Distrito Federal tem o maior Índice de Desenvolvimento Humano Municipal do Brasil
Indicador estima estágio de desenvolvimento das populações, com base na longevidade, educação e renda, e varia de zero a um. DF tem IDHM de 0,814
O Distrito Federal é a unidade da federação com o maior Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM): 0,814, segundo relatório apresentado nesta terça-feira (28) pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento Humano (Pnud).
O indicador varia de zero a um. Quanto mais próximo de um, maior o nível de desenvolvimento humano.
O IDHM estima o estágio de desenvolvimento das populações com base no acesso ao conhecimento, a uma vida longa e saudável e a um padrão de vida decente. De acordo com a coordenadora da unidade de desenvolvimento humano do PNUD Brasil, Betina Ferraz Barbosa, o IDHM do DF é o maior do país por conta da renda per capita (entenda mais abaixo).
“O que puxa o IDHM do DF pra cima é, sobretudo, a dimensão renda, e ela se dá pela renda per capita no DF advinda do setor público. Não é por causa de atividades econômicas robustas, mas o ponto é a circulação da renda per capita muito alta advinda do setor público que é na maioria federal”, diz Betina.
No entanto, mesmo ocupando o primeiro lugar, o IDHM do DF apresenta uma das maiores reduções de 2019 a 2021, com uma perda de 5,2%. Veja abaixo:
- 2012: 0,825
- 2019: 0,859
- 2020: 0,829
- 2021: 0,814
“O que o DF conquistou de 2012 a 2019, ele perdeu. E ainda tem um retração, ele ganha 4,1% e perde 5,2%. Ou seja, o DF volta a um nível de desenvolvimento humano anterior a 2012. Mas, comparativamente aos demais estados, continua sendo o de IDHM maior”, diz a coordenadora da unidade de desenvolvimento humano do PNUD Brasil.
Apesar dessa queda, o DF ocupa a posição de desenvolvimento humano muito alto, veja as três regiões mais bem colocadas:
- Distrito Federal: IDHM 0,814
- São Paulo: IDHM 0,806
- Santa Catarina: IDHM d0,792.
Longevidade, educação e renda
O IDHM é um indicador dividido em três vertentes:
- Longevidade
- Educação
- Renda
O DF ocupa o primeiro lugar no país no indicador de renda, com 0,821. Já em relação à longevidade, está em sexto lugar com 0,803.
Quando o assunto é educação, o DF fica atrás apenas de São Paulo (0,839), com o IDHM educação de 0,817.
O DF, de acordo com a pesquisa, tem o IDHM muito alto para mulheres, mas para negros (pretos e pardos) não tanto.
Em relação à cor da pele, o IDHM para negros (0,637) é menor do que para brancos (0,814) no DF, segundo a coordenadora da unidade de desenvolvimento humano do PNUD Brasil, Betina Ferraz Barbosa.
“Tem uma desigualdade muito grande entre negros e brancos no DF. É preciso aproximar essas desigualdades. No caso do Brasil, para acabar com a diferença entre IDHM entre brancos e negros seriam necessários nove mandatos presidenciais ou 35 anos para que o IDHM dos negros chegasse ao dos brancos (se o dos brancos se mantivesse na mesma posição)”, diz Betina Ferraz Barbosa.
Já o índice para mulheres no DF é maior do que para homens (veja gráfico abaixo).
Desigualdade na pele
Cleonice Bispo, 45 anos — Foto: Josualdo Moura/TV Globo
Mulher negra, Cleonice Bispo Feitosa, 45 anos, é moradora do Setor de Chácara Santa Luzia – uma das regiões mais pobres do Distrito Federal. Mãe de 8 filhos, ela é dona de casa e não completou o ensino fundamental. Cleonice abandonou os estudos para cuidar dos pais e depois dos filhos.
Em entrevista à TV Globo, Cleonice disse que nunca esteve no mercado formal de trabalho. “Não, carteira assinada não! Sempre trabalhei fazendo faxina, em casa de família pra ajudar dentro de casa”, contou.
“Eu nasci negra né? Se eu vou em uma entrevista de emprego, tem cinco pessoas brancas, eu não sou selecionada. […] Eu acho que nenhum ser humano é melhor que o outro. Somos todos iguais. Eu tenho orgulho de ser negra.”
Cleonice Bispo, 45 anos — Foto: Josualdo Moura/TV Globo
Cleonice, como 20,8 milhões de famílias brasileiras, vive com o auxílio do Bolsa Família, mas a geladeira está sempre vazia.
“Estamos todo mundo desempregado. A gente vive de doação, quando acha uma diária, uma faxina a gente vai.”
Ajustado às desigualdades
Quando o IDHM é ajustado às desigualdades e se transforma no IDHMAD, o Brasil figura entre os países de baixo desenvolvimento humano. No DF, que tem alto IDHM, o IDHMAD cai para 0,673.
“O ponto é que, as alterações climáticas, a desigualdade de gênero e raça, assim como os conflitos violentos e desequilíbrios de poder continuam a promover e a enraizar desigualdades, tanto as estabelecidas quanto as novas”, aponta o relatório.
O DF caiu três posições no IDHMAD se comparado ao IDHM, ocupando o quarto lugar. Ou seja, o Distrito Federal sofreu impactos mais fortes quando teve seu IDHM ajustado à desigualdade, de acordo com o relatório.
Impacto da Covid-19
De acordo com o relatório, a pandemia derrubou o IDHM em todos os estados brasileiros. Dentre as dez maiores taxas de mortalidade pela Covid-19 (por 100 mil habitantes), em 2021, quatro seriam de estados brasileiros – Rio de Janeiro (402,4), Mato Grosso (396), Rondônia (378,9) e Distrito Federal (368,4), (veja na tabela abaixo).
Estados brasileiros e países selecionados segundo a taxa de mortalidade pela Covid-19, em 2021
País/estado brasileiro | Taxa de mortalidade |
Peru | 614,4 |
Bulgária | 444.4 |
Bósnia e Herzegovina | 409,3 |
Rio de Janeiro | 402,4 |
Hungria | 401,1 |
Mato Grosso | 396 |
Macedônia do Norte | 382,4 |
Montenegro | 382,3 |
Rondônia | 378,9 |
Distrito Federal | 368.4 |
Ou seja, mesmo com o maior IDHM, o DF ficou em 10° lugar comparado a outros países e estados brasileiros. O relatório aponta que nenhum estado brasileiro foi pouco impactado pela pandemia.