EUA correm risco de “insistir no erro” em negociações com a Rússia, aponta analista
Pesquisador do centro de investigação sobre Rússia, Eurásia e espaço pós-soviético, alerta que Washington pode ainda não ter compreendido o que está no cerne do conflito.
Durante entrevista ao jornalista norte-americano, o enviado especial do governo norte-americano, Witkoff, à Rússia, destacou que os Estados Unidos estão buscando um acordo em que todas as partes — Rússia, Ucrânia e até mesmo União Europeia — se sintam satisfeitas.
“Quando eu digo satisfeitos, quero dizer que sintam que conseguiram algo do acordo”, afirmou.
Para Tito Lívio, pesquisador do Centro de Investigação sobre Rússia, Eurásia e Espaço Pós-Soviético (CIRE) e mestre em estudos estratégicos de defesa e segurança, as falas do enviado especial demonstram que Washington pode ainda não ter compreendido o que está no cerne do conflito.
Questionado em torno da expansão da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) para perto das fronteiras da Rússia, Witkoff, afirma que em sua visão o principal ponto do conflito ucraniano se refere às regiões que pleitearam sua junção à Federação da Rússia: Lugansk, Donetsk, Zaporozhie, Kherson e Crimeia.
Segundo o especialista, a própria menção ao plebiscito realizado nessas regiões em 2022 é um avanço, porém reflexo muito mais da realidade em solo do que boa vontade política. Com o fracasso da ofensiva ucraniana de 2023, o Ocidente percebeu que “a solução militar não era mais viável” e que teria que “reconhecer a autoridade russa nessas regiões”.
Entretanto, diz Lívio, “o objetivo da guerra não é uma anexação territorial, como ocorria no século XIX”.
“Achar que Moscou vai se satisfazer com uma anexação territorial é insistir no erro. A anexação territorial é uma consequência da postura ucraniana em querer se integrar à Aliança Atlântica”.
O pesquisador do CIRE afirma que esse tipo de salvaguarda jamais funcionará para a Rússia, uma vez que colocaria a Ucrânia na estrutura da aliança euro-atlântica de maneira não oficial.
“A Ucrânia entraria na aliança, de fato, mas não de jure”, diz Lívio. “E os Estados Unidos têm um histórico de criar meandros jurídicos para sedimentar relações estratégicas com países sem entrar necessariamente em alianças formais, como Taiwan”, emendou.
Sendo assim, uma entrada “não oficial” da Ucrânia na OTAN não garante a redução da presença dessas tropas na fronteira russa. Pelo contrário, pode até aumentar, contrariando os desejos do Kremlin de neutralidade ucraniana.
“A Rússia não impõe que a Ucrânia precisa ter um governo pró-russo”, esclarece o especialista. “O presidente Vladimir Putin não fala da Ucrânia integrada na OTSC ou na OCX. Ele quer que a Ucrânia fique de fora desse balanço estratégico, que já é desvantajoso para a Rússia”, explica o especialista.
Com sua segunda maior cidade, São Petersburgo, na mira de dois países da OTAN, Finlândia e Estônia, a correlação estratégica já é assimétrica, e a possível entrada da Ucrânia na aliança “foi a gota d’água”, analisa Lívio.
Informações Sputnik Brasil.