Após ida de Flávio Dino para o STF, Carlos Brandão assume a hegemonia da política maranhense
Ex-vice-governador maranhense na gestão do atual ministro da Suprema Corte e ex-ministro da Justiça no primeiro ano da atual gestão do presidente Lula, o ex-tucano e, agora, filiado ao PSB, conseguiu ainda diminuir a influência do deputado Jerry e de seu vice, Felipe Camarão, pelo controle do grupo político que era atrelado a Flávio Dino.
Por Humberto Azevedo
Após ida de Flávio Dino para o Supremo Tribunal Federal (STF) em fevereiro deste ano, o atual governador do Maranhão, Carlos Brandão (PSB), consolidou já no primeiro turno das eleições municipais realizada no último dia 6 de outubro, a hegemonia sobre o espólio político herdado pelo ex-governador maranhense e também ex-ministro da Justiça e da Segurança Pública no primeiro ano da atual gestão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
O ex-vice-governador maranhense na gestão de Dino, o ex-tucano e, agora, socialista, conseguiu ainda diminuir a influência do deputado federal Márcio Jerry (PCdoB-MA) e também do seu vice, Felipe Camarão (PT), pelo controle do grupo político que era atrelado ao ex-governador que comandou o Maranhão com efetivo sucesso entre os anos de 2015 a 2022.
De acordo com uma fonte que tem acesso as rodas do poder do Palácio dos Leões – sede do governo estadual – e também aos bastidores da Assembleia Legislativa, Brandão sai como o “grande vencedor” das eleições de 2024, se destacando como a principal liderança política do estado com apoio de diversas correntes e vertentes políticas e partidárias. A vitória eleitoral obtida pelas candidaturas que estavam atreladas ao governador reforça esta tese.
Das 217 cidades maranhenses, os candidatos aliados de Carlos Brandão venceram em 157 municípios, representando 72% das prefeituras do estado. Das 20 maiores cidades, 16 elegeram prefeitos alinhados à sua base política, incluindo a capital São Luís, onde 74% dos vereadores eleitos estão em sintonia com o governador.
ESTRATÉGIA
Buscando assumir a hegemonia política maranhense, Brandão se diferenciou do seu antecessor e até então aliado, Flávio Dino, ao adotar uma “estratégia mais ampla”, articulando alianças tanto com partidos de tendência ideológicas mais à esquerda, como mais à direita, incluindo até a aproximação com legendas mais conservadoras, como os Progressistas (PP) e o Partido Liberal (PL) do ex-presidente Jair Messias Bolsonaro.
Esse movimento, segundo uma outra fonte que vive a política maranhense e que foi ouvida pela reportagem em condição de anonimato, “reflete a mudança de abordagem em comparação com Dino, que manteve um foco sempre mais restrito à esquerda”. Segundo esta fonte, “a expansão dessas alianças garantiu a Brandão uma base mais sólida e abrangente para governar o estado”.
COLINAS
O caso de Colinas, cidade natal de Carlos Brandão, é emblemático. Lá, o grupo político do deputado federal Márcio Jerry, que reivindica ser o “verdadeiro” herdeiro do capital político de Flávio Dino, sofreu derrotas importantes. Tanto a do seu irmão que foi lançado como candidato a prefeito, como a da sua irmã, vereadora por vários mandatos, que não obteve sucesso em se reeleger.
“Esse revés sinaliza uma mudança no cenário político local, enfraquecendo um dos principais opositores internos de Brandão. A derrota do grupo de Jerry reflete não apenas uma diminuição de sua influência, mas também as tensões dentro da própria base de Brandão, onde o vice-governador, que se aproxima de Jerry, tentou se distanciar do governador. No entanto, o resultado das eleições mostra que essa linha de oposição interna não foi suficiente para competir com a força política consolidada de Brandão”, avalia uma terceira fonte ouvida pela reportagem.
IMPERATRIZ
Na segunda maior cidade do estado, Imperatriz, distante 632 quilômetros da capital São Luís, e que foi para o segundo turno que será realizado no próximo domingo, 27 de outubro, Brandão apoia a candidatura de Rildo Amaral (PP), que enfrenta a candidata bolsonarista da cidade, Mariana Carvalho (Republicanos), que conta com o apoio do ex-presidente Jair Bolsonaro e da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro, presidente do “PL Mulher”.
O candidato apoiado pelo governador, na capital do agronegócio maranhense, obteve uma vitória significativa já no primeiro turno. O resultado foi visto como uma articulação “meticulosa” de Brandão, que decidiu apoiar um candidato de um partido diferente, demonstrando sua capacidade em formar alianças estratégicas e arregimentar aliados, até em locais onde o grupo político de Flávio Dino tinha certa dificuldade em garantir a vitória de seus aliados.
A presença do ex-presidente e da sua esposa em Imperatriz reforça o embate entre o grupo político de Brandão com o bolsonarismo no estado. O resultado dessa eleição será determinante para consolidar a liderança de Brandão na região sul do Maranhão, antes da eleição de Flávio Dino lutava pela emancipação da região com a tentativa de se criar o estado do Maranhão do Sul.
PROJEÇÕES 2026
Com os resultados das eleições de 2024, Carlos Brandão já se posiciona como candidato natural e favorito para ocupar um assento no Senado Federal – visto que já foi reeleito em 2022. Para a sua sucessão, Carlos Brandão avalia permanecer no governo até o final como forma de preparar sua base para eleger um sucessor ou sucessora. Visto e graças a sua proximidade com o presidente Lula, o hoje governador poderia ser um dos nomes cotados a assumir uma pasta na Esplanada dos Ministérios – caso o petista seja reeleito em 2026.
Independente da sua escolha em se candidatar ao Senado ou permanecer no governo até o final, o político do PSB pode ser considerado um dos grandes vitoriosos das urnas em 2024, saindo das eleições municipais com um “capital político” ampliado e consolidado uma base de apoio que vai além da esquerda tradicional e do campo progressista.
APOIADORES
Na última segunda-feira, 21 de outubro, o governador esteve reunido com oito presidentes de diretórios municipais do PSB, ao qual preside no âmbito estadual, e um representante de cada um dos dez partidos que integram a sua base política ou que houve a aproximação nestas últimas eleições, no Palácio dos Leões.
Nesta reunião, estavam presentes Fábio Macedo, presidente estadual do Podemos; Marcus Brandão, presidente estadual do MDB; André Fufuca, presidente estadual do PP; Pedro Lucas, presidente do União Brasil; Francimar Melo, presidente estadual do PT; Adriano Sarney, presidente estadual do PV; Eliel Gama, presidente estadual do Cidadania; e Pedro Chagas, representando a direção estadual do PSDB.