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China investiga importações de carne bovina e Brasil diz não causar “qualquer tipo de prejuízo à indústria chinesa”

A importação de carnes brasileiras, segundo o governo, é um “importante fator de complementaridade da produção local chinesa”

 

Da Reuters

 

A China iniciará uma investigação sobre as importações de carne bovina, informou o Ministério do Comércio nesta sexta-feira, uma vez que o maior importador e consumidor de carne do mundo está enfrentando um mercado com excesso de oferta que levou os preços domésticos a mínimas de vários anos.

Qualquer medida comercial para tentar reduzir as importações de carne bovina atingiria os maiores fornecedores da China, como Brasil, Argentina e Austrália.

As importações totais de carne bovina da China atingiram 14,2 bilhões de dólares em 2023, um aumento em relação aos 8,2 bilhões de dólares de 2019, segundo dados alfandegários. O Brasil foi responsável por 42% do valor total do comércio, seguido pela Argentina, com 15%, e pela Austrália, com 12%.

De janeiro a novembro de 2024, o Brasil exportou 1,21 milhão de toneladas de carne bovina para a China, com alta de 11% na comparação anual, segundo dados divulgados no início do mês pela Associação Brasileira de Frigoríficos (Abrafrigo). O país asiático respondeu por pouco mais de 40% das exportações brasileiras do produto.

Em nota, o governo brasileiro afirmou que buscará, em conjunto com o setor exportador, “demonstrar que a carne bovina brasileira exportada à China não causa qualquer tipo de prejuízo à indústria chinesa, sendo, pelo contrário, importante fator de complementaridade da produção local chinesa”.

A Abiec, que representa companhias como JBS, Marfrig e Minerva, destacou em comunicado nesta sexta-feira que a carne brasileira tem sido fundamental para complementar a produção local chinesa, hoje estimada em 12 milhões de toneladas.

“A Abiec reforça seu compromisso em apoiar o diálogo construtivo e fortalecer os laços de confiança com a China, contribuindo para soluções que atendam aos interesses de ambas as nações”, disse a entidade.

Sobre a investigação aberta nesta sexta-feira, o governo brasileiro ressaltou que “não há, em princípio, a adoção de qualquer medida preliminar, permanecendo vigente a tarifa de 12% “ad valorem” que a China aplica sobre as importações de carne bovina.

A Abiec reconheceu ainda em nota o “papel estratégico da China” para a indústria brasileira e frisou que também pode cooperar no processo.

“Como grandes parceiros comerciais, estamos comprometidos em cooperar com as autoridades chinesas e brasileiras, colocando-nos à disposição para fornecer quaisquer esclarecimentos e participar ativamente do processo de investigação, sob a liderança do governo brasileiro…”, disse a Abiec.

A exportação de carne bovina do Brasil está em patamares recordes neste ano, com os embarques totais caminhando para superar 3 milhões de toneladas, segundo dados oficiais citados pela Abrafrigo, que apontou aumento de mais de 30% de janeiro a novembro.

As receitas geradas com os embarques brasileiros para todos os destinos já superaram 12 bilhões de dólares, alta de mais de 23%, enquanto a China importou equivalente a mais de 5,4 bilhões de dólares no ano até novembro (+3,4%).

A investigação chinesa vai se concentrar em importações entre 1º de janeiro de 2019 e 30 de junho de 2024, disse o ministério em um comunicado, acrescentando que isso foi feito após uma solicitação da Associação de Criação de Animais da China e outros grupos de gado e pecuária.

Os solicitantes disseram que um aumento acentuado nos volumes de importação durante o período havia “prejudicado seriamente” a indústria doméstica da China, disse o ministério.

As importações de carne bovina em 2023 pela China foram quase 65% maiores do que em 2019, segundo o ministério, e as importações no primeiro semestre de 2024 foram mais do que o dobro das do primeiro semestre de 2019.

O ministério da China afirmou que as importações dos produtos sob investigação representaram 30,9% do mercado chinês.

Os preços das carnes na China, incluindo carne suína, bovina e de aves, caíram à medida que os consumidores, lutando contra uma economia em desaceleração, compram menos.

“A maioria das fazendas de gado de corte na China está em situação de prejuízo”, disse a Associação de Criação de Animais da China em um relatório da mídia estatal.

O preço da carne bovina caiu para o nível mais baixo dos últimos cinco anos, e o preço do gado vivo caiu para o nível mais baixo dos últimos 10 anos, disse a associação.

Os preços médios da carne bovina no atacado caíram 22%, para 59,82 iuanes (8,20 dólares) o quilo no final de dezembro, de 77,18 iuanes há dois anos, segundo dados do Ministério da Agricultura.

Otimização do rebanho – Em junho, Pequim procurou conter os preços pedindo aos fazendeiros que limitassem e otimizassem o tamanho de seus rebanhos de gado bovino, mas os preços continuam em declínio em meio a um aumento nas importações, principalmente da Argentina.

As importações de carne bovina do produtor sul-americano durante os primeiros 11 meses de 2024 aumentaram 10% em relação ao mesmo período de 2023, para 533.005 toneladas métricas.

“O setor reflete que as importações excessivas de carne bovina causaram danos substanciais à indústria de gado de corte do meu país”, disse a China Animal Husbandry Association no relatório.

“O setor pede veementemente que o país tome medidas de controle sobre a carne bovina importada para proteger os meios de subsistência dos fazendeiros e a segurança do setor”, afirmou.

A China importou 2,6 milhões de toneladas dos produtos de carne bovina entre janeiro e novembro. No ano civil de 2019, a China importou apenas 1,66 milhão de toneladas.

Espera-se que a investigação seja concluída em oito meses, embora possa ser prorrogada em circunstâncias especiais. Ela não é direcionada a países ou regiões específicos, não distingue a origem dos produtos e não afetará o comércio normal enquanto estiver em andamento, disse o Ministério do Comércio.

A China também está considerando restrições comerciais às importações de produtos lácteos e suínos da União Europeia, embora, nesses casos, a investigação antidumping e antissubsídios seja uma resposta contra o plano tarifário do bloco para veículos elétricos fabricados na China, segundo analistas.

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