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Ricardo Barros, que é deputado federal desde 1995, durante pronunciamento na tribuna de honra do plenário da Câmara em 2019. (Foto: Valter Campanato / Agência Brasil)

ENTREVISTA DA SEMANA | SECRETÁRIO DE INDÚSTRIA E COMÉRCIO DO PARANÁ

“A polarização tem dificultado muito que os parlamentares se posicionem a favor do Brasil”, afirma Ricardo Barros

 

De acordo com o ex-líder do governo do ex-presidente Jair Messias Bolsonaro (PSL/PL) na Câmara, o retorno de Donald Trump à Casa Branca pode “ser uma grande oportunidade para o Brasil”.

 

Estas e outras declarações do político paranaense, que atualmente comanda a Secretaria de Indústria e Comércio do Paraná, na gestão do governador Ratinho Jr. (PSD), foram dadas com exclusividade a reportagem dos canais do Grupo RDM.

 

Por Humberto Azevedo

 

“A polarização tem dificultado muito que os parlamentares se posicionem a favor do Brasil”, afirmou, com exclusividade a reportagem dos canais do Grupo RDM, o deputado federal licenciado e atual Secretário de Indústria e Comércio do estado do Paraná, na gestão Ratinho Jr. (PSD), Ricardo Barros (PP-PR).

 

“Infelizmente, a polarização não nos permite manifestar posições que interessem ao país, independente se o governo é do PT ou não é do PT”

 

De acordo com o ex-líder do governo do ex-presidente Jair Messias Bolsonaro (PSL/PL) na Câmara, a partir de agosto de 2020, o retorno do ex-presidente norte-americano Donald Trump à Casa Branca para um segundo mandato na ainda maior economia do mundo, pode “ser uma grande oportunidade para o Brasil”.

 

“Eu posso dizer com segurança para você, vivemos um momento diferente, onde os partidos não têm mais posição”

 

“Independente de como ele vai conduzir, para o bem ou para o mal, qualquer decisão que ele tomar gerará oportunidades para o reposicionamento do Brasil no processo da economia. E é isso que nós temos que saber aproveitar”, comentou Barros – que também foi líder do governo, na Câmara, do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB), e vice-líder do governo da ex-presidenta Dilma Rousseff (PT).

 

“Quem é do Sul-Sudeste está contra o governo, quem é do Norte-Nordeste está a favor do governo. Independente do partido, se o partido tem Ministério ou não”

 

Na conversa com a reportagem dos canais do Grupo RDM, Ricardo Barros falou também da necessidade da atual gestão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), a terceira, ter um “plano do governo” e um direcionamento econômico. Ex-vice-líder do segundo governo Lula, entre os anos de 2007 a 2010, o parlamentar do PP destacou que “essa falta do plano da direção é que faz com que o país não tome as decisões” como, por exemplo, se vai aderir, ou não, de maneira plena à Rota Comercial e Cinturão da Seda do governo chinês.

“Nós precisamos da compreensão dos eleitores de que cada decisão que se toma aqui na Câmara não é a favor ou contra o governo, é a favor ou contra o Brasil”

 

 

LOBBY DOS PNEUS

 

Ricardo Barros afirmou, ainda, de maneira peremptória que enquanto o país não vencer o lobby dos pneus exercido pela Associação Nacional de Importadores de Pneus (ANIP), o Brasil não conseguirá cruzar o seu território com malha ferroviária suficiente para libertar os empresários da “armadilha” armada pelos lobistas da ANIP.

 

“Sete mil quilômetros de costa, 70% da população vivendo na costa brasileira, na beira-mar, e a gente transporta tudo por caminhão”

 

“O pneu no Brasil é mais caro que em qualquer lugar do mundo, o pneu de caminhão. É uma coisa impressionante como o país não consegue se desvencilhar dessa armadilha. Mas os tempos mudam, a gente espera que isso possa acontecer”, afirmou em tom de esperança.

 

“Não se consegue avançar na infraestrutura modal alternativa ao pneu por um lobby muito competente da Associação Nacional de Importadores de Pneus”

 

No exercício do cargo de secretário de Indústria e Comércio do governo Ratinho Jr., Ricardo Barros participa em agosto deste ano de uma cerimônia no Instituto de Tecnologia do Paraná (Tecpar) que assinou o contrato de construção parque da empresa na cidade de Maringá, no Norte paranaense. (Foto: Hedeson Alves / Tecpar)

Estas e outras declarações do político paranaense, concedidas com exclusividade à reportagem dos canais do Grupo RDM, podem ser conferidas na íntegra da entrevista ao qual publicamos agora. Boa leitura!

“O Paraná é o estado que mais cresce no Brasil, é o mais sustentável, o mais inovador. Primeiro lugar no IDEB, é o estado que mais tem se desenvolvido”

 

 

 

 

 

RDM: Deputado, ministro, como o senhor avalia, depois do governo Bolsonaro, essa transição ao governo Lula, já há dois anos decorridos, como o senhor avalia esse período?

Então líder do governo Bolsonaro na Câmara, Ricardo Barros participa de uma agenda no Palácio do Planalto em fevereiro de 2021, que recebeu diversos prefeitos do país. (Foto: Marcelo Camargo / Agência Brasil)

Ricardo Barros: Olha, um período difícil de articulação política. A polarização tem dificultado muito que os parlamentares se posicionem a favor do Brasil. Nós todos estamos no mesmo barco. Todo mundo aqui é brasileiro. Se o Brasil vai bem, todos vamos bem. Se o Brasil vai mal, todos vão mal. Mas, infelizmente, a polarização não nos permite manifestar posições que interessem ao país, independente se o governo é do PT ou não é do PT. Eu fui líder de todos os governos aqui ao longo da história, vice-líder ou líder dos governos, ministro. Então, eu posso dizer com segurança para você, vivemos um momento diferente, onde os partidos não têm mais posição. Quem é do Sul-Sudeste está contra o governo, quem é do Norte-Nordeste está a favor do governo. Independente do partido, se o partido tem Ministério ou não tem Ministério, se está no governo, se está na oposição, ninguém entrega todos os votos. E isso tem causado uma dificuldade de articulação política. Então, a minha visão, o meu pensamento é de que nós devemos avançar. Nós devemos nos posicionar a favor do interesse do país, mas nós precisamos da compreensão dos eleitores de que cada decisão que se toma aqui na Câmara não é a favor ou contra o governo, é a favor ou contra o Brasil.

 

“Do último censo para cá, o Paraná cresceu um milhão de habitantes. Isso é um grande desafio que nós estamos tentando enfrentar com competência para que esse crescimento não gere dificuldades”

 

RDM: E o senhor vê alguma fórmula mágica ou alguma fórmula, por mais complexa que seja, para resolver essa questão?

Ricardo Barros concede coletiva à imprensa, no Palácio do Planalto, representando em novembro de 2021 as pautas do então governo Bolsonaro. (Foto: Antonio Cruz / Agência Brasil)

Ricardo Barros: Não, é que é um momento novo, requer soluções novas. As fórmulas que nós adotamos até então de formação de maioria aqui na Casa não têm prevalecido. Elas não se aplicam para esse novo momento da polarização. Então, também o ativismo político do Judiciário tem prejudicado muito a harmonia que devia haver entre os Três Poderes. Então, nós estamos aqui com novos condicionantes, guerra em Israel, guerra na Ucrânia, na Rússia, afeta aqui a eleição do Trump. Tudo isso afeta o humor da economia mundial e nossa moeda está muito prejudicada com isso, empobrece a todos os brasileiros, aumenta o preço da comida na mesa, o dólar alto. Então, temos bons desafios para enfrentar e para isso nós precisamos de articulação, harmonia, diálogo que a polarização atrapalha que nós possamos implementar.

 

“A infraestrutura é um grande desafio para um país do tamanho do Brasil. Mas o lobby dos importadores de pneus age de forma muito agressiva e tem impedido a cabotagem”

 

RDM: O senhor falou da eleição do Trump. O Trump vai cumprir o segundo mandato agora e com um discurso, com uma nova roupagem, mas parece que é a mesma do primeiro mandato. Só que o mundo não é mais o mesmo, vem avançando. Essa briga dele com a China parece que vai se aprofundar. Como o senhor avalia isso e que mundo é esse e como que o Brasil vai se existir nele?

Ricardo Barros, então líder do governo do ex-presidente Jair Bolsonaro, em reunião tanto Bolsonaro, quanto com o ministro à época que comandava a Secretaria de Governo, general Luiz Eduardo Ramos, em novembro de 2020. (Foto: Divulgação / Secom-PR)

Ricardo Barros: Eu acho que eu gosto da ideia do presidente Trump estar no poder, porque ele tem posição, a gente sabe o que ele vai fazer, não ficamos na indefinição, na indecisão. Então, podemos concordar ou discordar, mas sabemos o que vai acontecer. Eu acho que se ele sobretaxar as importações da China, vai ser uma grande oportunidade para o Brasil. Então, independente de como ele vai conduzir, para o bem ou para o mal, qualquer decisão que ele tomar gerará oportunidades para o reposicionamento do Brasil no processo da economia. E é isso que nós temos que saber aproveitar.

 

“Um momento novo requer soluções novas. As fórmulas que nós adotamos até então de formação de maioria aqui na Casa não têm prevalecido. Elas não se aplicam para esse novo momento da polarização”

 

RDM: O senhor foi reeleito deputado em 2022, mas ocupou o seu mandato por um um pouquinho tempo, para se licenciar e ocupar uma Secretaria importante lá no governo do Ratinho Júnior. Você já está há quase dois anos na Secretaria de Indústria e Comércio do Paraná, como que tem sido a gestão do senhor no governo lá?

Ricardo Barros: Eu estou muito satisfeito. O Paraná é o estado que mais cresce no Brasil, é o mais sustentável, o mais inovador. Primeiro lugar no IDEB [Indíce de Desenvolvimento da Educação Básica], é o estado que mais tem se desenvolvido, mais tem geração de pós-trabalho. Então, na minha área do desenvolvimento econômico, o estado vai muito bem. E em todas as áreas também tem crescido muito a qualidade de vida no Paraná. Então, isso tem atraído muitas pessoas. Do último censo para cá, o Paraná cresceu um milhão de habitantes. Isso é um grande desafio que nós estamos tentando enfrentar com competência para que esse crescimento não gere dificuldades para a gente avançar no estado.

 

RDM: O Paraná é um importante celeiro, tanto de produção de grãos, mas também de rota. Tanto é que tem o segundo maior porto do país, que é o porto de Paranaguá, e tem a rota agora para fazer essa rota entre os oceanos Atlântico e Pacifico, seja pelo Chile e pelos portos da região Sul, assim como interligar via ligação férrea entre a Bahia ao Peru. Agora como fazer isso? Investimentos do Brasil ou serão investimentos da China? Isso vai aumentar o comércio ainda mais entre os dois países. Na última década, o projeto da Ferrovia de Integração Leste Oeste (FIOL), lá no governo Dilma, pouco saiu do papel. Ficaram estacionados. Como fazer isso agora?

Em novembro de 2021, Ricardo Barros subiu à tribuna do plenário da Câmara para se defender das acusações de que teria sido beneficiado de um suposto esquema de propina envolvendo a venda de vacinas no governo Bolsonaro durante a pandemia de covid. Barros foi inocentado no julgamento do Conselho de Ética da Câmara. (Foto: Cleia Viana / Agência Câmara)

Ricardo Barros: A infraestrutura é um grande desafio para um país do tamanho do Brasil. Mas o lobby dos importadores de pneus age de forma muito agressiva e tem impedido a cabotagem. Nós votamos a lei da cabotagem há anos. Não tem cabotagem no Brasil. Sete mil quilômetros de costa, 70% da população vivendo na costa brasileira, na beira-mar, e a gente transporta tudo por caminhão. Não tem ferrovia, não se consegue avançar na infraestrutura modal alternativa ao pneu por um lobby muito competente da ANIP, a Associação Nacional de Importadores de Pneus. O pneu no Brasil é mais caro que em qualquer lugar do mundo, o pneu de caminhão. É uma coisa impressionante como o país não consegue se desvencilhar dessa armadilha. Mas os tempos mudam, a gente espera que isso possa acontecer.

 

RDM: Então, o Paraná tem a Ferropar, não sei se ainda continua.

Ricardo Barros: Ferro-oeste.

 

RDM: Ferroeste, isso. Mas tinha aquele projeto do trem-bala, não é?

Ricardo Barros: Sim.

 

“Eu acho que se ele [Trump] sobretaxar as importações da China, vai ser uma grande oportunidade para o Brasil, independente de como ele vai conduzir, para o bem ou para o mal”

 

RDM: Inicialmente ligaria São Paulo, Rio de Janeiro e tal. A China, em 2008, ela tinha pouca malha ferroviária e quase nenhuma malha ferroviária de trem-bala e passou a cobrir todo o território de lá para cá. A entrada no Brasil da Rota da Seda poderia facilitar isso?

Ricardo Barros, antes de exercer a liderança do governo Bolsonaro, em debate nas comissões temáticas da Câmara dos Deputados, em 2020. (Foto: Pablo Valadares / Agência Câmara)

Ricardo Barros: Para ter um plano ferroviário? Não acredito. O problema aqui não é necessidade, nem capacidade de investimento e nem demanda. Temos tudo isso aqui para ferrovia. Temos dinheiro para fazer, temos interesses da Arábia, da China para garantir a segurança alimentar de lá que financiariam essas infraestruturas. Temos produção para transportar. O problema é o lobby, que funciona de forma irascível no país. Então, as oportunidades estão aí, nós podemos avançar nessas novas infraestruturas alternativas, mas os interesses econômicos contrariados têm prevalecido sobre os interesses econômicos futuros que trazem para o Brasil uma grande vantagem competitiva.

 

RDM: Como vencer esse lobby?

Ricardo Barros: O lobby é o lobby de quem está hoje faturando em cima de uma situação que já existe e que não quer a mudança. E aí patrocina para que não haja nova infraestrutura ferroviária, não funcione a cabotagem e tem tido sucesso, lamentavelmente.

 

“Eu sou parlamentar, eu sou a favor ou contra o governo? Bom, quando você me diz qual é o plano do governo, eu vou dizer se eu sou a favor ou contra”

 

RDM: Com relação ao presidente chinês visitou o Brasil há duas semanas e o Brasil fez novos acordos com a China. 37 novos acordos, sendo o agronegócio 6 acordos diretos, mas o Brasil não aderiu plenamente ao acordo da Rota da Seda. O governo brasileiro estaria temerário em assinar e aderir à rota, como você avalia isso?

Então ministro de Saúde no governo do ex-presidente Michel Temer (MDB), Ricardo Barros participa de cerimônia no Palácio do Planalto, ao lado do então presidente da Câmara – deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ), na entrega da medalha “Ordem do Mérito Médico” a importantes profissionais da área médica que se destacam. (Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom / Agência Brasil)

Ricardo Barros: Olha, o que nós temos no momento é uma dificuldade de direção. A gente, enquanto país, não sabe para onde quer ir. Eu sou parlamentar, eu sou a favor ou contra o governo? Bom, quando você me diz qual é o plano do governo, eu vou dizer se eu sou a favor ou contra, mas qual é o plano do governo? Qual é a direção econômica? Qual é a política de desenvolvimento? Isso não está claro para os brasileiros e nem para o mercado que está reagindo aí especulativamente por falta de clareza dessa direção. Então, essa falta do plano da direção é que faz com que o país não tome as decisões que possam contribuir para andar nessa direção. Quem não sabe para onde quer ir, não tem como ser ajudado.

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