Radicado em Brasília desde 1974, Gilmar Mendes recebe o título de cidadão brasiliense da CLDF
Ministro decano da Suprema Corte agradeceu a honraria que reuniu diversas autoridades e políticos e contou passagens da sua vida na capital federal, desde estudante da UnB a AGU que exerceu durante os governos do ex-presidente FHC.
Por Humberto Azevedo
Radicado em Brasília desde o ano de 1974, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes, de 68 anos, recebeu na manhã desta segunda-feira, 2 de dezembro, o título de cidadão honorário brasiliense da Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF) numa cerimônia que reuniu diversas autoridades e políticos da capital da República.
Quando chamado a discursar, Gilmar Mendes contou várias passagens de sua vida registradas na capital federal, desde à época em que estudou o de Direito na Universidade de Brasília (UnB) até o cargo de advogado-geral da União (AGU), que ocupou durante os governos do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) entre os anos de 1995 a 2002, quando foi indicado, aprovado pelo Senado Federal, nomeado e tomou posse como ministro da mais alta instância do Poder Judiciário.
“Completo 50 anos de Brasília. Portanto, de fato, eu chego aqui em 74. Lá se vão muitos anos de uma vivência extremamente proveitosa e bem sucedida. Agradeço a presença da Guilmar, minha companheira de tantos anos, de meus filhos, Laura”, iniciou o ministro Gilmar Mendes.
“Cumprimento a nossa amiga, amiga de todos, doutora Ludhmila Hajjar, e na sua presença, cumprimentar, talvez, a ciência no Brasil, que cumpriu um papel extremamente importante. Naquele momento desafiador que vivemos em 2020, 2021, um quadro incomparável de uma grave epidemia da Covid”, registrou.
“DREAM TEAM”
Revendo velhos amigos como o ex-ministro Raul Jungmann e o ex-chefe da Receita Federal, Everardo Maciel, Gilmar Mendes lembrou dos companheiros de Esplanada dos Ministérios da gestão do ex-presidente tucano FHC e lembrou àquela geração como um verdadeiro “dream team” – time dos sonhos na tradução literal do inglês para o português, que era encabeçada pelo “rei do futebol” – Edson Arantes do Nascimento (Pelé) – que esteve à frente do Ministério dos Esportes naquele momento.
“Dizer da alegria de estar aqui recebendo essa homenagem e vendo tantos amigos. Aqui eu vejo, por exemplo, colegas de governo, como Everardo Maciel e Raul Jung, do governo Fernando Henrique Cardoso, em que já se vão muitos anos, e a sensação que eu tenho ao vê-los é que a gente tinha naquela época, modéstia às favas, um ‘dream team’. Pois, era realmente um grupo de pessoas muito bem aquinhoadas. Para não deixar dúvidas sobre isso, esse governo teve como ministro, então, Pelé”, rememorou.
“Foi um período de muito aprendizado que marcou muito a minha vida, de 94 para adiante e eu vivi essa realidade e participei, portanto, da consolidação do Plano Real que transforma a vida das pessoas no Brasil. Como nós sabemos, a inflação é o maior problema. Nós vimos uma inflação entre o governo Sarney e Collor, a marca de 84,31%, que era a inflação do mês. Os jovens que estão aqui não têm noção do que isso significava. Então é algo extremamente importante o que se fez e depois toda a sequência de solução de problemas e de consolidação, como, por exemplo, o Proer (Programa de Estímulo à Reestruturação e ao Fortalecimento do Sistema Financeiro Nacional)”, complementou.
TEMPOS DA DITADURA
O ministro do STF contou, ainda, os tempos da ditadura militar que viveu como estudante da UnB, em que morava na recente inaugurada Brasília de seus 15 anos numa pensão na avenida da W3 Norte.
“E depois dentro da universidade, em anos duros também, vocês sabem, 75 a 78, em 77 a universidade foi invadida, o Brasil já falava da transição [para a democracia], mas é um momento muito difícil. Guilmar e eu estávamos na mesma turma, na UnB, tínhamos professores como Carlos Velloso, Moreira Alves, Josaphat Marinho, Flávio Marcílio, do Ceará, presidente da Câmara dos Deputados, em suma, pessoas notáveis. (…) Em suma, pessoas de grande cultura e representatividade. Mas em 1977, por uma manobra esquisita, se engendrou uma forma da polícia entrar para que que um grupo de alunos, hoje a gente diria de direita radical, naquela época não se falava assim, deputado Zeca [Dirceu (PT-PR)], mas diz que o reitor por omissão estava impedindo o funcionamento das salas com a permissão dos piquetes. E um juiz deu um habeas corpus e, com isso, a polícia entrou no campus e nunca mais saiu. E foi um quadro muito impressionante”, contou.
“E a gente ficou, então, sob uma pressão enorme. O Direito normalmente não apoiava a greve, mas ficamos numa situação extremamente difícil. Eu ainda me lembro, nosso prédio, o nosso espaço, não era esse espaço novo, era ainda no Minhocão, o último espaço ali do Minhocão. Eu ainda me lembro que eles estavam na sala de aula quando se escuta um grito de alguém, um grito desesperado. Lembrava uma sonora de ambulância. Era um rapaz que estava sendo acossado pelas forças policiais. Porque eles vinham em dois grupos e fechavam e levavam para a Polícia Federal. E alguém preso, ficava preso, 30 dias incomunicável, independentemente de qualquer coisa. Isso era a Lei de Segurança Nacional”, lembrou.
TEMPOS DE LUTA
Após lembrar os episódios que o marcaram enquanto estudante de Direito da UnB, Gilmar Mendes contou um outro episódio, desta vez, em Curitiba (PR), de quando participou de um fórum da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), em que muitos da advocacia à época não queria nem ouvir falar de instrumentos como estados de Defesa para que o Brasil devolvesse o clima de normalidade cívica aos brasileiros.
“Foi uma cena incrível o que os meus olhos viram. Os advogados não aceitavam discutir isto, não aceitavam. Eles não aceitavam essa discussão e começaram a vaiar. E Raymundo Faoro teve com a sua autoridade de dizer que nós precisamos discutir, porque não haverá abertura [democrática] se não tiver garantias de que haverá Estado de Defesa e Estado de Emergência.