• Home
  • Região Norte
  • Para atender demanda da COP30 que acontecerá em novembro, Belém precisa mais que dobrar número de leitos de hotel
Cidade de Belém do Pará se tornou um canteiro de obras para receber e acomodar os turistas e participantes da primeira Conferência sobre Mudanças Climáticas, que acontecerá na região amazônica. (Foto: Fernando Frazão / Agência Brasil)

Para atender demanda da COP30 que acontecerá em novembro, Belém precisa mais que dobrar número de leitos de hotel

Rede hoteleira da capital paraense espera passar de 18 mil para 50 mil vagas o número de acomodações aptas a receber turistas na cidade.

 

Por Humberto Azevedo

 

Belém do Pará se prepara para receber a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP30), que acontecerá entre os dias 10 a 21 de novembro de 2025 e para atender a demanda do evento, a capital paraense precisa mais que dobrar número de leitos de hotel.

 

A conferência é importante encontro internacional para tratar de meio ambiente e de decisões que contribuam para frear o aquecimento global, causador das mudanças climáticas e desastres ambientais. Para alcançar esta meta, a rede hoteleira da capital paraense espera passar de 18 mil para 50 mil vagas o número de acomodações aptas a receber turistas na cidade.

 

Construído com traços dos estilos art nouveau e neoclássico, o Mercado de São Brás foi reinaugurado em Belém, no Pará. A construção histórica abriga mais de 300 feiras e lojas que vendem alimentos, ervas, artesanato e vestuário. A restauração do local é a primeira de uma série de intervenções que estão sendo concluídas na cidade nos próximos meses. Por toda a cidade são vistos canteiros de obra, tapumes, intervenções no trânsito e placas com a inscrição “Capital da COP30”.

 

“São mais de 30 obras estruturantes que estão sendo feitas em Belém, realizadas pelo governo federal junto com a prefeitura e o governo do estado do Pará. Os investimentos têm um motivo e um significado. Estamos dotando de infraestrutura uma cidade maravilhosa que vai ter um grande legado”, informou o secretário extraordinário da COP30, Valter Correia.

 

A secretaria extraordinária para a COP-30 é vinculada à Casa Civil da Presidência da República e foi criada pelo governo federal em março de 2024 com objetivo de coordenar a preparação da Amazônia para receber a COP30.

 

EXPANSÃO HOTELEIRA

 

Para fazer frente à magnitude da conferência, que deve receber mais de 60 mil pessoas, entre chefes de Estado, diplomatas, empresários, investidores, ativistas, jornalistas e delegações dos 193 países membros, um setor precisa enfrentar o desafio de mais que dobrar de tamanho: a hotelaria.

 

“A hotelaria de Belém está a pleno vapor. Todos os hotéis estão passando por reformas para atender a COP30. (…) O principal desafio ainda é aumentar a quantidade de leitos existentes”, informou o presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis do Pará (ABIH-PA), Antônio Santiago, comentando ainda que a sua entidade espera receber 40 mil visitantes a mais na cidade.

 

Santiago detalha que a capital tem atualmente 18 mil leitos de hotel e espera chegar na COP30 com um número entre 45 mil e 50 mil, sendo que uma cama de casal conta como dois leitos. De acordo com ele, com a inauguração dos hotéis, a quantidade de leitos deve chegar a 22 mil.

 

Belém vai ganhar três hotéis de alto padrão, construídos por grupos internacionais para o público A e B. Um deles ficará na área do Porto Futuro II; outro em um antigo prédio que pertencia à Receita Federal; e o terceiro em Castanhal, fora da capital, mas na região metropolitana.

 

ALTERNATIVAS

 

Estão sendo feitas negociações com plataformas virtuais como Airbnb e Booking, para cadastrar imóveis e aumentar a oferta de quartos disponíveis para o período da COP30. Além disso, dois transatlânticos deverão servir como hotéis flutuantes com 5 mil leitos. 17 escolas públicas serão transformadas pelo governo paraense em espécies de hotel temporário.

 

Aproximadamente 2,5 mil pessoas estão empregadas atualmente no setor. De acordo com o presidente da associação, as cidades vizinhas no raio de 150 quilômetros também devem ter procura por quartos de hotéis.

 

“Com tudo isso esperamos chegar a mais 22 mil leitos. (…) Para a COP30, a estimativa é uma contratação de 40% a mais de trabalhadores”, destacou Santiago.

 

224 MILHÕES PARA O SETOR

 

Segundo a secretaria extraordinária para a COP30, R$ 224 milhões foram destinados pela estatal Itaipu para a construção da Vila Líderes, que vai disponibilizar cerca de 500 quartos de padrão cinco estrelas. As acomodações atenderão parte das delegações e, após a realização do evento, o local funcionará como centro administrativo do governo estadual.

 

O governo federal também destinou R$ 100 milhões, por meio do Fundo Geral de Turismo (recursos do Ministério do Turismo), para melhoria da qualidade de hotéis e serviços de turismo. Por sua vez, o governo do Pará informou que incentivou a modernização da rede hoteleira ao isentar o setor de Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) para compras de itens como frigobar, televisão, ar-condicionado e mobiliário.

 

Antônio Santiago, da ABIH-PA, projeta que a realização da COP deixará para a rede hoteleira de Belém o legado de mão de obra mais bem preparada e novos empreendimentos hoteleiros de excelência.

 

AGITO ANTES DA COP30

 

A COP30 será realizada apenas em novembro de 2025, mas Belém e os hotéis da cidade já sentem e experimentam um aumento significativo na movimentação de turistas. De acordo com Santiago, desde o início do ano, a taxa de ocupação da rede hoteleira na cidade passou de 50% para 82%, em média.

 

No último dia 15 de dezembro, o ministro do Turismo, Celso Sabino, esteve no aeroporto de Belém para comemorar o recorde de 3,9 milhões de passageiros em 2024, número cerca de 8% maior que o registrado no mesmo período de 2023.

 

Segundo o ministério, o Aeroporto Internacional a cidade comporta até 7,7 milhões de passageiros por ano, “cenário que, com a realização das adaptações necessárias, atenderá a contento os visitantes de Belém durante a realização da COP30”.

 

LEGADO URBANÍSTICO

 

As atividades principais da COP30 vão ocorrer no Parque da Cidade e no Hangar Centro de Convenções, que são conectados e ficam no bairro Souza, a cerca de 20 minutos de carro do Aeroporto Internacional de Belém. O Parque da Cidade ocupa a área de um antigo aeroporto e ainda está em construção, com cerca de 70% das obras concluídas.

 

Após a realização da conferência, o parque será entregue para uso da população. O projeto final prevê áreas verdes preservadas, lago artificial, instalações esportivas, o museu da aviação, um centro de economia criativa e boulevard gastronômico. O investimento do governo federal para os preparativos da Conferência sobre Mudanças Climáticas beira R$ 4,7 bilhões.

 

As intervenções, feitas em conjunto com as administrações estadual e municipal, são direcionadas para infraestrutura urbana, segurança, sustentabilidade, transporte e mobilidade, como a finalização do BRT Metropolitano (sistema de ônibus rápidos em pistas exclusivas), ampliação de vias e construção de quatro viadutos.

 

A Rua da Marinha, no polígono da COP30, passará de duas para seis faixas de rolamento. “A obra vai beneficiar a população de seis bairros, escoando o tráfego e melhorando a mobilidade”, diz comunicado enviado pelo governo paraense.

 

AVALIAÇÃO

 

A professora Roberta Menezes Rodrigues, da Faculdade da Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Pará (UFPA), considera que todo investimento que a cidade vai receber “tende a ser visto com muito bons olhos”.

 

A avaliação da professora sobre as moradias belenenses é confirmada pelo Censo 2022 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que mostrou Belém como a concentração urbana com a maior proporção de habitantes morando em favelas (57,1%). 

 

Roberta Rodrigues, que participa de uma pesquisa financiada pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) sobre o legado da COP30, considera que ainda é cedo para se ter clareza sobre o tema.

 

“Belém é uma capital, mas é uma cidade que tem déficits enormes de infraestrutura, de qualidade em termos de moradia. É uma cidade da região Norte que sempre foi relegada a segundo plano em termos de investimentos, em especial voltados para área relacionada à infraestrutura urbana”, ressaltou a professora da UFPA.

 

CONTRADIÇÕES

 

A professora reconhece que a cidade ganhará ativos importantes em termos de infraestrutura, locais como o Parque da Cidade e equipamentos culturais. No entanto, ela adverte que algumas iniciativas podem favorecer a valorização imobiliária em determinadas regiões, em vez de beneficiar a população em geral. Em alguns casos, pessoas chegam a enfrentar remoções, diz ela, se referindo a famílias que viviam na Avenida Tamandaré, onde acontecem obras do Parque Linear.

 

“Falar de legado agora, na verdade, é falar sobre dúvidas. (…) Por mais que a gente tenha grandes investimentos acontecendo na cidade, parte deles está presa ainda a uma lógica de investimentos e formas de intervenção desse modelo que a gente está questionando”, complementou a catedrática da UFPA em urbanismo, que já enxerga contradição entre intervenções que estão sendo feitas na cidade e caminhos que deveriam ser seguidos justamente para se obter desenvolvimento ambiental sustentável.

 

“A gente está abrindo mais vias, rodovias, desmatando as poucas áreas verdes que restam na cidade e priorizando, por exemplo, o transporte individual, o carro, em vez de priorizar o transporte público. (…) Belém nunca viu tanto investimento acontecendo ao mesmo tempo. É um tipo de investimento que está bastante ligado à valorização imobiliária”, frisou.

 

LEGADO AMBIENTAL

 

Por outro lado, a professora Lise Vieira da Costa Tupiassu Merlin, do Instituto de Ciências Jurídicas da UFPA, destaca o fato de o evento internacional mais importante sobre meio ambiente ser realizado em uma cidade amazônica. Para a professora, Belém foi uma escolha adequada para exercer esse protagonismo, porque “tem a maior instituição científica da Pan-Amazônia, a UFPA”.

 

Tupiassu Merlin acrescenta que, por outro lado, Belém situa-se no “estado que contém um grande mosaico de conflitos socioambientais, que contribuem para o acirramento das mudanças climáticas”. Ela ressaltou ainda o “conhecimento ancestral” da população local.

 

“Atualmente há um grande déficit de protagonismo amazônico nas discussões climáticas. Em que pese o mundo todo reconhecer a importância da Amazônia para a luta contra as mudanças climáticas, quase sempre as soluções e debates são moldados sem a participação de pessoas da região”

 

Na opinião de Lise, o aumento do protagonismo depende de um posicionamento mais estratégico dos atores locais, “mas também de uma vontade genuína dos demais atores de querer se abrir para uma nova perspectiva de justiça climática””.

 

“A COP30 será, sem dúvida, uma oportunidade para isso, mas ainda há muito trabalho pela frente para que essa oportunidade se reverta em benefícios duradouros para a população”, concluiu.

 

Com informações da Agência Brasil.

  • Compartilhar:

PUBLICIDADE