Entidades indígenas acusam “sofisticada estratégia do processo colonial moderno” após novo conflito de terras no MS
Comitiva do MST que foi ao acampamento indígena para promover solidariedade aos povos Guarani e Kaiowá, que reivindicam a posse da terra foram autuados pela Força Nacional como invasores na última semana.
Por Humberto Azevedo
Entidades indígenas como o Conselho Indigenista Missionário (Cimi) e a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB) acusam os proprietários rurais de terras em área reivindicada pelas tribos Guarani e Kaiowá de organizarem uma “sofisticada estratégia do processo colonial moderno”. A manifestação dos órgãos de defesa dos povos originários aconteceu após um novo conflito de terras ter ocorrido no estado de Mato Grosso do Sul (MS) na noite deste último sábado, 3 de agosto, e na madrugada deste domingo, 4 de agosto.
Uma comitiva do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) que foi aos acampamentos indígenas para promover solidariedade aos povos Guarani e Kaiowá, desde o último dia 29 de julho, foram autuados pela Força Nacional como invasores. A informação foi trazida pelo Cimi em publicação nas suas redes sociais. O acampamento do MST intitulado de “Esperança” publicou também em seus perfis nas plataforma digitais que as populações indígenas de Dourados (MS) estavam sendo vítimas de “massacres”.
“Retaliação e violência. Na madrugada deste domingo, o acampamento Esperança, do MST foi atacado e incendiado em Dourados, no Mato Grosso do Sul. Não houve feridos. Representantes do acampamento Esperança estiveram na última segunda-feira, 29, nas retomadas de Douradina, Terra Indígena Lagoa Panambi, para prestar solidariedade aos Guarani e Kaiowá. Naquele mesmo dia, o Departamento de Operações de Fronteira (DOF) abordou e qualificou todos os grupos que estavam na comitiva de solidariedade aos indígenas, mas apenas aos integrantes do MST os policiais disseram que seriam autuados por invasão de propriedade”, escreveu o perfil do Cimi em sua conta no Instagram.
“O ataque ao acampamento do MST, conforme lideranças ouvidas, só pode ser entendido como desdobramento do ataque sofrido pelas retomadas de Douradina na tarde deste sábado, 3, compondo a mesma estratégia do ruralismo no estado. Dez indígenas foram feridos e dois seguem em estado grave. A violência histórica deste país atravessa nossas realidades indígenas, e entendemos estar diante de sofisticada estratégia do processo colonial moderno. Por isso a APIB, organização que articula e representa os povos indígenas a nível nacional, formada pelas organizações indígenas de base das distintas regiões do país, convida para ato a ser realizado no dia 5 de agosto, às 18 horas, na Praça dos Três Poderes, em Brasília. O ato tem o intuito de reunir juristas e defensores dos direitos dos povos indígenas em prol do texto constitucional de 1988 – A constituição não se negocia”, complementou o perfil da APIB no Instagram.
“Massacre Guarani e Kaiowá agora. As retomadas de terras Guarani e Kaiowá, Kurupa Yty e Pikyxyin estão sendo violentamente atacadas por ruralistas e capangas neste exato momento. Há vários feridos a bala de borracha e armas letais no local, também há grande concentração de camionetes em torno da comunidade Yvy Ajere. A Força Nacional simplesmente se retirou do local e deixou as comunidades desprotegidas ao ataque das milícias rurais. Estão atirando no pescoço e no coração das pessoas. Tem muitas crianças e idosos no local e até o momento recebemos informações de que há pelo menos dez graves feridos. A comunidade pede socorro, eles estão totalmente abandonados”, completou o perfil do MST nas redes sociais.