Entrevista da Semana – Ananias Filho, presidente regional do PL de Mato Grosso
“Kassab está orquestrando contra o PL e Jair Bolsonaro”
“PL já tem uma decisão que nós vamos defender o presidente Bolsonaro até o último momento e não acreditamos na prisão dele. Acreditamos que ele recuperará a elegibilidade. O partido não tem um plano B nesse momento”
Por João Orozimbo Negrão
O advogado Ananias filho é presidente regional do PL em Mato Grosso. Conversamos com ele sobre o desempenho do Partido Liberal no estado de Mato Grosso e também no Brasil e a perspectiva do partido para 2026, candidaturas ao governo e para presidente, o futuro do ex-presidente Jair Bolsonaro.
Para Ananias Filho, existe uma orquestração contra o PL e o ex-presidente Jair Bolsonaro feita pelo presidente nacional do PSD, Gilberto Kassab. “Eu vejo um trabalho sendo orquestrado aí. Isso é a opinião pessoal do Ananias Filho. É o presidente do PSD [Gilberto Kassab]. Ele está orquestrando para que possa haver um isolamento do PL em relação à liderança de Jair Bolsonaro. Isso é um pensamento meu”, frisou ele.
Confira os principais trechos da entrevista, cuja integra foi ao ar pela TV RDM, canal do Grupo Rede de Mídias no Youtube (https://www.youtube.com/watch?v=kDIcSb7Phkk):
RDM News – Queria que você analisasse primeiro as eleições em geral em Mato Grosso e o desempenho do PL. Vi os dados e o seu partido, aí em Mato Grosso, saiu de oito prefeitos para 22, aliás um número emblemático, que é o número do PL. Quer dizer, teve um crescimento de 150%.
“Houve uma redefinição da meta de 1.000 para 700 municípios assim que terminaram todas as convenções, porque tínhamos vários municípios em que houveram acordos de deixar de participar na cabeça, sendo vice ou às vezes nem com candidatos em virtude de alguns compromissos já instituídos com outros partidos de direita”
Ananias Filho – Isso mesmo. Saímos de oito para 22 prefeitos em Mato Grosso.
RDM News – Antes de você prosseguir, eu queria trazer um pouco o dado nacional. No plano o PL ficou em quinto lugar em número de prefeituras, elegendo 517 prefeitos, enquanto existia uma estimativa de que o partido elegeria no mínimo 1000 prefeitos. Ou seja, só teve a metade. Explica porque houve essa redução tão grande.
Ananias Filho – Na verdade houve uma redefinição da meta de 1.000 para 700 municípios assim que terminaram todas as convenções. Foi redefinido porque tínhamos vários municípios em que houveram acordos de deixar de participar na cabeça, sendo vice ou às vezes nem com candidatos em virtude de alguns compromissos já instituídos com outros partidos de direita. Foi o arranjo político que levou para diminuir a estimativa de 1.000 para 700. Nós ficamos a quem ainda do planejado que era 700.
RDM News – E qual foi a meta em Mato Grosso?
Ananias Filho – A meta era elegermos 20 prefeitos e 200 vereadores. Ultrapassamos, elegendo 206 vereadores e 22 prefeitos. Nós conseguimos entregar o que foi planejado para o estado de Mato Grosso.
RDM News – Queria que você falasse um pouco sobre a eleição do Abílio Brunini. Pelo que percebi, foi a eleição mais polarizada entre PL e PT em todo o país.
“A disputado do PL com o PT em Cuiabá foi muito bonita e chegamos no final vencedores. Uma vitória que tinha uma simbologia muito grande também para o PL nacional. No primeiro turno o PL estadual tinha feito praticamente todas as cidades maiores e se perdêssemos na capital iria ficar um gosto muito amargo na boca, um gosto muito amargo de fel na boca”
RDM News – Queria que você analisasse como vai ser a participação do PL em 26. O PL, com 22 prefeitos eleitos, ficou em segundo luga
Ananias Filho – Realmente, foi a disputa nacional que aconteceu a nível de Mato Grosso e era uma das disputas mais esperada e mais comentadas até o final da eleição. E o Lúdio [Cabral, candidato do PT] negando, inclusive escondendo a origem dele, que é normal, cada um tem sua estratégia, e nós trabalhando também a figura do presidente Bolsonaro e da Michele Bolsonaro, mostrando que realmente éramos, a determinação do partido de direita, conservador. Então, foi muito bonita a disputa e chegamos no final vencedores. Uma vitória que tinha uma simbologia muito grande também para o PL nacional. Mais para o PL estadual, porque no primeiro turno o PL estadual tinha feito praticamente todas as cidades maiores e se perdêssemos na capital iria ficar um gosto muito amargo na boca, um gosto muito amargo de fel na boca, porque nós não conseguiríamos implantar aquilo que estamos falando de um novo pensamento da direita na capital. Então, graças a Deus conseguimos ter êxito e realmente mostrou que estávamos no caminho certo. Eu acho que, além da ideologia que está se colocando agora, nas discussões de esquerda e de direita, é o conceito do como administrar. E o PL colocou isso em várias cidades, não só de ser de direita, mas tem os conceitos que o Partido Liberal – juntamente, lógico, com o nosso líder político maior, Jair Messias Bolsonaro – quer empregar dentro da administração.
“Com 22 prefeitos o PL passará a administrar 47% da população de Mato Grosso. Isso porque nós elegemos prefeitos das maiores cidades do Estado. Além de Cuiabá, elegemos em Rondonópolis, Várzea Grande, Sinop e outras grandes cidades, enquanto que o União Brasil 60 prefeitos eleitos, mas vai liderar 30% da população de Mato Grosso”
RDM News – Queria que você analisasse como vai ser a participação do PL em 26. O PL, com 22 prefeitos eleitos, ficou em segundo lugar, com cerca de apenas um terço dos 60 prefeitos eleitos pelo União Brasil, que elegeu cerca de 50, 45% dos prefeitos do Estado. Ou seja, o União sai do pleito mais forte que o PL. Até onde sabemos, o União Brasil tem um candidato muito forte, que é o senador Jayme Campos. Mas o PL já está delineando seus candidatos. Por exemplo, o também senador Wellington Fagundes. Mas você mesmo, Ananias, logo ali no dia da comemoração da vitória do Abílio, levantou a possibilidade de que o próprio Abílio possa ser candidato a governador.
Ananias Filho – O Abílio vai completar o ciclo dele de prefeito. Quando ao número de prefeitos, a conta é diferente. Com 22 prefeitos o PL passará a administrar 47% da população de Mato Grosso. Isso porque nós elegemos prefeitos das maiores cidades do Estado. Além de Cuiabá, elegemos em Rondonópolis, Várzea Grande, Sinop e outras grandes cidades, enquanto que o União Brasil 60 prefeitos eleitos, mas vai liderar 30% da população de Mato Grosso. Sobre as candidaturas, nós temos no PL duas pessoas que estão se demonstrando capazes de colocar seus nomes à disposição. Nós temos o senador Wellington Fagundes, que naturalmente é candidato, ele está colocando com naturalidade o nome dele. E temos também o empresário do setor agrícola, o Odílio Balbinotti Filho. Ele também tem capacidade de conduzir o estado. Foi uma pessoa leal ao partido, ajudou nós em vários municípios no estado e também tem uma articulação muito boa em nível nacional, principalmente com lideranças como Eduardo Bolsonaro e com o próprio Jair Messias Bolsonaro. Então, nós temos dois bons nomes para 2026. Mas nós temos também uma aliança com União Brasil e com o Republicanos e temos que sentar à mesa com eles para avançarmos na definição do home. Agora, nós vamos sentar à mesa de forma bem diferenciada. Hoje o PL tem condições de expor o jeito e o conceito que nós queremos empregar para o estado de Mato Grosso. Nós queremos fazer com que as prestações de serviço à população sejam de excelente qualidade. No Estado, nós temos números que realmente mostram que está melhorando cada vez mais, mas nós temos uma deficiência muito grande ainda em infraestrutura em alguns pontos do Estado de Mato Grosso. Mas o PL chega com uma capacidade muito grande, principalmente porque nós temos uma decisão de lançar um candidato a senador da República e uma chapa forte de deputados federais, porque o PL tem esse planejamento e esse planejamento nós vamos colocar à disposição da nacional a todo momento. É isso que nós não vamos deixar de admitir esse novo momento quando se vê que Cláudio Ferreira foi eleito em Rondonópolis; a Flávia Moret, em Várzea Grande; Abílio Brunini na capital; Roberto Dorner, em Sinop; nós tivemos Sergio Machnic em Primavera do Leste, que é a sexta maior cidade de Mato Grosso. Então nós estamos com capacidade de fazer uma grande articulação para as eleições de 2026 e isso ajudar a crescer principalmente o pensamento da direita no estado de Mato Grosso e no Brasil.
RDM News – Eu queria avançar um pouco nessa questão dos nomes para a disputa de 26. Devemos lembrar que há ainda o Otaviano Pivetta, que é do Republicanos, partido aliado do PL, como você lembrou. Até onde sabemos, existe o compromisso do próprio governado Mauro Mendes, que é do União Brasil, com o Pivetta, que é o seu vice-governador. Nesse caso, o Jayme Campos correria por fora. Você acha mesmo que dentro dessa aliança PL-União-Republicanos – só para falar dos partidos mais importantes na composição da aliança dentro do Governo do Estado – sairia um nome fora do PL?
“Nós temos um compromisso da aliança de 2022, agora, lógico que vai ter que ter maturidade todos os presidentes de partido, todos os líderes partidários, porque às vezes também nós vamos chegar no momento que os conceitos que nós vamos levar para mesa, às vezes não querem acompanhar nós. E se não quiserem nos acompanhar em cima dos conceitos nossos preferimos sair até em chapa pura do PL”
Ananias Filho – Não. A minha avaliação é muito clara: nós temos um compromisso da aliança de 2022, agora, lógico que vai ter que ter maturidade todos os presidentes de partido, todos os líderes partidários, porque às vezes também nós vamos chegar no momento que os conceitos que nós vamos levar para mesa, às vezes não querem acompanhar nós. E se não quiserem nos acompanhar em cima dos conceitos nossos – a única coisa que nós vamos fazer aliança é em cima de conceitos – nós não abriremos mão em nenhum município dos conceitos da direita para fazermos aliança. Nós preferimos em muitos lugares sairmos até em chapa pura do PL. Por exemplo, em Várzea Grande o PL é chapa pura. Um município tão grande como Várzea Grande, tivemos prefeita e vice-prefeito do PL, porque os outros partidos não queriam negociar com as situações que nós não abrimos mão. Então, acho que o ponto principal é esse: os partidos não podem mais ficar à mercê de A ou de B, mas, sim, de conceitos e principalmente dos pilares que levam a defender a direita. Eles podem até defender a esquerda, mas fique do outro lado. É normal, eu trato com respeito todos, mas nós temos uma decisão: não abriremos mão desse conceito do PL. Se o União Brasil e o Republicanos quiserem sentar em cima do conceito e ver os nomes e, lógico, com uma pesquisa qualitativa, uma pesquisa que realmente possa interagir com a população pra gente saber a realidade de Mato Grosso. E, a partir também dessa pesquisa, se o nome do PL for melhor, podem ter certeza: nós não iremos abrir mão desse nome. Mas com tranquilidade, com naturalidade. Eu vou defender essa ideia novamente, que nós temos que ter maturidade em todas as cidades, em todos os cantos, para que possamos avançar em todos os estados. Porque o caminho do Brasil é caminhar para a diminuição cada vez mais dos partidos e terem ideologicamente mais alinhados que for de direita para direita que for de esquerda para esquerda.
“O PSD é o partido da boquinha. Ele usou muito bem o governo federal e a estrutura do governo do Estado de São Paulo para fazer esse monte de prefeitura. Mas estamos tranquilos, não tem problema não. Lá na frente é que nós vamos ver quem vai ter mais garrafa vazia para vender. Lembrando que a candidata a vice do Lúdio é do PSD. Aqui em Mato Grosso PSD e PT se confundem. Houve uma decisão do diretório estadual do PL aqui em Mato Grosso: não aceitamos coligação com o PSD
RDM News – Queria avançar com você pra questão nacional. Em âmbito nacional o PL ficou em quinto lugar em número de prefeitura, tendo o PSD sido o grande vencedor nessa questão quantitativa, com 891 prefeituras. Ficou ali quase junto com MDB, que teve 864, e é o partido do prefeito reeleito de São Paulo, Ricardo Nunes. O PSD do Gilberto Kassab, que, aliás, é secretário de Estado do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, que é do Republicanos, que amealhou 444 prefeituras. Alguns analisam que o Tarcísio está se descolando de Bolsonaro e, além disso, já sinalizou que não vai se filiar ao PL. Ressentido com o fraco apoio que teve de Bolsonaro, Nunes, ao comemorar a vitória, agradeceu Tarcísio e até lançou sua candidatura para presidente da República. E do lado do União, temos já praticamente lançada a candidatura do governador de Goiás, Ronaldo Caiado. Toda esta longa premissa para lhe perguntar o seguinte: você não acredita que, em 26, todos esses aliados do PL e de Bolsonaro tendem a deixá-los sozinhos. A propósito, nem sabemos se o ex-presidente vai retomar sua elegibilidade…
Ananias Filho – Olha, eu vejo um trabalho sendo orquestrado aí. Isso é a opinião pessoal do Ananias Filho. Eu acho que quem está “mentorando” essa situação é o presidente do PSD [Gilberto Kassab]. Ele está orquestrando para que possa haver um isolamento do PL em relação à liderança de Jair Bolsonaro. Isso é um pensamento meu. Agora, numa disputa estadualizado e nacionalizada que é a eleição de 2026, eu acho muito difícil eles criarem também condições de querer isolar o PL porque o povo brasileiro não vai deixar. É lógico que tem aí muitas questões municipais, muito localizada, mas a nível nacional a liderança do PL, dos líderes do PL, ainda é muito grande. Então eu acho que eles estão numa tentativa – realmente eu vejo, eu olho eles tentam – de isolar o PL nesse momento. Mas quando eles também não têm um nome nacionalizado – o Caiado já foi uma vez não conseguiu nacionalizar – eles estão tentando o Tarcísio. Não virá para a disputa. O Tarcísio é um nome que poderia fazer a unicidade desses vários partidos, mas vira um balaio de gato depois. Eles não conseguem e o PL vai conseguir ter a unicidade em torno do presidente Jair Bolsonaro ou do seu indicado. Você pode ter certeza: a nível nacional temos duas grandes lideranças, uma da direita, Jair Messias Bolsonaro, e a outra de esquerda, Lula – que também a gente vê ele com esse montes de partidos aí no seu governo. Só o PL que não tem cargo no governo federal e isso é um diferencial. Muitos querem saber disso também. O PSD se transforma no partido da boquinha também, isso não tem nenhuma dúvida. Ele usou muito bem o governo federal e a estrutura do governo do Estado de São Paulo para fazer esse monte de prefeitura. Mas estamos tranquilos, não tem problema não. Lá na frente é que nós vamos ver quem vai ter mais garrafa vazia para vender. Lembrando que a candidata a vice do Lúdio é do PSD, né? Aqui em Mato Grosso PSD e PT se confundem. Tanto é que houve uma decisão do diretório estadual do PL aqui em Mato Grosso: não aceitamos coligação com o PSD também aqui no estado de Mato Grosso.
RDM News – Estamos encaminhando para o encerramento da nossa entrevista e só mais um ponto que eu queria tratar com você. O ex-presidente Jair Bolsonaro está inelegível. E, pelo que tudo indica – pelo menos com as informações que eu disponho -, esse quadro não se reverterá antes de 2030. Outro ponto é a possibilidade da condenação dele pela essa série de acusações que lhe imputam: questão das joias, atos de 8 de janeiro de 23 e outras acusações. Fala-se até na possibilidade de prisão do ex-presidente até o final do ano. Caso se confirme Bolsonaro inelegível e preso, qual seria o nome do PL para disputar a Presidência da República?
Ananias Filho – Primeiro, João, claro o PL já tem uma decisão que nós vamos defender o presidente Bolsonaro até o último momento e não acreditamos na prisão dele, não acreditamos. Agora, já tem uma discussão que haverá uma reversão e teremos a elegibilidade dele. Eu não creio que o os processos contra ele irão avançar tão rápido até a eleição de 2026. Nós estamos torcendo para que não, mas nós vamos respeitar os procedimentos e os processos democráticos. O presidente Jair Bolsonaro tem confiança e convicção que vai estar apto a disputar a eleição em 2026. O partido não tem um plano B nesse momento.