não está nem aí para as indústrias dele. De achar que é um problema governamental e não é. Eu acredito que também vai entrar mais indústrias sérias, que vão colocar tecnologias, vão colocar velocidade no negócio – como o produtor põe lá na sua roça. O produtor se quebrar, ele perde a terra. E, às vezes, o industrial tem a indústria lá, com os bens separados da indústria. Ele tem a pessoa física e os negócios dele em outra empresa, e a empresa parece que não é um problema dele. Então, eu acredito que vá mudar esse pensamento e vai ter mais gente entrando já sabendo que ele tem que ter produtividade, competitividade e qualidade. Então, já está entrando no Brasil esse outro pensamento de empresários e também a nossa mão de obra não é mais àquela de um dólar por dia da Ásia. Ela está ficando mais parecida com a nossa. Então, já, já, tem como nós inserir o povo brasileiro na indústria têxtil.
RDMNews: Com vista a essa retomada da indústria têxtil no país, o Sr. acredita que o programa Mover – Mobilidade verde e inovação, é um passo importante da reindustrialização do país que está sob a batuta do ministro e vice-presidente Geraldo Alckmin?
Eraí Maggi Scheffer: Tem tudo a ver. Tem muito a ver. Bem perguntado. Vai ter que ter essa dedicação. O governo vai ter que dar um suporte. O industrial tem que colocar mais dedicação nisso como a gente faz na agricultura. Na agricultura, a gente mistura as propriedades com o negócio e com a pessoa física. A indústria, ela acha que eles são um problema do governo. E eles estão com as coisas separadas e não [se] dedicam com tanto carinho como o produtor, porque o Brasil tem muito esse perfil do agro. E o agro está misturado com a pessoa física, com a jurídica, com as terras, com a propriedade. Se ele quebrar, ele quebra todo. ele quebra por inteiro. Sendo que a indústria, eles acham que os problemas são do governo. E não é! O governo tem que dar o suporte, tem que dar as condições e ele tem que aperfeiçoar com mais tecnologia, produtividade. Eles têm que trabalhar um pouco mais atento porque a mão de obra na Ásia não está tão barata, o que valia a pena fazer tudo lá. Está ficando caro lá também. Então, isso dá oportunidade ao Brasil de se inserir nisso agora. É uma bela oportunidade. Tem que modernizar as nossas indústrias, tecnificar com todas [inovações da] informática que se tem hoje e todas as tecnologias. Então, está na hora. E, depois, o acabamento, a costura, e não sei o quê, que é a confecção, aí são as pessoas, nas casas, que têm menos capacidade física, não são aquelas pessoas tão fortes, às vezes, elas podem fazer nas casas costurando com máquinas. As famílias, geralmente, tem aquelas folgas e que a família pode estar costurando, trabalhando. Então, eu acredito que nós devemos ir muito com essa peça ali. E deixar essa riqueza gerar aqui dentro. Porque o Brasil está num momento de se fazer isso.
RDMNews: Como o sr. viu a ausência de pessoas importantes do agronegócio como o presidente da CNA, João Martins Sousa, e da cúpula da FPA no parlamento no anúncio do plano safra voltado para os grandes e médios produtores rurais?
Eraí Maggi Scheffer: A sociedade viveu uma partilha, né? De um lado e para o outro. Ou é direita, ou é esquerda. Para a direita, a esquerda não vale nada, é a direita. Para a esquerda, a direita não vale nada, é a esquerda que vale. Então, houve uma divisão muito grande no país e isso nós temos que ir para o meio. As pessoas, as famílias, têm que se entender um pouco mais. O país não pode ter essas brigas, ainda mais chegar a esse ponto. Não tem essa necessidade. Somos todos amigos, todos da mesma família. Então, não estão mais escutando. E as pessoas parecem que estão com o corpo fechado. Mas as pessoas não querem entender também o que fez esse governo para o agro. As pessoas parecem que não querem entender tudo o que foi feito. Parece que não querem nem escutar e não querem nem fazer análises. Mas eu que estou há 50 anos nesse negócio e sei como foi fácil no governo Lula adquirir máquinas, armazéns, melhorar o solo, com prazos longos, bons e baratos. E como isso cresceu. Não cresceu só o produtor. Cresceram as nossas indústrias. Por que o mundo inteiro, a Europa, os Estados Unidos fizeram parcerias com as nossas indústrias do Brasil, e se transformaram nestas enormes indústrias com tecnologia e vendendo e exportando para o mundo inteiro? E a nossa agricultura cresceu tanto? As nossas tonelagens, toneladas que nós produzíamos, lá atrás e que produzimos agora? Será que as pessoas não entendem e não conseguem enxergar que o produtor trabalhou, lutou, suou, dedicou, muito, – eu dou o mérito ao produtor – mas teve condições de trabalhar. Porque se tu olhar, o burro trabalha para c…, no entanto, fica na carroça sempre. Então, ao trabalhar necessitou de todo esse suporte, de financiamento, abrir mercado lá fora, fazer a infraestrutura, abrir as biotecnologias.Tudo isso aconteceu nesse governo lá atrás.
A infraestrutura pela calha norte para a exportação nos portos do Norte, pela Amazônia, foi nesse governo. A industrialização nossa com as máquinas modernas, mais produtivas do mundo inteiro, e exportando para o mundo inteiro, gerando emprego no Sul, Sudeste, todo o Brasil, para que o agro pudesse andar. Não foi só o agro, não foi só o produtor, foi o emprego, o que a empregada doméstica ganhou e teve mais oferta de comida que ficou mais barata. E o Brasil virou essa potência. Será que não dá para enxergar a potência que está o país? Olha a potência que está esse país! O país é uma potência. É que o cara quer mais, mais e mais. E por causa de algumas ideologias, outras coisas, o produtor fechou aí o corpo. A questão da reforma agrária, o medo do quê? Se ele já tocou esse governo oito anos lá atrás e não tivemos esse problema? Nós não tivemos esse problema. A questão do etanol, dos biocombustíveis, todo esse governo fez andar e deu condições para andar. Lógico, sempre o produtor trabalhando. O produtor trabalha muito. Ele é ordeiro, trabalhador, é lutador, é um leão para trabalhar. Mas eu sei que teve porque eu já fiquei três dias para falar com o gerente de banco para conseguir um dinheiro para o financiamento. E, às vezes, nem conseguia.