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Getúlio Vargas na foto da perfuração do primeiro poço de petróleo no Brasil, com a mão suja de óleo e que se tornou símbolo da campanha “O petróleo é nosso” que tomava conta dos debates nos anos 30, 40 e 50. (Foto: Divulgação / Petrobrás)

Há 70 anos, suícidio de Getúlio Vargas comovia o país, sustando a tomada do poder pelos militares em dez anos

Considerado o maior e mais longevo presidente da história do Brasil por diferentes correntes ideológicas, Getúlio Dornelles Vargas esteve à frente do país de outubro de 1930 a outubro de 1945 no comando de três governos; e entre 1951 a 1954, quando governou o Brasil após eleito em 1950.

 

Por Humberto Azevedo

 

Há 70 anos o suícidio cometido pelo então presidente do Brasil na data de 24 de agosto de 1954, Getúlio Vargas (PTB), comovia o país, sustando a tomada do poder pelos militares em dez anos. O suicídio de Vargas é até hoje motivo de controvérsias entre análises que vão desde a depressão que o então presidente poderia estar atravessando, até como jogada política que teria evitado seus adversários terem tomado o poder com a sua morte.

 

A análise de que o golpe cívico-militar que instalou o regime ditatorial entre os anos de 1964 a 1985 poderia ter acontecido já em 1954 é compartilhada tanto pelo historiador Antonio Barbosa da Universidade de Brasília (UnB) e do Instituto Legislativo Brasileiro (ILB), quanto pelo biógrafo do ex-presidente, o jornalista cearense Lira Neto.

 

A declaração de Antonio Barbosa concedida à Agência Senado em 2014 afirma que “os adversários de Getúlio, então, perderam as forças para tomar o poder. O golpe teve de ser abortado. A ditadura militar só seria imposta dez anos mais tarde”. “Getúlio sabia que haveria um golpe para depô-lo. Na última reunião que fez com o ministério, pouquíssimas pessoas ficaram do seu lado. Já idoso [tinha 72 anos] e experiente das lutas políticas, Getúlio sentiu que o cerco havia se fechado e preferiu o gesto dramático do suicídio. Foi, na minha avaliação, o gesto mais inteligente que poderia ter feito”, complementou.

 

No mesmo sentido, o texto elaborado pela jornalista e coordenadora de projetos do Centro de Memória Sindical, Carolina Maria Ruy, após ouvir diversos pesquisadores, resume: “O povo, então, tomou as ruas do Brasil manifestando pesar pela morte do presidente e indignação e revolta contra seus adversários. O cenário transformara-se completamente. O clima para a deflagração do golpe, que antes fervilhava na alta cúpula, esfriara por completo. Muitos historiadores afirmam que o suicídio de Getúlio Vargas adiou um golpe militar que pretendia depô-lo”.

 

Nas consequências do que se viu após o suicídio de Vargas, Carolina Maria Ruy completa: “e ainda, na esteira de sua popularidade foi possível eleger os presidentes Juscelino Kubitschek (1955) e João Goulart”, vice-presidente eleito tanto em 1955, quanto na eleição de 1960 que elegeu como o presidente o candidato apoiado pela União Democrática Nacional (UDN), que era o pricipal grupo adversário de Getúlio.

 

Para lembrar os 70 anos da data, a Associação Brasileira de Imprensa (ABI) promoveu nesta última sexta-feira, 23 de agosto, em sua sede no Rio de Janeiro (RJ) um ato pelos 70 anos da morte de Getúlio Vargas intitulado “o legado de Vargas – o estadista que plantou as raízes do desenvolvimento e da soberania nacional”. Na oportunidade, o presidente da Associação dos Engenheiros da Petrobrás (Aepet), Felipe Coutinho, destacou a importância para os dias atuais da obra “A História da Petrobrás”, de autoria do jornalista José Augusto Ribeiro, editado e publicado pela associação presidida por ele.

 

“José Augusto traz detalhes sobre passagens memoráveis que revelam a estatura política do presidente Getúlio Vargas, o maior estadista da nossa história, que entregou a própria vida pela criação da Petrobrás e por amor ao Brasil e ao seu povo, em especial aos trabalhadores brasileiros. O legado de Getúlio e do tenentismo trouxe a industrialização e o desenvolvimento ao Brasil, para se tornar uma das maiores economias do mundo, com capacidade de encontrar, produzir, refinar, distribuir e agregar valor ao seu petróleo e gás natural, produzindo combustíveis de alta qualidade, com tecnologias e projetos nacionais”, frisou Coutinho repetindo um trecho do texto que ele publicou no prefácio da obra.

 

A íntegra do livro “A História da Petrobrás” pode ser adquirida e lida, clicando neste link para acessar a versão em PDF da obra.

 

FOTO SÍMBOLO

 

Em reportagem assinada pelo jornalista Aécio Amado e publicada na data de 21 de abril de 2006, pela Agência Brasil, o então repórter do veículo público de propriedade da União, contou a história da foto que mostrava as mãos de Getúlio sujas pelo óleo extraído do primeiro poço de petróleo descoberto e colocado em atividade no país.

 

“Ela foi tirada em 1952, um ano antes do presidente Vargas promulgar a lei de criação da Petrobrás. A foto voltou a ser estampada em peças de publicidade em diversas cidades do país, nas comemorações dos 50 anos da empresa. A foto do [então] presidente da República com uma das mãos escorrendo óleo foi mais que um golpe de sorte do então fotógrafo oficial [de] Getúlio Vargas, Renato Pinheiro”, conta a matéria da Agência Brasil.

 

“Há no flagrante uma história de astúcia do jovem fotógrafo, de 27 anos, que três anos antes havia deixado a pequena Aracaju, capital do estado de Sergipe, para trabalhar no Rio de Janeiro, então sede do governo federal. Havia fotógrafos de vários jornais do país na cobertura da visita presidencial a um poço de petróleo, no município de Candeias, na Bahia. O presidente Vargas e membros da comitiva prestavam atenção nas explicações técnicas sobre o poço, dadas pelo engenheiro responsável (geólogo Pedro de Moura). Ao final, os fotógrafos pediram ao presidente Vargas que pousasse cumprimentando o engenheiro”, continua o texto da Agência Brasil.

 

“’Naquele instante pensei que, se esperasse mais um pouco, poderia fazer algo diferente’. E foi o que aconteceu. Terminado o cumprimento, o engenheiro mostrou um capacete melado de óleo, e pediu ao presidente da República que sentisse nos dedos a viscosidade do petróleo. Naquele momento, segundo Renato Pinheiro, enquanto os outros fotógrafos trocavam as chapas de suas máquinas, sugeriu ao presidente Vargas que mostrasse a mão suja de óleo. E com a sua Speed Graphic (máquina fotográfica de fabricação nos Estados Unidos da América) fez a foto que virou símbolo”, completa a reportagem da Agência Brasil publicada em 2006.

 

Com informações da Aepet, da Agência Brasil, Agência Senador e Centro de Memória Sindical.

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