Em 2026, Lula, que não governa, poderá enfrentar Tarcísio, que governa
Márcio Sabino/Metrópoles
Estamos a pouco mais de dois anos das eleições de 2026, mas todos só pensam nelas — os políticos, quero dizer. Este é um dos benefícios trazidos pelo instituto da reeleição: só se dá bola para o presente quando ele pode representar um ganho ou uma perda no futuro.
O quadro que se esboça neste momento é que Lula, se resistir a si próprio em mais de um sentido, poderá enfrentar Tarcísio de Freitas, em segundo turno.
De acordo com as pesquisas que vêm sendo divulgadas, o presidente da República está com a popularidade em baixa no país, enquanto Tarcísio de Freitas está muito bem na fita entre os eleitores paulistas — o mesmo ocorre com outros governadores do espectro bolsonarista nos seus respectivos estados.
Explica-se se: Lula não governa, brinca de Lego e só faz discurso de palanque, enquanto Tarcísio de Freitas governa, aproveitando os palanques que o seu padrinho, Jair Bolsonaro, proporciona, como o de amanhã, no Rio de Janeiro, da manifestação contra a censura.
Governar ainda faz diferença, mesmo quando erros são cometidos. É melhor pecar por incompetência do que por negligência: por mais distante que esteja do jogo da política, o eleitor sabe quando há alguém na direção ou não.
No caso de Tarcísio de Freitas, ele enfrenta os problemas causados pelos maus contratos firmados em gestões passadas com as concessionárias de serviços públicos, enquanto leva adiante a privatização da Sabesp, em um modelo que, espera-se, deve garantir em relativamente pouco tempo a universalização de água e esgoto tratados em São Paulo.
Na segurança pública, faz o que se espera de um bolsonarista. A violência da polícia paulista dá a falsa sensação de segurança, enquanto escamoteia a sua ineficiência e corrupção. Mas o enfrentamento à infiltração do PCC no setor do transporte coletivo, em parceria com o Ministério Público estadual, é uma boa notícia, desde que seja levado às últimas consequências.
Tarcísio de Freitas vem errando consistentemente na educação, feudo da esquerda desde sempre, e a precariedade na saúde é doença crônica não apenas em São Paulo. Se houver qualquer boa notícia — real — nas duas áreas, ele poderá trombeteá-la; se não houver, que o desastre cotidiano não seja aumentado, tal é o cálculo.
Ao fim e ao cabo, Jair Bolsonaro, sem partido próprio, morando de aluguel em uma legenda mais do que suspeita, com um base fragmentada em várias agremiações, inelegível, ameaçado de ir para a cadeia pelo seu passado de delinquências e cretinices, conseguiu gerar, ainda que a contragosto, herdeiros do seu espólio político mais palatáveis do que ele próprio e com ar de relativa novidade.
Lula, por sua vez, sempre se comportou como a árvore que, frondosa demais, não deixa que outras cresçam ao seu redor. Se ele próprio ou Fernando Haddad, o poste, forem candidatos em 2026, será sempre mais do mesmo. E esse mesmo não agrada mais como agradava, até onde se pode enxergar.