ENTREVISTA DA SEMANA | CORONEL FERNANDA
“Está faltando segurança pública na rua. Está faltando efetivo”, aponta deputada
De acordo com a parlamentar mato-grossense, o “último levantamento” feito pela “bancada da segurança pública” – também conhecida como “bancada da bala”, o efetivo de policiais militares do Brasil inteiro “está aquém da realidade”. E a situação no estado de Mato Grosso “não é diferente”.
Por Humberto Azevedo
Em entrevista exclusiva para os veículos do Grupo RDM, a deputada Rúbia Fernanda Diniz Robson Santos de Siqueira (PL-MT) – mais conhecida como Coronel Fernanda – o principal problema de segurança pública no Brasil é a falta de efetivo policial para conseguir atender a todas as demandas de segurança pública nas ruas das cidades brasileiras.
“O papel de política é totalmente contrário daquilo que a gente imagina”
De acordo com a parlamentar mato-grossense, o “último levantamento” feito pela “bancada da segurança pública” – também conhecida como “bancada da bala”, o efetivo de policiais militares do Brasil inteiro “está aquém da realidade”. E, segundo ela, a situação no estado de Mato Grosso “não é diferente”.
“Acho que, se a população tivesse a oportunidade de estar vivendo dentro do sistema que a gente trabalha aí, eles iam ver quanto difícil é a atividade parlamentar ou até mesmo no executivo”
“Está faltando segurança pública na rua. Está faltando efetivo. O último levantamento que nós fizemos na bancada da segurança pública, o efetivo do Brasil inteiro está aquém da realidade. E aqui em Mato Grosso não é diferente. O efetivo atual, por exemplo, da Polícia Militar, já tenho cobrado isso do governador Mauro Mendes (União Brasil). Não é nem metade do efetivo previsto”, comenta.
ARMAS
Nascida em 1974, Coronel Fernanda questionada pela reportagem se o uso de armas de fogo, em via de regra – excetuadas as exceções, não deveria ser monopólio das forças de segurança, a deputada respondeu que as armas precisam estar nas mãos de “cidadãos de bem” para que vidas possam ser salvas.
“O que é bom nessa vida parlamentar é você ter a certeza do que você fez, do seu trabalho, ele se voltar de forma positiva para a sociedade”
Ela até argumentou afirmando que, se fosse o caso das forças de segurança terem o monopólio das armas, as forças policiais precisariam ter o monopólio dos carros, isso porque – segundo a parlamentar – carros também podem se transformar em armas e matar pessoas. Dependendo de quem faz uso seja das armas, ou dos carros.
“Fazer política é colocar, às vezes, aquela emenda num município, aquela emenda vai ajudar um número X de pessoas”
“Se ela for uma arma na mão de traficantes, faccionados, como está acontecendo hoje, quem vai sofrer é o cidadão. Você não vê bandido querendo entrar na casa de governadores. Você não vê bandido entrando na casa onde tem um grande número de seguranças. Por que o cidadão de bem, que está lá na rua e que não tem dinheiro para bancar sua segurança privada, tem que ser refém de marginais?”, perguntou a deputada ao responder a pergunta.
“Fazer política é você defender um projeto de lei ou fazer uma proposta de uma lei que vai ajudar tantas pessoas, que vai ajudar o seu país”
“Enquanto isso, as facções estão todos os dias cooptando os jovens para entrar para a criminalidade. Então, a questão da segurança pública está aquém. [E] o governo [federal] tem favorecido a criminalidade, não trazendo reconhecimento ao profissional de segurança, dificultando, em vez dele atribuir ações junto ao Judiciário para fortalecer a segurança pública. Eu estou vendo o governo usar o Judiciário para, cada vez mais, coibir a segurança pública de atuar”, complementou.
POLICIAIS DOENTES
Para a deputada Coronel Fernanda, o que é preciso é “recompor o efetivo” policial e oferecer aos policiais “uma ação de cuidado da saúde física e mental”. Ela aponta ainda que em virtude das condições ruins de trabalho dos profissionais de segurança pública está acontecendo um alarmante índice de suicídio de policiais.
“Esse ano de 2024, para mim, foi importante por eu ser a primeira mulher a estar à frente da coordenação da bancada federal de Mato Grosso, de lidar com parlamentares, viver com esta experiência”
“Nós estamos tendo um índice muito grande de suicídio de policiais. Estamos tendo um índice muito grande de policiais doentes. Não vai ser câmera [de segurança instalada bos uniformes] que vão evitar ilegalidades, não vai ser a câmera que vai fazer a diferença. O que vai fazer a diferença é o bom treinamento, é a valorização do profissional de segurança pública”, completou.
BIOGRAFIA
Formada oficial pela Academia de Polícia Militar Costa Verde de Mato Grosso, a hoje vice-líder do PL e coordenadora da bancada federal dos deputados e senadores do estado mato-grossense – cargo que assumiu neste ano de 2024, é ainda bacharel em Direito, que finalizou o curso apresentando o seu trabalho de conclusão de curso avaliando e investigando “a percepção das vítimas de violência doméstica no estado de Mato Grosso segundo a Lei Maria da Penha”.
“Eu tenho o respeito de todos os parlamentares, deputados federais e senadores de Mato Grosso. Eu me dou muito bem com todos eles. Respeito a posição ideológica de cada um, mas quando o objetivo maior é a gente providenciar ou realizar algo em benefício ao estado de Mato Grosso, nós somos muito unidos”
Além da carreira policial e da formação do curso de graduação em ciências jurídicas, Coronel Fernanda possui também outras cinco especializações em nível de pós-graduação. A deputada do PL de Mato Grosso é especialista em “ciências criminais com enfoque em direito penal e processo penal” pelo Instituto Cuiabá de Ensino e Cultura (ICEC), onde abordou a questão do “assédio moral, uma consequência social”. Especialista em “ciências criminais com enfoque em direito penal e processo penal com a análise sobre o”assédio moral, uma consequência social” pela Universidade de Cuiabá (UNIC).
“O parlamento está trabalhando para que as emendas, que já são previstas em lei, sejam atendidas, porque os recursos que nós temos como emendas são recursos que vão chegar lá na ponta, porque às vezes o poder público não consegue chegar naquele município, naquele distrito”
Além de especialista em “administração com ênfase em inteligência de segurança”, na abordagem de uma “análise crítica e reflexiva sobre as atividades de contrainteligência no combate à corrupção passiva no âmbito da Polícia Militar do estado de Mato Grosso” pela Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT); em “gestão em segurança pública” onde avaliou “a percepção das vítimas de violência doméstica com referência à atuação da Polícia Militar do estado de Mato Grosso no atendimento de ocorrência segundo a Lei Maria da Penha pela Universidade do estado de Mato Grosso (Unemat).
“E o parlamentar, como visita todas as regiões do estado, busca as demandas, eles conseguem entender que aquele recurso vai fazer algo diferente naquele município. Às vezes não é um volume tão grande, mas é um volume necessário para aquele projeto”
Por fim, se tornou especialista em “Direito: administração pública e controle externo”, onde desenvolveu a temática do “controle externo na Polícia Militar” pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) do Rio de Janeiro (RJ).
ÍNTEGRA DA ENTREVISTA
Abaixo segue a íntegra da entrevista concedida pela deputada Coronel Fernanda a reportagem do Grupo RDM. Boa leitura!
RDM: Boa tarde, deputada Coronel Fernanda, do PL de Mato Grosso, que é coordenadora da bancada federal dos deputados e dos senadores também de Mato Grosso. Deputada, é um prazer recebê-la aqui nesta entrevista, aqui para o Grupo RDM. Esse é o primeiro mandato da senhora como deputada federal, e que impressão ou impressões a senhora teve nesses dois primeiros anos, 2023 e 2024?
Coronel Fernanda: Primeiro, obrigada, a todos aí do Grupo RDM pela oportunidade. A impressão, primeiro, de cidadã, de uma simples eleitora para o papel de política, é totalmente contrário daquilo que a gente imagina. Acho que, se a população tivesse a oportunidade de estar vivendo dentro do sistema que a gente trabalha aí, eles iam ver quanto difícil é a atividade parlamentar ou até mesmo no executivo, não é? Você é abdicado da sua vida, é abdicado do convívio com a sua família, é você viver 24 horas em prol da sociedade. às vezes, as pessoas – hoje eu estava até conversando com a minha equipe – falam que a gente trabalha só dois dias aí em Brasília, mas eu vivo de domingo a domingo, porque o dia que eu não estou em Brasília, eu estou no meu estado, estou aqui no estado de Mato Grosso, exercendo várias funções, reuniões, visitando os municípios, fazendo defesas de alguns fatos que acontecem, as pessoas nos procuram, fazendo o planejamento da semana seguinte. Então, é totalmente contrário, não tem nada a ver com aquele meu pensamento inicial. É diferente, é uma outra realidade. Você não tem direito de férias, você não tem direito de estar com a sua família, é cansativo. O que é bom nessa vida parlamentar é você ter a certeza do que você fez, do seu trabalho, ele se voltar de forma positiva para a sociedade. É você colocar, às vezes, aquela emenda num município, aquela emenda vai ajudar um número X de pessoas. É você defender um projeto de lei ou fazer uma proposta de uma lei que vai ajudar tantas pessoas, que vai ajudar o seu país. É você perceber que você é inspiração para outras pessoas trabalharem a política ou mesmo começarem a trabalhar em prol da sociedade. Então, esses são os fatores positivos de você deixar na história do seu país um legado, uma ação de uma forma que seja positiva para a sociedade brasileira e, no caso, aqui para o Mato Grosso.
RDM: A senhora assumiu, em 2024, a coordenação da bancada federal de Mato Grosso. Ou seja, a senhora coordena os demais colegas, seus colegas deputados federais e deputadas, e também senadores, os três senadores do estado. Como foi esse trabalho? Como vem sendo esse trabalho? Qual é o balanço que a senhora faz nesse ano de 2024?
Coronel Fernanda: Esse ano de 2024, para mim, foi importante por eu ser a primeira mulher a estar à frente da coordenação da bancada federal de Mato Grosso, de lidar com parlamentares, viver com esta experiência. A primeira vez que estava no parlamento era eu e a Amália [Barros – falecida em 12 de maio após complicações decorrentes de uma cirurgia que retirou nódulos no pâncreas], em meio aos outros já tinham alguma função política. E você ter ali a responsabilidade de estar conduzindo parlamentares que já têm uma história política e você está ali ajudando para que o objetivo do grupo como um todo seja em benefício do estado. E, assim, para mim está sendo muito bom, porque eu tenho o respeito de todos os parlamentares, deputados federais e senadores de Mato Grosso. Eu me dou muito bem com todos eles. Respeito a posição ideológica de cada um, mas quando o objetivo maior é a gente providenciar ou realizar algo em benefício ao estado de Mato Grosso, nós somos muito unidos. E, para mim, está sendo um grande aprendizado. Primeiro é lutar contra o meu eu, em prol do grupo todo, porque eu tenho um posicionamento, tenho um jeito mais firme de ser e, às vezes, tenho que recuar para não prejudicar o trabalho do outro parlamentar. Então, é você saber construir em prol do bem maior. Então, para mim está sendo um aprendizado muito grande, só tenho que agradecer aos meus colegas parlamentares, porque é um trabalho de grupo.
RDM: O trabalho da coordenação de bancada tem temas específicos, mas, basicamente, é o orçamento, a questão orçamentária. E, neste final do ano passado, agora, em 2024, tivemos a questão de um pequeno atrito por conta das emendas em torno do Supremo. Foi feito um acordo entre o Poder Legislativo, o Poder Executivo, o Poder Judiciário – o Supremo Tribunal Federal – e algumas emendas, com relação as emendas de comissão, que foram proibidas, não foram proibidas, mas o então presidente da Câmara, o ainda presidente, deputado Arthur Lira (PP-AL), por conta da decisão de votar os ajustes, o pacote fiscal, nas últimas duas semanas, teria prejudicado o trabalho das emendas de comissão e teria se criado um dispositivo que foi apelidado de “emenda de líderes”. E isso foi barrado pela sentença do ministro Flávio Dino. Como que a senhora está vendo isso, como coordenadora da bancada de MT? E como que a bancada está vendo essa questão aí, essa discussão em torno das emendas?
Coronel Fernanda: Eu acho que não é nem como a bancada, é isso aí como o parlamento, está vendo isso aí, não é? O parlamento está trabalhando para que as emendas, que já são previstas em lei, sejam atendidas, porque os recursos que nós temos como emendas são recursos que vão chegar lá na ponta, porque às vezes o poder público não consegue chegar naquele município, naquele distrito, e o parlamentar, como visita todas as regiões do estado, busca as demandas, eles conseguem entender que aquele recurso vai fazer algo diferente naquele município. Às vezes não é um volume tão grande, mas é um volume necessário para aquele projeto. Nós temos visto isso aí como um viés do governo federal para não pagar nenhuma emenda. Nós tivemos aí um trabalho com as emendas individuais, que foram pagas até dezembro deste ano, era para ter sido pago em julho do ano passado, e foi pago em dezembro. Nós tivemos a questão das emendas de bancada, que ainda temos recursos da bancada que não foi paga, já estão empenhadas, nós estávamos com o problema da bancada de Mato Grosso, porque as indicações que nós fizemos tiveram algumas questões burocráticas junto ao governo do estado, e nós conseguimos agora, no final do ano, resolver essa questão burocrática. E eu acredito que até abril esse recurso deve entrar nos cofres do estado de Mato Grosso. Já as emendas de 24, as individuais e as de bancada, no caso, eu cuidei das de bancada especificamente, ela foi um trabalho muito árduo, porque mudaram-se as regras, por exemplo, nós tínhamos antes 15 opções para fazer investimentos no estado, passou-se para oito investimentos. Isso prejudica principalmente os pequenos municípios, porque, por exemplo, se você dividir aí R$ 540 milhões, se não me engano, por 11 parlamentares, como a gente faz para facilitar, vai dar aí R$ 50 milhões, R$ 48 milhões, mais ou menos. Desses R$ 48 milhões, quais cidades aqui podem receber esse valor? Nós somos 142 municípios. Se não me engano, nós não temos 20 municípios que têm mais de 100 mil habitantes. Então, isso impede da gente fazer esse investimento naquela cidadezinha pequena. Agora, tivemos que pegar esses R$ 48 milhões, 540 milhões no total, e dividir só em oito objetos. E quem vai ganhar as emendas de bancada a partir de agora? Só os municípios grandes, porque esse valor vai ser colocado diretamente naquele município. Ou a gente manda para o estado, ou a gente manda para o governo federal, e aí a gente sabe que desta forma não vai chegar no estado nem no município. E, agora, acabamos ficando com a opção da gente colocar só nos municípios grandes. Então, isso atrapalhou um pouco o trabalho que a bancada estava realizando nos pequenos municípios. Tentamos, de todas as formas, ampliar isso, criar políticas públicas para que a gente pudesse atender os pequenos municípios. Foi meio árduo, não é? Vamos ver nesse ano o resultado do nosso trabalho do ano passado, o pagamento dessas emendas, para ver se a gente consegue ajudar cada vez mais o estado de Mato Grosso.
RDM: Ainda com relação ao tema orçamento, a Constituição dá um rito de que a LDO deve ser aprovada no meio do ano, senão o Congresso não entra em recesso no meio do ano. O recesso hoje neste período já é diminuto, de 15 dias, praticamente. E no final do ano, se não aprovar a lei orçamentária, também não se entra em recesso. Só que, na prática, não funciona bem assim. Tanto é que a LDO só foi aprovada há duas semanas do final do ano nesta sessão legislativa de 2024. E o orçamento de 2025 ainda não foi votado. Vai ser votado a partir de fevereiro, já com uma nova Mesa Diretora, tanto da Câmara quanto do Senado. Provavelmente o deputado Hugo Motta (Republicanos-PB), presidindo a Câmara, e o senador Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), presidindo o Senado. Qual impressão da senhora sobre esse não cumprimento com os ritos constitucionais de aprovar a LDO lá no meio do ano e o orçamento no final do ano e jogar para depois. E agora, no caso, o orçamento do governo federal está funcionando com recursos do duodécimo (1/12 avos) do orçamento passado, enquanto não tem orçamento aprovado.
Coronel Fernanda: A questão da não aprovação se deu por erro do próprio governo. O governo não trabalhou junto com as casas legislativas, atrasou projetos, começando pelo pagamento das emendas, que ele não fez, foi fazer depois. Essa cortina de fumaça que o governo federal tem feito para prejudicar, principalmente, o povo brasileiro. Então, às vezes, o parlamento tem que usar de algumas artimanhas exatamente para brecar o governo que está, no caso, mas isso ocorre com qualquer outro governo em outros momentos, para que as coisas tenham voz. Porque, senão, só aprovar ou negar fica uma coisa de praxe. O governo sabe que nós vamos ter que fazer essa aprovação ou qualquer outro ato dentro do parlamento. Mas, se a gente não tiver esse jogo de cintura nesse embate com o governo, quem sai perdendo é o cidadão. Então, tem horas que nós vamos ter que usar algumas ações para que o povo brasileiro não seja tão prejudicado. Nós estamos aí, depois do recesso, vendo o governo promover algumas ações que estão prejudicando o povo de todas as formas. E nós não podemos permitir. Nós estamos com várias ações aí, pedindo a suspensão das ações do governo com alguns PDLs. E assim que a gente voltar agora, dia 3 de fevereiro, que vai ser o primeiro dia que nós vamos retornar lá para Brasília, para sustar ações que o governo federal tem feito nesse intervalo aí, que nós entendemos como absurdos, desrespeitosos e que vêm causar prejuízo, principalmente no bolso do povo brasileiro.
RDM: Que temas são esses? A senhora pode antecipar?
Coronel Fernanda: Essa questão da Receita Federal em relação ao PIX, a questão de suspender o benefício para dar uma indenização para as crianças que tiveram o problema com o zika vírus.Em vez de pagar a pensão que essas crianças recebiam, que são de direito delas, o governo vai dar uma ajuda e acabou. E não é assim. Os tratamentos dessas crianças são tratamentos ad eternum, precisam de um acompanhamento, de um apoio, entre tantas outras ações que o governo federal tem feito aí que a gente tem que pedir. A exemplo do Conanda [Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente] e outras mais aí. Nós precisamos estar mais atuantes agora no mês de fevereiro.
RDM: Agora duas perguntas em uma. Qual é o balanço que a senhora faz desse 2024, como um todo, e as perspectivas para 2005?
Coronel Fernanda: Para mim, como parlamentar, foi um ano de muito aprendizado como parlamentar, de muitos desafios, projetos de leis bem espinhosos. E eu acredito que 2025 vai ser um ano de muita luta, muitos temas espinhosos e principalmente em relação aos tributos. Nós estamos vendo aí que foi aprovado, eu votei contra a reforma tributária, não pela reforma. Eu entendo que tem que ter uma reforma, entendo que tem que ser simplificado, entendo e concordo com a facilitação para o cidadão, para o contribuinte pagar, mas não concordo com o aumento de imposto. Isso vai trazer um prejuízo para todos. E agora, nesse ano de 2025, o governo quer levar de novo o tema, simplificar na forma que ele usa, essa palavra-chave dele, simplificar todo o sistema, mas quem vai pagar o preço de tudo isso ainda é o contribuinte, que vai pagar ainda mais caro. E o brasileiro, nós não aguentamos mais pagar impostos. Hoje nós pagamos quase 40%. Se você for juntar, desde o Imposto de Renda para a Pessoa Física, e os outros que são embutidos nos produtos, o brasileiro só paga imposto.
RDM: A senhora é da área de segurança. E como a senhora avalia o atual quadro de segurança pública, tanto no estado de Mato Grosso como no Brasil? Essa liberação que acabou acontecendo nos últimos anos de armas, as armas não deveriam ser um monopólio das forças de segurança ao invés permitir que a sociedade civil tenha acesso deliberado às armas? Isso não pode acarretar problemas?
Coronel Fernanda: Vou fazer uma fala para você. Será que as forças de segurança também não tinham que ter o monopólio para a questão do motorista do carro? Porque o carro também é uma arma. Os carros também matam, como também salvam vidas. As armas matam, mas elas também salvam vidas. Depende da mão que essa arma vai estar. Se for na mão de uma pessoa de bem, ela vai salvar vidas. Mas se ela for uma arma na mão de traficantes, faccionados, como está acontecendo hoje, quem vai sofrer é o cidadão. Quando tivemos quatro anos do presidente Bolsonaro, nós não tínhamos esse número de ocorrências que estão acontecendo. Você não via falar das facções. Elas estavam recolhidas. Elas estavam a quem? Hoje, os faccionados estão aí, tomando conta. Havia problema da segurança pública lá atrás? Havia. Mas era mais controlada, porque o bandido sabia que se ele fizesse alguma coisa e fosse pego, ele ia ser responsabilizado. Hoje, cadê essa responsabilização? Você consegue se sentir seguro? Eu não consigo mais. A gente perdeu a sensação de segurança. Esse é um grande problema. Às vezes, você pode estar em um lugar que tenha lá um índice de insegurança, mas quando você se sente seguro, você consegue passar por aquela situação. E hoje não. Hoje, em qualquer lugar, você está inseguro. O Rio de Janeiro deixou de ser a cidade que, até esses dias, todo mundo tinha vontade de ir. Hoje, as pessoas estão mudando. Estão indo para Camboriú (SC), estão indo para São Paulo (SP), estão indo para outras regiões que antes não eram rotas de turismo. Porque o Rio de Janeiro, a cidade maravilhosa, hoje é uma cidade comandada por facções. E assim é em todas as cidades do país. Se não entrarem como ação mais enérgica, como a gente usa muito no quartel, fantasma abre para quem aparece. Você não vê bandido querendo entrar lá na casa do presidente da República. Por quê? Porque lá tem segurança para tudo que é canto. Tem homens armados, homens guardados fazendo monitoramento. Você não vê bandido querendo entrar na casa de governadores. Você não vê bandido entrando na casa onde tem um grande número de seguranças. Por que o cidadão de bem, que está lá na rua e que não tem dinheiro para bancar sua segurança privada, tem que ser refém de marginais? Está faltando segurança pública na rua. Está faltando efetivo. O último levantamento que nós fizemos na bancada da segurança pública, o efetivo do Brasil inteiro está aquém da realidade. E aqui em Mato Grosso não é diferente. O efetivo atual, por exemplo, da Polícia Militar, já tenho cobrado isso do governador Mauro Mendes. Não é nem metade do efetivo previsto. Não é nem metade. Enquanto isso, as facções estão todos os dias cooptando os jovens para entrar para a criminalidade. Então, a questão da segurança pública está aquém. O governo tem favorecido a criminalidade, não trazendo reconhecimento ao profissional de segurança, dificultando, em vez dele atribuir ações junto ao Judiciário para fortalecer a segurança pública, eu estou vendo ele usar o Judiciário para, cada vez mais, coibir a segurança pública de atuar. Existem excessos? Existem. Eu não posso negar isso. Mas não é a maioria, é uma minoria. E essa minoria, quando é detectada essa ação ilegal, é tomada providência. É tirada a maçã podre do meio do cesto. Porque no cesto, a maioria das maçãs são boas. A maioria dos policiais militares, os policiais civis, todos os agentes são bons. São pessoas comprometidas, pessoas que querem fazer o melhor pela sociedade, pessoas que amam a profissão, que estão lá por amor, pessoas que se dedicam. Então, elas precisam ser valorizadas e fortalecidas. O que nós estamos vendo hoje, nesse governo que está aí, é fortalecendo os bandidos e diminuindo a capacidade da segurança pública em relação aos seus agentes. E nós temos que, cada vez mais, entrar com ações positivas. Eu, no caso, junto à Câmara, os deputados estaduais, junto às assembleias legislativas, para que os profissionais de segurança pública sejam valorizados, sejam realmente tratados como merecem, dispondo de um número suficiente para atender a sociedade, número de equipamentos adequados e por aí vai.
RDM: Uma outra pergunta, que acabou gerando polêmica. O decreto do governo federal dos uniformes de alocação das câmeras de segurança. Como a senhora vê essa questão? Deve ter, não deve ter?
Coronel Fernanda: Eu não acho ruim ter isso. Mas eu acho que, nesse momento, não é necessário. Nós temos outras prioridades. Nós temos uma prioridade, como eu já falei, recompor efetivo, ter uma ação de cuidado da saúde física e mental dos servidores, dos policiais. Nós estamos tendo um índice muito grande de suicídio de policiais. Estamos tendo um índice muito grande de policiais doentes. Nós estamos tendo aí falta de condições de trabalho efetivo. Então, eu acho que o olhar tinha que ser para essa situação, porque se eu tenho um profissional treinado, não é treinado só na sua formação, o treinamento do policial, ela é contínua, isso não acontece na prática. A aula de tiro, treinamento com tiro, tem que ser mensal. E quando o policial tem, é uma vez a quatro, cinco, seis anos. É um absurdo isso. Aprendizagem técnica de abordagem. E está sempre evoluindo para atender melhor o cidadão. Se ele não tem um melhor atendimento dentro da sua própria unidade, como é que ele vai atender o cidadão lá fora, bem? Então, nós temos outras prioridades que precisamos valorizar o homem e a mulher que estão à frente da segurança pública. Enquanto isso não acontecer, não vai ser câmera que vai evitar abusos, não vai ser câmera que vai evitar ilegalidades, não vai ser câmera que vai fazer a diferença. O que vai fazer a diferença é o bom treinamento, é a valorização do profissional de segurança pública.
RDM: Ainda na área de segurança, já caminhando para o final da entrevista, deputada, como é que a senhora vê a questão, praticamente de uma jabuticaba, que é uma fruta que só dá aqui no Brasil, com relação às polícias? O Brasil é um dos poucos países, se não for o único, que tem polícia militar, polícia civil, polícia penal, polícia penitenciária, polícia rodoviária federal, polícia federal. Como a senhora vê isso? No horizonte, é possível ter uma polícia unificada, voltada mais ao cidadão, como, por exemplo, na Inglaterra? Como a senhora vê isso?
Coronel Fernanda: Acho que hoje não é mais possível. Em 2014, tentaram unificar as polícias, mas vou dar um exemplo para você, para você entender melhor. Tem coisas que fazem parte da nossa vivência, da nossa pele. A farda nos contempla de muitas coisas, de muitas sensações, de muitas emoções. Em 2014, tentaram unificar as polícias, e aí vem aquela máxima. Como é que você vai mudar um sistema se você não educou os profissionais antes para isso? Quem vai ser? A hierarquia é a base da polícia militar. Ela já não é tão a base da polícia civil. Os conceitos, os pilares são diferentes. O objetivo é próximo, mas não são iguais. Cada um tem sua função. Isso era para ter sido modificado há muitos anos atrás. Eu não consigo hoje vislumbrar essa unificação. Não consigo entender como é que isso pode acontecer. Nós estamos falando de instituições de décadas, de mais de 100 anos, centenárias, que já têm toda uma estrutura e não dá para ser mudada do dia para a noite. Eu entendo que, se ela fosse unificada, numa visão técnica, não é nem técnica assim, não sei te explicar muito bem, numa visão mais conceitual, poderia até dar certo. Mas, na prática, no nosso país, não. Nós já temos um rito bem feito. O que falta realmente é que nós tenhamos policiais que tenham treinamento e tenham reconhecimento do poder público.
RDM: Eu gostaria agora de deixar a palavra para a senhora para fazer as considerações finais. E, caso eu não tenha feito alguma pergunta e que a senhora queira destacar, pode ficar à vontade.
Coronel Fernanda: Só agradecer a oportunidade, e dizer que o nosso trabalho no parlamento tem trabalhado em inúmeras vertentes, em virtude da necessidade que nós estamos passando. E o nosso compromisso está em servir o povo brasileiro, em especial a população de Mato Grosso. E nós estamos abertos nas nossas redes sociais, nas nossas mídias sociais, @coronelfernandamt, para quem quiser nos ajudar no parlamento, dando sugestões, críticas, nos apontando situações que o nosso trabalho possa gerar frutos importantes para o povo brasileiro. Muito obrigada.