ENTREVISTA DA SEMANA | GOVERNADOR DE MATO GROSSO DO SUL
“Estamos atravessando a pior estiagem dos últimos 70 anos”, afirma Eduardo Riedel
De acordo com o tucano que governa o Mato Grosso do Sul desde 2022, “infelizmente os incêndios não são mais exclusividade do Pantanal. Temos feito um grande esforço conjunto para lidar com este desafio, desde o começo da gestão”.
Por Humberto Azevedo
Governo lula: “É uma relação republicana e de respeito mútuo. As divergências políticas existem, mas não impedem que as esferas de governos cumpram seus deveres, pensando primeiro nas suas responsabilidades com a população”
A entrevista da semana deste domingo, 8 de setembro, é com o governador de Mato Grosso do Sul (MS), Eduardo Riedel (PSDB). Na conversa que teve com a reportagem do portal “RDMNews”, o tucano discorreu sobre diversos assuntos. Desde as queimadas que continuam sendo uma realidade em todos os anos, no país, durante os períodos que acontecem regularmente entre o final do inverno e início da primavera, até temas como vem administrando o estado de quase 360 mil quilômetros quadrados com uma população de quase 2,8 milhões habitantes, conforme os dados do último censo demográfico realizado em 2022 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
“Já deixei claro que defendo reforma do sistema eleitoral que ponha fim à reeleição e garanta um mandato de cinco anos ao Executivo. A discussão sobre um eventual segundo mandato virá no momento certo”
De acordo com o tucano, não só o MS, mas todo o Brasil, está atravessando “a pior estiagem dos últimos 70 anos”. Segundo ele, que governa o estado desde 2022, “infelizmente os incêndios não são mais exclusividade do Pantanal”. “Temos feito um grande esforço conjunto para lidar com este desafio, desde o começo da gestão”, ressaltou após ser perguntado sobre quais ações seu governo vem tomando para minimizar, diminuir e até acabar com estes focos de incêndio.
“A expectativa regional é ampliar ainda mais a presença do partido no comando dos municípios e representatividade nas câmaras. No campo nacional é um desafio da direção do partido em retomar um protagonismo que já teve em outros tempos”
Sexto maior estado brasileiro em extensão territorial, MS possui uma densidade demográfica de 7,72 habitantes por quilômetro quadrado. E conforme dados do IBGE, divulgados em 2021, possui um Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) de 0,742 sendo o nono maior entre todas as 27 unidades federativas. O Produto Interno Bruto (PIB) de MS é de R$ 33,15 bilhões de acordo com a apuração do IBGE de 2023 e o rendimento médio mensal domiciliar per capita, também de 2023 apontado pelo IBGE, é de R$ 2.030, tendo o sétimo maior indicador de renda domiciliar do país.
“O PSDB tem que propor um novo caminho: ser liberal na economia, para gerar oportunidades de crescimento; progressista no campo social, para fazer justiça; e aliar responsabilidade à eficiência na gestão”
Eduardo Riedel tem 55 anos e foi eleito governador de MS em 2022 na chapa formada com seu vice, José Carlos Barbosa (PP) – mais conhecido popularmente como “Barbosinha”. Natural do Rio de Janeiro (RJ), é formado em ciências biológicas pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com mestrado em zootecnia pela Universidade Estadual Paulista (Unesp), de Jaboticabal (SP), e especialização em gestão empresarial.
“Sempre em conjunto o ponto de vista econômico com a preservação dos biomas, da biodiversidade, o balanço de carbono, de proteção das águas. Os temas globais giram em torno desses pilares: balanço de carbono, água e biodiversidade”
Em 1995, Riedel se mudou com a família para Maracaju, município a 160 quilômetros da capital sul-mato-grossense Campo Grande e atualmente de quase 50 mil habitantes, quando na oportunidade assumiu a gestão da propriedade rural familiar. Desde então, passou a assumir cargos relacionados à administração. É casado desde 1994 com Mônica Morais com quem tem dois filhos, Marcela e Rafael.
“O combate ao desmatamento ilegal é fundamental para concretizar esses objetivos, assim como o incentivo a uma produção sustentável”
Antes de ingressar na vida partidária, o tucano foi presidente do Sindicato Rural patronal dos proprietários de terra de Maracaju, assim como também já exerceu o cargo de presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Mato Grosso do Sul (Famasul) e vice-presidente da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA). Além das funções ligadas a entidades representativas do agronegócio, Riedel também foi presidente do conselho deliberativo da seccional sul-mato-grossense do Serviço Brasileiro de Apoio às Pequenas e Microempresas (Sebrae).
“Iniciativas que buscam uma atuação em conjunto, entre Estado, produtores e investidores. Estamos cada vez mais atraindo investidores que enxergam o desenvolvimento lado a lado com a sustentabilidade. É um trabalho que não cessa”
Em 2015, no início da gestão do ex-governador Reinaldo Azambuja (PSDB), Riedel assumiu sua primeira função governamental assumindo a Secretaria de Governo e Gestão Estratégica de MS, cargo que ocupou até 2021, quando foi nomeado pelo seu antecessor como presidente do Comitê Gestor do Programa de Saúde e Segurança da Economia (Prosseguir), com a finalidade de centralizar os dados e os indicadores do avanço da pandemia de covid-19 para desenvolver ações mais eficientes ao enfrentamento dos impactos da doença que matou mais de 713 mil brasileiros.
“Fizemos as reformas necessárias, lá atrás e avançamos: agora, evoluímos para posicionar o estado entre os mais baratos do Brasil”
Abaixo, segue a publicação na íntegra da entrevista concedida com exclusividade pelo governador Eduardo Riedel ao portal de notícias “RDMNews”, do grupo RDM.
“O resultado aí está: 50 bilhões em novos negócios acontecendo no estado e quase pleno emprego, com 90% da nossa mão de obra ativa empregada. Na outra ponta, fazemos a nossa parte: transformamos gasto em investimento”
RDMNews: Governador Eduardo Riedel, primeiramente, queremos agradecê-lo por aceitar responder nossa entrevista. Recentemente o ranking de competitividade dos estados, promovido pelo Centro de Liderança Pública (CLP), edição de 2024, analisando os dados fiscais das unidades federativas de 2023, apontou que a sua gestão alcançou o 1º lugar na taxa de investimentos no pilar “solidez fiscal”, além de ser destaque nacional na melhoria da administração pública. Como os seus mandatos obtiveram esses índices? Quais são as fórmulas para o MS ter alcançado esses índices?
Eduardo Riedel: Primeiro agradecer pelo espaço e oportunidade de falar com um público tão qualificado. Costumo dizer que o Mato Grosso do Sul fez a lição de casa, especialmente do ponto de vista fiscal. Fizemos as reformas necessárias, lá atrás e avançamos: agora, evoluímos para posicionar o estado entre os mais baratos do Brasil – que trabalham com menor alíquota de ICMS do país, além de reduzir a carga tributária para diversas cadeias produtivas, com destaque para a isenção total para 24 mil micro e pequenas empresas do nosso estado. O resultado aí está: 50 bilhões em novos negócios acontecendo no estado e quase pleno emprego, com 90% da nossa mão de obra ativa empregada. Na outra ponta, fazemos a nossa parte: transformamos gasto em investimento. Com orgulho, somos hoje e estado brasileiro que mais investe no país – e por isso a evolução em infraestrutura, logística, saneamento básico; nas demandas urbanas dos 79 municípios e, também, nas políticas públicas essenciais. Só pra você ter uma ideia, este ano estamos executando o maior orçamento da nossa história em educação. A nossa crença é a de que, quanto menos oneroso o estado for, mais competitivo será! E quanto mais competitivo, mais gerador de forte crescimento sustentado e sustentável. Quanto mais sustentado, mais capacidade de investimentos tem. Decidimos por este caminho sem abrir mão da responsabilidade.
RDMNews: As queimadas acontecem em todo o território brasileiro nesta época do ano, mas, em particular, tem aumentado significativamente a cada ano no Pantanal. Quais ações seu governo vem tomando para minimizar, diminuir e até acabar com estes focos de incêndio?
Eduardo Riedel: Tivemos em 2020 um ano terrível, de grandes incêndios, que devastaram quase 1/3 do bioma e as condições climáticas são ainda mais severas em 2024, com uma seca história, volume de chuvas abaixo da média e temperaturas extremas, com baixíssima umidade relativa do ar e incidências de ventos fortes na região. É a pior estiagem dos últimos 70 anos, e, infelizmente, os incêndios não são mais exclusividade do Pantanal. Temos feito um grande esforço conjunto para lidar com este desafio, desde o começo da gestão. Destaco a aprovação, no final de 2023, da primeira Lei do Pantanal, construída com a colaboração de todos os atores envolvidos com o bioma. Um grande avanço em todo arcabouço de conservação, proteção, restauração e exploração ecologicamente sustentável em toda Área de Uso Restrito do Pantanal. Sob a coordenação do Corpo de Bombeiros Militares de Mato Grosso do Sul, temos a instalação de 12 bases avançadas em todo território pantaneiro, que dão uma resposta rápida diante da emergência do fogo, e uma ação coordenada que conta com toda nossa estrutura de Bombeiros Militar, PMA (Polícia Militar Ambiental), Defesa Civil, brigadistas do Ibama (PrevFogo), Forças Armadas, Polícia Federal, Polícia Rodoviária Federal, Força Nacional e militares de outros Estado que estão em Mato Grosso do Sul através da LIGABOM (Conselho Nacional dos Corpos de Bombeiros Militares do Brasil), aeronaves do Estado e da União, entre Air Tractors, helicópteros e o cargueiro KC-390 (que lança 12 mil litros de água por sobrevoo), veículos e barcos. Enfim, todo um contingente específico para combaterem os incêndios e garantirem preservação da flora e da fauna, e aqui destacou atuação do Gretape (Grupo de Resgate Técnico Animal Cerrado Pantanal), que é resultado de uma união de esforços envolvendo órgãos governamentais, privados e o terceiro setor, e que direcionam animais resgatados para o ‘Ayty’, o maior hospital veterinário da América Latina no atendimento exclusivo para animais silvestres, com estrutura completa de centro cirúrgico, exames de imagens, laboratórios, áreas específicas para recuperação e de quarentena para aves, mamíferos e répteis.
RDMNews: O Brasil e o mundo estão passando por alterações climáticas profundas. Como gestor de um importante estado brasileiro, quais as iniciativas que seu mandato toma para dirimir as consequências?
Eduardo Riedel: São inúmeras iniciativas, desde novas legislações construídas em conjunto com ONGs, setor produtivo e órgãos de proteção ambiental, como é o caso da Lei do Pantanal, até o incentivo da produção sustentável. Fomos o segundo estado brasileiro a concluir o inventário dos gases de efeito estufa e organizamos um extenso plano de trabalho estratégico, com o objetivo de nos tornarmos um Estado Carbono Neutro até 2030, dentro do Plano Estadual MS Carbono Neutro, o Proclima. Em 2022 instalamos no Estado um Fórum de Mudanças Climáticas e ainda há projetos como o Manancial Sustentável, ações de logística reversa, de manejo integrado do fogo, grandes programas inovadores de produção orgânica e já somos o estado com a maior área integrada entre lavoura, floresta e pecuária no país. São iniciativas que buscam uma atuação em conjunto, entre Estado, produtores e investidores. Estamos cada vez mais atraindo investidores que enxergam o desenvolvimento lado a lado com a sustentabilidade. É um trabalho que não cessa – é feito todos os dias, cuja equação é preservação e desenvolvimento caminhando juntas. Um fruto dessa inovação, por exemplo é Carbon Control, um sistema nosso lançado por nós durante a COP28 em dezembro do ano passado. São avanços importantes.
RDMNews: A cada ano as temperaturas no planeta têm se elevado mais, e já se fala em um ponto de não-retorno, o que colocará a vida da Humanidade em risco. O que fazer para que não cheguemos a este cenário?
Eduardo Riedel: Essas ações que citei anteriormente estão em curso para evitar este cenário. A sustentabilidade e responsabilidade ambiental estão na base do desenvolvimento de Mato Grosso do Sul, da nossa estratégia de Estado, discutindo sempre em conjunto o ponto de vista econômico com a preservação dos biomas, da biodiversidade, o balanço de carbono, de proteção das águas. Os temas globais giram em torno desses pilares: balanço de carbono, água e biodiversidade. O combate ao desmatamento ilegal é fundamental para concretizar esses objetivos, assim como o incentivo a uma produção sustentável. Vou dar como exemplo o Vale da Celulose, na região leste de Mato Grosso do Sul, onde milhões de hectares recebem florestas plantadas. Essas florestas retêm carbono e auxiliam no controle das emissões de carbono. Outra ação fundamental é a posição que Mato Grosso do Sul vem construindo na transição energética, com atração de empreendimentos de biogás e biometano altamente sustentáveis e que vão ao encontro dessa necessidade de continuar fornecendo energia, mas preservando o meio ambiente.
RDMNews: O senhor foi eleito em 2022 pelo PSDB para suceder o ex-governador Reinaldo Azambuja, também do PSDB. Como avalia o atual quadro em que o PSDB perdeu a hegemonia da polarização com o PT para o campo hoje chamado popularmente de bolsonarista? O PSDB pode voltar a curto, médio e a longo prazo ser aquilo que ele já foi nas décadas de 90, 2000 e 2010?
Eduardo Riedel: Tenho dito que o partido precisa se reinventar e mudar a agenda de polarização da política que tem marcado a discussão nos últimos anos. O PSDB tem trabalhado para encontrar um novo e eficaz caminho para ter um diálogo franco e efetivo com toda sociedade, em seus mais diferentes aspectos. E podemos ter um papel importante neste novo momento, trazendo lideranças para formar uma nova força política de centro ou centro-direita. Outro fator que precisa ser levado em consideração é a necessidade do PSDB, e outros partidos com representatividade histórica e nacional, em formar lideranças que tenham uma nova agenda de Brasil, com uma visão liberal da economia, responsabilidade fiscal, o entendimento da importância de políticas públicas na questão social e ambiental. O PSDB tem que propor um novo caminho: ser liberal na economia, para gerar oportunidades de crescimento; progressista no campo social, para fazer justiça; e aliar responsabilidade à eficiência na gestão de políticas públicas transformadoras, capazes de mudar para melhor a vida dos brasileiros.
RDMNews: A propósito, como o senhor avalia o governo Lula? Qual a relação do seu governo com o executivo federal e como é a relação do senhor com o presidente da República?
Eduardo Riedel: É uma relação republicana e de respeito mútuo. As divergências políticas existem, mas não impedem que as esferas de governos cumpram seus deveres, pensando primeiro nas suas responsabilidades com a população. Temos dialogado e nos esforçado para apresentar ao governo federal projetos de alta qualidade técnica, que geram importantes resultados para o estado, mas também para o país. É a mesma lógica que nos guia para atender os municípios que são governados por gestores que, no campo político, fazem oposição ao nosso governo. Antes de tudo, a gente tem que pensar na população.
RDMNews: Qual é a expectativa e a perspectiva do senhor e de seu partido, tanto nacional, quanto em Mato Grosso do Sul, para estas eleições municipais que acontecerão logo mais em outubro?
Eduardo Riedel: O PSDB em Mato Grosso do Sul é hoje o partido de maior relevância, com maior número de prefeitos e uma bancada de vereadores extremamente representativa. A expectativa regional é ampliar ainda mais a presença do partido no comando dos municípios e representatividade nas câmaras. No campo nacional é um desafio da direção do partido em retomar um protagonismo que já teve em outros tempos.
RDMNews: O senhor buscará a reeleição em 2026? Pode antecipar se será candidato nas próximas eleições gerais? E como avalia a candidatura do seu correligionário Beto Pereira para a prefeitura de Campo Grande?
Eduardo Riedel: A candidatura do Beto avança muito bem, porque está baseada em propostas e na disposição de enfrentar e vencer problemas muito antigos que persistem e impedem o desenvolvimento da capital. Do ponto de vista do estado, posso lhe garantir que mantenho intocada minha convicção de governar, o tempo todo, com o nosso plano de governo sobre a mesa, sinalizando a busca obsessiva por cumprir, um a um, todos os compromissos que assumi com a população para esse mandato. Já deixei claro que defendo reforma do sistema eleitoral que ponha fim à reeleição e garanta um mandato de cinco anos ao Executivo. A discussão sobre um eventual segundo mandato virá no momento certo. Agora, nossa agenda é de trabalho no Estado. Temos muito o que fazer.