ENTREVISTA DA SEMANA | DAGOBERTO NOGUEIRA
“Quem é um cliente melhor para nós? É a China, então vamos conversar”, comenta o deputado sul-mato-grossense do PSDB
De acordo com o tucano, o Brasil não pode perder a oportunidade de ampliar suas parcerias comerciais com a China. Segundo ele, os chineses “querem fazer investimento em ferrovias, em rodovias, em hidrovias”.
Por Humberto Azevedo
A entrevista da semana nesta véspera de natal é com o deputado Dagoberto Nogueira (PSDB-MS). Num conversa de quase 15 minutos com a reportagem do Grupo RDM, o tucano sul-mato-grossense abordou diversos temas, incluindo as relações comerciais sino-brasileira, que, segundo ele, é uma grande oportunidade ao país para seguir em seu projeto de desenvolvimento nacional.
“Primeiro, eu acho que consolidou aquele processo democrático que foi discutido se as urnas eletrônicas não eram válidas”
“Quem é um cliente melhor para nós? É a China, então vamos conversar. É com a China, eles querem fazer investimento em ferrovias, em rodovias, em hidrovias. É aí que nós temos que conversar, porque o Brasil precisa disso”, comentou o deputado sul-mato-grossense destacando a oportunidade que está posta ao país.
“Tudo isso, agora, em função dessas denúncias que teve em relação ao governo anterior, ficou demonstrado que, na realidade, a preocupação não era com as urnas eletrônicas. A preocupação era com o golpe que estava armado. Então, eu acho que isso está superado”
A declaração aconteceu após ser perguntado como ficará as relações do Brasil com os Estados Unidos da América, que a partir do próximo 20 de janeiro de 2025 volta a ser presidido pelo presidente Donald Trump. “No comércio nós temos que caminhar com quem dá um resultado melhor para o Brasil. Hoje, a China dá um resultado muito mais efetivo do que os Estados Unidos”, apontou.
“Essa votação, por ter sido muito rápida com as urnas eletrônicas, comprova que o Brasil tem o melhor sistema eleitoral do mundo”
De acordo com Dagoberto, Trump vai continuar fazendo suas “bravatas”. Mas, segundo ele, os Estados Unidos não deverão sobretaxar o aço brasileiro, o que poderia prejudicar a indústria siderúrgica nacional, como o velho-novo presidente estadunidense já prometeu fazer, porque isso praticamente colocaria o Brasil ainda mais perto da China e mais longe de Washington. “no fundo, ele depende do Brasil, se ele não comprar do Brasil, vai comprar de quem?”
“Os outros países têm vindo aqui para poder pegar o nosso modelo. Você viu o modelo do próprio Estados Unidos, a demora que teve para ter os resultados”
O tucano sul-mato-grossense afirmou ser totalmente favorável a adesão do Brasil ao programa do governo chinês da Rota e Cinturão da Seda comentou que o país precisa “sair dessa polarização” do que seria “bom para o Bolsonaro”, ou “bom para o Lula”. “Nós temos que sair disso, Nós temos que fazer aquilo que é melhor para o Brasil”, argumentou.
“O processo eleitoral brasileiro está consolidado e acho que já está no momento de a gente começar a discutir a votação de vereador a presidente da República”
O deputado lamentou que na gestão do ex-presidente Jair Messias Bolsonaro, “eles tinham muito medo dos Estados Unidos” e isso impediu o governo federal passado “de fazer qualquer acerto” ou aproximação com a China. “E na realidade você tem que estar fazendo aquilo que é melhor para o país, não por questão ideológica”, complementou.
“Hoje, eu não tenho mais dúvidas. Se a gente fizer a votação de vereador a presidente da República numa única eleição, nós vamos votar com a mesma velocidade que nós estamos votando hoje”
O deputado acredita que mesmo se o Brasil não aderir à Rota da Seda do governo chinês, isso não será empecilho para que o país possa tirar do papel e executar a Ferrovia de Integração Leste-Oeste (Fiol), que interliga o porto de Aratu, na Bahia, até a saída para o Oceano Pacífico, no Peru.
“O PSDB fez a maioria esmagadora dos prefeitos e os prefeitos que não eram do PSDB eram ligados ao governador Eduardo Riedel também”
“Com a adesão ou não da Rota da Seda, a Fiol é que vai fazer o corredor bioceânico sair. É o que o governo Lula está estimulando para que eles [chineses] também consigam fazer essas rotas que são de interesse deles também, não só essa, como outras muitas aqui no Brasil”, completou.
“A gente tem que fazer eleição a cada cinco ou seis anos, que é uma discussão que o Congresso tem que fazer, e sem direito à reeleição para o Executivo, logicamente”
Estas e outras declarações do deputado Dagoberto Nogueira podem ser conferidas na íntegra da entrevista na qual publicamos, agora. Boa leitura!
“A nossa carne é a melhor carne. Aqui nós temos preocupação com acabamento de gordura, nós temos preocupação com a questão sanitária”
RDM: Deputado Dagoberto, como que o senhor está analisando o atual cenário da conjuntura nacional? Lógico, que o internacional influi também, mas visto o resultado das eleições de 2024 nos municípios.

Dagoberto Nogueira: Olha, primeiro, eu acho que consolidou aquele processo democrático que foi discutido se as urnas eletrônicas não eram válidas. Tudo isso, agora, em função dessas denúncias que teve em relação ao governo anterior, ficou demonstrado que, na realidade, a preocupação não era com as urnas eletrônicas. A preocupação era com o golpe que estava armado. Então, eu acho que isso está superado. As eleições, por exemplo, no Mato Grosso do Sul, nós que somos candidatos a deputados, a gente gosta de votar quando tem muita gente, mas não tinha nem fila. Todo mundo votou muito rápido. Eu acho que essa votação por ter sido muito rápida com as urnas eletrônicas, isso comprova que o Brasil tem o melhor sistema eleitoral do mundo, que é o nosso. Os outros países têm vindo aqui para poder pegar o nosso modelo. Você viu o modelo do próprio Estados Unidos, a demora que teve para ter os resultados e a forma com que eles fazem lá é muito mais vulnerável do que o nosso. Então, o processo eleitoral brasileiro está consolidado e acho que já está no momento de a gente começar a discutir a votação de vereador a presidente da República. Eu me lembro que, no passado, quando nós mudamos, inclusive, o tempo do mandato dos prefeitos e vereadores para poder ter coincidência de mandato, aquela época foi permitida que votassem no número e no apelido, que era para poder dar mais velocidade no ato da votação. Mas era manual e isso acabou. Em muitos lugares, recolheram as pessoas que estavam lá fora, fecharam os portões às cinco horas, mas esse cara até uma hora, duas horas da manhã votando. Então, criou aquela polêmica danada e acabou voltando à situação anterior. Hoje, eu não tenho mais dúvidas. Se a gente fizer a votação de vereador a presidente da República numa única eleição, nós vamos votar com a mesma velocidade que nós estamos votando hoje. Não tem mais fila em colégio eleitoral nenhum e acho que, com isso, nós, lá no Mato Grosso do Sul, nós somos muito felizes com as eleições. O PSDB fez a maioria esmagadora dos prefeitos e os prefeitos que não eram do PSDB eram ligados ao governador Eduardo Riedel também.
“Aqui nós cumprimos todas as exigências do mercado europeu como um todo, inclusive dos americanos também, que são mais exigentes do que o próprio mercado europeu”
RDM: Então, o seu mandato defende a coincidência das eleições gerais para acontecerem numa única data. E aí, como seria resolvido isso? Esticaria o mandato de prefeito e vereador ou do presidente, dos senadores e dos deputados?
Dagoberto Nogueira: Olha, eu penso o seguinte. É muito difícil para nós, e perante a opinião pública, nós prorrogarmos o nosso mandato. Tem que ser feito como foi feito da outra vez. O mandato de vereador e de prefeito seria prorrogado para seis anos e aí o coincidir com os nossos, porque senão nós vamos estar agindo em causa própria, a gente prorrogando os nossos mandatos, que eu acho que não é uma coisa boa.
“Eu acho que o Trump, ele faz um discurso e depois age diferente. Ele joga para a plateia, tem os votos dele desses extremistas, ele é uma pessoa extremamente protecionista”
RDM: E aí acabaria a reeleição?
Dagoberto Nogueira: Não, eu acho também que aí, se a gente coincidir os mandatos, nós temos que sair dessa questão dos mandatos de quatro anos. A gente tem que fazer a cada cinco ou seis anos, que é uma discussão que o Congresso tem que fazer, e sem direito à reeleição para o Executivo, logicamente. O Legislativo não, que tem direito à reeleição. Eu acho que essa tese está ganhando muito corpo aqui no Congresso Nacional. Eu não acredito que vai dar tempo para a gente votar para as próximas eleições, mas é o caminho que o Congresso está dando. É o que a gente sente entre os líderes, e também você conversando com os demais deputados.
“Ele [Trump] vai dar continuidade nisso, vai ficar fazendo essas bravatas que ele sempre faz aí, mas no fundo, ele depende do Brasil, se ele não comprar do Brasil, vai comprar de quem?”
RDM: Mas como ficaria o mandato do senador? Porque os mandatos dos senadores são de oito anos, não é?
Dagoberto Nogueira: Aí você tem que dobrar, não é? Até porque, como tem essa inversão do senador, deles ficarem numa eleição com dois e aí troca um na outra eleição, que é para poder sempre ter essa alternância. Então, para que a gente também não tenha o Senado contra, porque se eles vão votar contra, nós vamos ter que dobrar também o tempo deles. Eles vão ser estendidos, ao invés de oito anos, eles passam para 10 ou 12 anos.
“Então, eu não tenho preocupação com essa questão de mercado, porque mercado é aquilo, é quem tem e quem tem preço bom. Nós temos o produto e temos preço bom. Ele vai ter que comprar aqui da gente”
RDM: E aí o mandato do senador passaria a ser de dez ou doze anos só nesta legislatura?
Dagoberto Nogueira: Não, 10 ou 12 anos. 10 ou 12 anos também. É porque se tudo vai ficar com seis anos, por exemplo, e eles têm alternativa de dois e um, não é, a cada três senadores que tem em cada Estado, então elege um dali para 12 anos, e aí, quer dizer, a cada seis anos, você vai tendo eleição no Senado também.
“O Brasil não pode ficar dependendo dos Estados Unidos. Essa sinalização que ele [Lula] fez com a China, com a Rússia, com a França, com vários países, isso aí nós temos que abrir mercado mesmo”
RDM: Ok. Só que aí o mandato continua. Por isso para dez ou 12 anos por abranger duas legislaturas.
Dagoberto Nogueira: Continua como é hoje. Do mesmo jeito que é hoje, porque senão o Senado não vota. Só que em vez de oito passaria a ser seis anos.
“Nós não podemos ficar na dependência de um ou de outro por um determinado produto. E mostrar para os Estados Unidos que eles são muito fortes, mas não são donos do mundo”
RDM: Exatamente. Entendi. Agora, no cenário nacional, a questão da carne? O Brasil teve esse episódio aí do Carrefour, já tinha acontecido o episódio da Danone e tal, da questão da soja, e alguns outros episódios, não é, sobretudo tratando das empresas francesas, não é, Danone, Carrefour. Danone embora seja uma empresa suíça-francesa. Como que o senhor viu essa questão? Mato Grosso do Sul é um importante produtor de carne, de proteína animal, não é? E como que o senhor viu a declaração, o pedido de desculpa, a reação do governo, a reação do legislativo?

Dagoberto Nogueira: Olha, eu vejo isso como um desastre, não é, de quem deu a notícia. Tanto é que o próprio Carrefour, que depois, ele precisou de voltar atrás, precisou pedir desculpa, porque houve um boicote da carne brasileira para o Carrefour. E se eles não tiverem a carne brasileira, eles não vão ter carne, e a nossa carne é a melhor carne. Aqui nós temos preocupação com acabamento de gordura, nós temos preocupação com a questão sanitária, aqui nós cumprimos todas as exigências do mercado europeu como um todo, inclusive dos americanos também, que são mais exigentes do que o próprio mercado europeu. E nós estamos cumprindo tudo isso. Quer dizer, foi uma coisa impensável, acho que ele não esperava que daria toda essa repercussão tão negativa como deu para o resto do mundo, não é, e aí ele precisou de voltar atrás e passar a vergonha de ter que pedir desculpa ao Brasil que ele estava errado e ele reconhecendo que a nossa carne é uma das melhores carnes do mundo.
“Então, se criar problema lá, nós vamos lá na China e vamos vender para a China. E a China está comprando muito minério nosso, está comprando grão, está comprando carne, eles estão comprando de tudo da gente”
RDM: E a saída que o Legislativo está estudando, a votação desse projeto de reciprocidade comercial, que na verdade retira o Brasil, pode retirar o país de acordos internacionais, mas aí tendo implicações com outros setores também. Como vê isso?

Dagoberto Nogueira: Olha, eu acho que essa discussão ficou naquela crise. Hoje já não tem mais isso. Eu acho que agora já que esse pedido é de desculpa, houve essa normalização, eu acho que nós vamos voltar à situação que é normal, a Europa inteira está comprando da gente, os americanos estão comprando, a China está comprando muita carne nossa, a China até é um país menos exigente porque eles não se preocupam muito com acabamento de gordura, essas coisas, eles compram de tudo e eles compram, inclusive, miúdos que muitos países não compram. Então, é isso que nós temos que pensar, é abrir mercado cada vez mais para a gente não ficar dependendo de um único mercado. Assim como nós não dependíamos só do Carrefour, o Carrefour precisou de recuar.
“Na minha avaliação, nós temos que dar muito mais importância a quem investe aqui e quem compra nossas coisas do que ficar essa repercussão de jornais, dessas coisas”
RDM: E na sua percepção qual é a avaliação do por que houve esse embate? Era a adesão da França no acordo União Europeia-Mercosul?
Dagoberto Nogueira: Não, eu acho que foi um lapso de desleixo por parte do Carrefour, e falta de informação, falar sem pensar, e aí depois eu acho que ele não imaginava que ia dar a repercussão que deu.
RDM: Agora os Estados Unidos. O Donald Trump ganhou a eleição, volta à Casa Branca, e dá sinais de que o seu segundo governo vai ser um governo que vai fechar a economia dos Estados Unidos, mais do que no primeiro mandato, e vai sobretaxar exportações dos países. No caso do agronegócio, o agronegócio brasileiro não sofre tanto impacto, mas a siderurgia brasileira, o aço, que é uma commodity brasileira, isso pode ter implicações também para o agronegócio, não é? Como que o seu mandato avalia e está vendo isso?
Dagoberto Nogueira: Olha, primeiro, eu acho que o Trump, ele faz um discurso e depois age diferente. Ele joga para a plateia, tem os votos dele desses extremistas, ele é uma pessoa extremamente protecionista, os americanos tinham uma certa rejeição dos latinos que estão indo para lá, que tomam o emprego lá do americano, então ele faz um discurso para os americanos mesmo, construindo aquele muro ali do México. Eu acho que isso tudo ele vai dar continuidade nisso, vai ficar fazendo essas bravatas que ele sempre faz aí, mas no fundo, ele depende do Brasil, se ele não comprar do Brasil, vai comprar de quem? Então, eu não tenho preocupação com essa questão de mercado, porque mercado é aquilo, é quem tem e quem tem preço bom. Nós temos o produto e temos preço bom. Ele vai ter que comprar aqui da gente como nós também compramos deles.
“Ficar olhando que isso é bom para o Bolsonaro, é bom para o Lula. Nós temos que sair disso, nós temos que sair dessa polarização. Nós temos que fazer aquilo que é melhor para o Brasil”
RDM: E sobre as tensões Estados Unidos e China, agora novamente com Trump no cenário? O presidente Xi Jinping veio para o Brasil no último encontro da cúpula dos 20 países mais ricos do mundo (G20), teve uma reunião bilateral no último dia 20 de novembro com o presidente Lula, em que foram assinados 37 acordos comerciais, sendo seis diretamente envolvendo o agronegócio, indiretamente mais uns quatro, cinco também. E a China está querendo que o Brasil faça adesão à Rota da Seda. O governo brasileiro vê essa entrada com ressalvas, está tentando driblar, até usando um pouco isso como a negociação com os Estados Unidos. Como o senhor está vendo isso? O Brasil deve aderir ou não à Rota da Seda da China?

Dagoberto Nogueira: Lógico que tem. Eu acho que, primeiro, o Brasil não pode ficar dependendo dos Estados Unidos. Essa sinalização que ele fez com a China, com a Rússia, com a França, com vários países, isso aí nós temos que abrir mercado mesmo. Nós não podemos ficar na dependência de um ou de outro por um determinado produto. E mostrar para os Estados Unidos que eles são muito fortes, mas não são donos do mundo. Então, se criar problema lá, nós vamos lá na China e vamos vender para a China. E a China está comprando muito minério nosso, está comprando grão, está comprando carne, eles estão comprando de tudo da gente. Lógico que há contrapartida, e eles nos vendem algumas tranqueiras que eles tem lá, mas isso é natural, é do meio do comércio internacional. Então, nós temos que respeitar isso, mas acho que o Lula agiu corretamente, deu uma importância muito grande para ele aqui, fez esses convênios todos. Isso aí deu uma sinalização para o resto do mundo. Quem não estiver de acordo conosco, nós vamos buscar outras alternativas.
RDM: Mas o Brasil deve aderir à Rota da Seda?
Dagoberto Nogueira: Lógico, lógico, sou totalmente favorável, totalmente favorável.
RDM: E para encerrar, então, a China tem os acordos em que é o nosso maior parceiro comercial, exporta, importa nossos produtos, mas também ela tem investimentos aqui, hoje investimentos pesados. Tem promessas pesadas de investimento, coisa que os americanos não têm, correto?
Dagoberto Nogueira: Então, na minha avaliação, nós temos que dar muito mais importância a quem investe aqui e quem compra nossas coisas do que ficar essa repercussão de jornais, dessas coisas. Ficar olhando que isso é bom para o Bolsonaro, é bom para o Lula. Nós temos que sair disso, nós temos que sair dessa polarização. Nós temos que fazer aquilo que é melhor para o Brasil. O que é melhor para o Brasil? Quem é um cliente melhor para nós? É a China, então vamos conversar. É com a China, eles querem fazer investimento em ferrovias, em rodovias, em hidrovias. É aí que nós temos que conversar, porque o Brasil precisa disso.
“O governo anterior eles tinham muito medo dos Estados Unidos de fazer qualquer acerto com a China. E na realidade você tem que estar fazendo aquilo que é melhor para o país, não por questão ideológica”
RDM: Com relação a investimentos em ferrovia, por exemplo, a Fiol, que foi anunciada lá pela Dilma Rousseff em 2013, só menos de 5% saiu do papel, ela teria um papel de atravessar e melhorar a logística de leste a oeste, como por exemplo interligar o corredor bioceânico que interligaria o litoral da Bahia, passando pelo Mato Grosso, até a saída no Oceano Pacífico no Peru e também para o Chile. Essa construção, o investimento chinês na ferrovia de integração oeste-leste, depende de uma adesão do Brasil na Rota da Seda ou não?
Dagoberto Nogueira: Eu acho que não. Primeiro que isso aí, eles também tinham interesse comercial nisso, porque eles vão ganhar dinheiro com isso na hora de colocar em funcionamento. O problema é que no governo anterior eles tinham muito medo dos Estados Unidos de fazer qualquer acerto com a China. E na realidade você tem que estar fazendo aquilo que é melhor para o país, não por questão ideológica, porque os Estados Unidos, nem eles, fazem isso. O comércio não é assim, no comércio nós temos que caminhar com quem dá um resultado melhor para o Brasil. Hoje, a China dá um resultado muito mais efetivo do que os Estados Unidos. Então, com a adesão ou não da Rota da Seda, a Fiol é que vai fazer o corredor bioceânico sair. É o que o governo Lula está estimulando para que eles também consigam fazer essas rotas que são de interesse deles também, não só essa, como outras muitas aqui no Brasil.
RDM: Que interessa ao Brasil, mas interessa a China?
Dagoberto Nogueira: Lógico, lógico, que eles também vão ganhar com isso.