Pauderney Avelino durante discurso no plenário da Câmara realizado no último dia 26 de agosto. (Foto: Mário Agra / Agência Câmara)

ENTREVISTA DA SEMANA | PAUDERNEY AVELINO

“Eu acho que o governo tem que sair do discurso e ir para a ação”, afirma parlamentar amazonense sobre mudanças climáticas e transição energética

 

 

“Não adianta a gente ter o Ministério do Meio Ambiente e uma ministra que fala, fala, fala e não age”, criticou o deputado do União Brasil se referindo a ministra Marina Silva e deputada federal licenciada pela Rede Sustentabilidade.

 

Por Humberto Azevedo

 

De acordo com o deputado do União Brasil, que está no seu sétimo mandato eletivo desde 1991, “não adianta a gente ter o Ministério do Meio Ambiente e uma ministra que fala, fala, fala e não age”. A declaração aconteceu após arguido pela reportagem do portal “RDMNews”, no cafezinho do plenário da Câmara, se o atual quadro de desastre ambiental provocado pelo modelo antropocêntrico inaugurando em 1492 pode ser revertido e evitado a queda no despenhadeiro e de tempos apocalípticos.

 

“O fato é que o União Brasil tem os três ministros e está na base do governo, mas, agora, tem um viés e a sua maioria, acredito, tem opiniões que divergem do governo. Eu entendo que isso é uma questão política normal”

 

Na conversa de mais de 13 minutos que teve com a reportagem, Pauderney Avelino que foi um dos mais calorosos opositores ao primeiro governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), entre 2003 e 2006, e também opositor voraz da gestão da ex-presidenta Dilma Rousseff (PT), que governou o país de 2011 a 2016, confessou que na conjuntura atual da política brasileira – ele e o seu partido são da “base governista”, mas com “um viés” de que a maioria da legenda “tem opiniões que divergem do governo”. “As negociações para a entrada [na base governista] do União Brasil não exigiu a fidelidade do partido”, contou.

 

“As negociações para a entrada do União Brasil não exigiu a fidelidade do partido e questões econômicas, se for para o bem do país, o partido vota”

 

Filiado ao PFL (Partido da Frente Liberal) desde o seu segundo mandato de deputado no longínqua década de 90, partido que mudou de nome para Democratas (DEM), em 2011, e que em 2022, após a fusão com o PSL, que elegeu o ex-presidente Jair Messias Bolsonaro em 2018, se transformou no União Brasil, acredita que o líder da sua agremiação partidária – o deputado Elmar Nascimento (BA) está no páreo para se eleger presidente da Câmara, mesmo com o “revés” do atual presidente da Casa, Arthur Lira (PP-AL), ter fechado apoio a candidatura de Hugo Motta (Republicanos-PB) para a sua sucessão. Além de Elmar Nascimento e Hugo Motta, o líder do PSD – deputado Antonio Brito (BA) – também postula ser o sucessor de Arthur Lira.

 

“Muitos desses focos de incêndio são criminosos, são pessoas que são de fora e que vão para lá para desmatar, queimar, criar pasto, sobretudo, no Sul do estado, mas o que nós vemos é a resposta da natureza”

 

Abaixo, segue a íntegra da entrevista que o parlamentar concedeu com exclusividade ao portal “RDMNews” na data do último 12 de setembro e que publicamos, agora. Boa leitura!

 

“Todos estes estados, antes do Amazonas, desmataram grande percentual das suas florestas, dos seus estados, e isso obviamente uma hora a conta ia chegar. E a conta está chegando!”

 

RDMNews: O União Brasil tem três ministros no governo Lula III, mas o partido aqui no Congresso (Câmara e Senado) se divide muito entre aqueles que são da oposição, outros como o líder Elmar Nascimento gostam de ser chamados de independentes, e têm ainda os que se consideram governistas. Dito isso, qual a sua posição dentro do partido com relação a terceira gestão do presidente Lula? E como você avalia esta situação peculiar do União Brasil e os rumos do governo desde 2023?

Pauderney Avelino quando da votação do parecer do ex-deputado Jovair Arantes (PTB-GO) que recomendava a abertura do processo de impeachment contra a ex-presidente Dilma Rousseff em 17 de abril de 2016. (Foto: Nilson Bastian / Agência Câmara)

Pauderney Avelino: O fato é que o União Brasil tem os três ministros e está na base do governo, mas, agora, tem um viés e a sua maioria, acredito, tem opiniões que divergem do governo. Eu entendo que isso é uma questão política normal. As negociações para a entrada do União Brasil não exigiu a fidelidade do partido e questões econômicas, se for para o bem do país, o partido vota. Agora, eu acredito, aqui, que não esteja incluído neste, digamos assim, o acordo, as questões políticas e ideológicas que o União Brasil defende que conflitam com que, por exemplo, o PT defende. Este é o posicionamento, ao meu ver, do partido.

 

“Nós não podemos, simplesmente, aceitar a inércia como de deixar as coisas acontecer. Precisamos fazer uma política preventiva e essa política preventiva prevê políticas públicas, que venham a atender não apenas a questão do meio ambiente, mas também a geração de postos de serviços, emprego, renda para essas comunidades que vivem no interior da Amazônia”

 

RDMNews: O sr. é do Amazonas, que é um estado símbolo do Brasil lá fora, seja pela imensidão da floresta, seja por conta de toda história também. E nós estamos passando atualmente pela pior seca, desde que se começou a medição há 60 anos, e Manaus, parte do Amazonas e dos povos amazônidas correndo risco ou ficando isolados pela falta da navegabilidade. O rio Madeira, em Porto Velho (RO), também se encontra no nível mais baixo desde que começou a medição, e aí como avalia essas ocorrências, sendo que o estado do Amazonas é um dos estados que mais preservam a floresta?

Pauderney Avelino: Infelizmente, nós temos essa situação, que ao meu ver é deplorável. Muitos desses focos de incêndio são criminosos, são pessoas que são de fora e que vão para lá para desmatar, queimar, criar pasto, sobretudo, no Sul do estado, mas o que nós vemos é a resposta da natureza. E não é só as queimadas no Sul do estado. Outros estados também já desmataram e já queimaram anteriormente. O estado de Mato Grosso, Rondônia, do Acre, o Pará. Todos estes estados, antes do Amazonas, desmataram grande percentual das suas florestas, dos seus estados, e isso obviamente uma hora a conta ia chegar. E a conta está chegando! Redução da umidade por conta da redução da floresta, a redução da umidade do ar e também a redução de chuvas. Eu entendo que isso tudo leva a seca que nós estamos observando agora, que só no estado do Amazonas está atingindo e isolando mais de 300 mil pessoas. Só no estado do Amazonas.

 

“Temos aí a falta de políticas públicas definidoras de como fazer exploração racional na Amazônia e as suas potencialidades. O Brasil precisava sair um pouco do discurso e ir para a prática”

 

RDMNews: Uma tragédia, não?

Pauderney Avelino: Bom, e nós não chegamos ainda, ou pelo menos temos o mês de setembro inteiro e mais o mês de outubro com esta situação. Até que os rios voltem a subir.

 

RDMNews: E como reverter esse quadro, é possível? Ou a gente vai caminhar para o apocalipse?

Pauderney Avelino presidindo sessão solene realizada em 20 de novembro de 2018 quando da homenagem aos 50 anos da criação da Receita Federal do Brasil. (Foto: Will Shutter / Agência Câmara)

Pauderney Avelino: Eu acho que o governo tem que sair do discurso e ir para a ação. Não adianta a gente ter o Ministério do Meio Ambiente e uma ministra que fala, fala, fala e não age. Aliás, o Élio Gaspari [colunista dos jornais Folha de S. Paulo e O Globo] disse que ela está mais para comissão de frente do que diretora de bateria. Então, precisa agir. O governo como um todo precisa agir, o governo como um todo precisa de decisão. Nós não podemos, simplesmente, aceitar a inércia como de deixar as coisas acontecer. Precisamos fazer uma política preventiva e essa política preventiva prevê políticas públicas, que venham a atender não apenas a questão do meio ambiente, mas também a geração de postos de serviços, emprego, renda para essas comunidades que vivem no interior da Amazônia.

 

“Projetos e planejamento nós temos desde essa época aí em que você falou, da época do governo dos militares. Temos muitas propostas. Aliás, temos propostas desde o governo de Getúlio Vargas, que foi o primeiro governo do Brasil a definir políticas de desenvolvimento geográficas para o nosso país”

 

RDMNews: Ainda com relação a essa questão ambiental, a Nasa apresentou um estudo apontando que se não forem alterados os meios e modos de produção atuais, a floresta amazônica e boa parte do território brasileiro, incluindo as áreas de cerrado, vai ficar inabitável em 50 anos. O sr. compartilha esta visão? Isto é um aviso que dá tempo para mudar?

Pauderney Avelino: Olha, eu não tomei conhecimento. Você está dizendo, eu vou acreditar como uma informação verdadeira. Mas eu te garanto uma coisa, a Nasa tem muito mais autoridade e competência para emitir um parecer como esse do que eu. Eu não sou especialista. Então, eu fico com a sua informação do que a Nasa falou. 

 

RDMNews: Agora, conciliando o desenvolvimento com a preservação do meio ambiente, nos anos 70, durante o governo do ex-presidente Ernesto Geisel foi idealizado e realizado o Pró-Álcool pelo cientista José Walter Bautista Vidal dentro do Ministério de Indústria e Comércio, em que atuava o ministro Severo Gomes, eram iniciados os primeiros estudos em torno da biomassa, que previam que a Amazônia tinha e tem um potencial energética a partir da biomassa e isso pouco tem sido explorado de lá para cá. Ao mesmo tempo em que há agora a discussão da exploração petrolífera na foz do rio Amazonas, que é altamente poluente. Dito isso, a gente, enquanto país, não perdeu muito tempo insistindo na matriz energética do petróleo, ao mesmo tempo em que poderíamos estar hoje muito avançados na matriz energética oriundo da biomassa e da biomassa da Amazônia?

Pauderney Avelino durante discurso no plenário da Câmara realizado no dia 16 de fevereiro de 2011, quando então iniciava seu quinto mandato. (Foto: Jorge Serejo / Agência Câmara)

Pauderney Avelino: Então, eu acho que não apenas a questão da biomassa, nós temos hoje e já é uma realidade, a energia eólica, em que quase todo o Nordeste brasileiro tem essa exploração e atinge um percentual bastante significativo da energia gerada no Brasil, também a energia solar com fazendas de geração de energia e até mesmo placas solares sobre lagoas, lagos, onde já temos também um percentual muito grande de geração de energia solar. Eu vejo que, hoje, se não me falha a memória das 47 turbinas da usina hidrelétrica do rio Madeira tem apenas 13 funcionando em razão do volume de água que está muito baixo. E se continuar secando, poderão ser desligadas também. Então, uma situação complicadíssima. Grandes obras têm grandes impactos. Belo Monte teve um impacto muito grande na floresta. A do Madeira, não, porque foi dentro do rio. Agora, nós temos aí a falta de políticas públicas definidoras de como fazer exploração racional na Amazônia e as suas potencialidades. O Brasil precisava sair um pouco do discurso e ir para a prática. Projetos e planejamento nós temos desde essa época aí em que você falou, da época do governo dos militares. Temos muitas propostas. Aliás, temos propostas desde o governo de Getúlio Vargas, que foi o primeiro governo do Brasil a definir políticas de desenvolvimento geográficas para o nosso país.

 

RDMNews: Agora voltando a falar de política, estamos caminhando para o final da gestão do deputado Arthur Lira (PP-AL) a frente da Câmara dos Deputados em que começa a corrida para sucedê-lo. E o seu partido tem um candidato, que é o líder da legenda – deputado Elmar Nascimento – e agora também uma candidatura que surgiu para tentar ser conciliatória e de consenso, mas que não vingou. Tanto que as candidaturas do Elmar, quanto do Antonio Brito permaneceram mesmo com o surgimento da candidatura do Hugo Motta. Como você vê esse quadro e a postura do governo, em que o presidente Lula disse que não irá se meter?

Pauderney Avelino: O meu candidato é o líder do meu partido, o Elmar Nascimento. E ele está trabalhando para se viabilizar. Apesar do revés sofrido com a retirada do apoio do Arthur Lira para a candidatura dele, ele continua trabalhando. Enquanto ele não retirar a candidatura, ele é o meu candidato.

 

RDMNews: Mas você tem uma bola de cristal que vislumbre quem ganhará essa disputa? O Elmar tem chance de ser eleito?

Pauderney Avelino: Se tem chance, ou se não tem chances, daqui a pouco nós vamos nos reunir e conversar sobre esta questão. Então, esta sua pergunta é um tanto prematura e eu só posso responder com segurança e só posso lhe dizer, que ele é o meu candidato.

 

RDMNews: E como avalia o resultado das eleições municipais do seu União Brasil no seu estado, no país? O ex-presidente Jair Messias Bolsonaro está perdendo a força política e eleitoral que teve nas últimas eleições?

Pauderney Avelino: É um jogo que depois de colocado temos que fazer as avaliações todas. Eu não tenho bola de cristal para lhe dizer o que vai acontecer, mas o que eu digo é que há uma polarização e essa polarização continua. Vamos fazer as avaliações após as eleições.

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