Cresce apoio popular à PEC que quer acabar com a jornada 6×1
Nos últimos dias, cresceu o apoio popular à PEC (Proposta de Emenda à Constituição) que quer acabar com a jornada 6×1, o que coloca os parlamentares que ainda não se assumiram favoráveis à proposta em uma tremenda saia-justa.
O texto foi apresentado pela deputada Erika Hilton (PSOL-SP), e formulado pelo movimento social Vida Além do Trabalho (VAT), liderado pelo vereador carioca Rick Azevedo (PSOL).
O objetivo da proposta, que está em fase de coleta de assinaturas e precisa do aval de 171 deputados (um terço do total), é acabar com a jornada 6×1 em que o funcionário trabalha durante seis dias na semana e folga apenas um.
A configuração é muito comum em setores como o comércio e a indústria, mas é considerada exaustiva e abusiva por apoiadores do projeto.
Há ainda um abaixo-assinado on-line com mais de 1,3 milhão de assinaturas. O assunto tornou-se um dos mais comentados nas redes sociais nos últimos dias.
A proposta visa a alterar trecho da Constituição que limita a carga de trabalho a oito horas diárias e 44 horas semanais para incluir outras possibilidades de distribuição do expediente, como a escala 4×3, defendida pelo VAT. O texto deve mudar a CLT (Consolidação das Leis do Trabalho), que estabelece um dia como o período mínimo de descanso para o trabalhador.
A medida enfrenta resistência na Câmara. Erika Hilton está coletando assinaturas há seis meses. Porém, a parlamentar reconhece que algumas propostas podem levar anos para alcançar o apoio necessário e iniciar a tramitação. O texto é criticado, principalmente, por partidos de direita, mas não teve apoio esperado da esquerda.
Início do movimento pelo fim da jornada 6×1
O influenciador digital Rick Azevedo, de 30 anos, foi o vereador eleito pelo PSOL do Rio de Janeiro com menos investimentos e mais votos (29.364) do partido. Rick é fundador do movimento Vida Além do Trabalho. É ele o autor da petição pública que obteve mais de 1,3 milhão de assinaturas.
Com a eleição de um representante, o movimento, que pretende se manter independente, espera ampliar o debate sobre o assunto.
“Queremos criar um espaço permanente na Câmara para discutir as condições de trabalho e garantir que as pautas do VAT não sejam apenas momentâneas, mas parte de um projeto duradouro de respeito e valorização do trabalhador… meu papel agora é transformar essa luta em políticas concretas”, diz Rick Azevedo.
O movimento surgiu a partir da indignação do vereador eleito com a jornada de trabalho que levava em seu trabalho como balconista de farmácia. A partir disso, ele começou a fazer vídeos para redes sociais com desabafos que viralizaram.
A partir da repercussão, ele reuniu diversos trabalhadores de todo o país, organizados em grupos de Whatsapp e Telegram por estado. “O movimento representa todos aqueles que não aceitam mais viver para o trabalho, que desejam dignidade, descanso e uma vida além da rotina de exploração”, explica.
Nos grupos de aplicativos de mensagem são discutidos estratégias para a luta pelo fim da escala 6×1.
“Operamos com recursos limitados, contando com a dedicação de voluntários que, mesmo após jornadas exaustivas, se empenham em organizar ações e fortalecer nossa rede de apoio”, diz Rick Azevedo.
O Brasil foi o segundo país com mais casos de burnout (doença ocupacional decorrente do esgotamento físico, emocional e mental), segundo a pesquisa da International Stress Management Association (Isma-BR), realizada em 2021. Cerca de 30% dos trabalhadores no pais sofrem com a síndrome.